Batchart, o Rei que se identificou com o enredo do Monte Sossego

Batchart, o Rei que se identificou com o enredo do Monte Sossego

Em entrevista ao Balai, o rapper, que faz a sua estreia no Carnaval do Mindelo, diz que graças a experiência de acompanhar os preparativos passou a entender a plenitude do Carnaval e a respeitar a dimensão do evento.
João Brito e Batchart

Apesar de ser um mindelense de gema, Edson Silva, mais conhecido como Batchart, nunca teve uma paixão pelo Carnaval ao contrário de grande parte dos que residem em São Vicente. Este ano, o rapper e ativista social foi desafiado a ser o Rei do grupo Monte Sossego, “Montsú”, e vivenciar de perto essa experiência.

“O convite para ser Rei veio do meu grande amigo João Brito que é um dos carnavalescos do Monte Sossego e um dos responsáveis pelo enredo. (…) Depois, na figura do presidente, que me lançou o desafio. Já conhecia o enredo no seu esqueleto e vi que era algo que de facto me identificava porque é um enredo reivindicativo e que tem uma cara de hip hop. (…) Então aceitei o convite”, diz em entrevista exclusiva ao Balai.

O grupo, que foi campeão do Carnaval do Mindelo 2020, vai desfilar com o enredo inspirado no poema do malogrado Onésimo Silveira, “O povo das ilhas ainda quer um poema diferente para o povo das ilhas”. Montsú pretende levar cerca de 1500 foliões para a Rua de Lisboa.

A experiência está a ser um grande aprendizado para o rapper de 36 anos que está a acompanhar os preparativos nos estaleiros antes do desfile do grupo.

“Temos uma ilusão que o Carnaval se resume a umas horas de desfile, mas conviver de perto com todas as pessoas que fazem as criações nos ateliês é algo incrível. É uma escola de arte porque há diferentes profissionais a construir algo que lhes exige expertise das suas áreas. Está a ser um grande aprendizado para mim como artista porque é uma manifestação artística que tem mais a ver comigo do que tinha ideia.”

Participar dos preparativos fez Batchart respeitar ainda mais o Carnaval. “O que aprendi nesses últimos tempos graças ao convívio com as pessoas que fazem parte do Carnaval é entender a sua plenitude e respeitar a sua dimensão, porque não se consegue estar perto de pessoas que são extremamente apaixonadas pelo Carnaval, a ver os bastidores, as criações e não admirar o que está por detrás. (…) É quase como fazer uma música, há muitas similitudes e elementos que podes comparar e criar um paralelo. Para mim, tudo isso tem sido uma experiência e uma oportunidade de aprender. Já fui várias vezes ao estaleiro acompanhar todo o processo. Ver a montagem dos andores, ver o esqueleto apenas com papelão e depois vê-lo pintado são duas coisas completamente diferentes. E só assim é que respeitas a plenitude do Carnaval.”

Segundo o rapper, o Carnaval de São Vicente tem tido uma dimensão nesses últimos anos.

“Este ano vai ser especial porque o povo do Mindelo e os grupos fizeram um investimento para o desenvolvimento da festa do Rei Momo. Talvez esse ano vamos ter na prática o resultado desse investimento que foi feito nesses últimos anos na qualidade do entrudo. Acho que o Carnaval é uma indústria que está a gerar postos de trabalho e que pode gerar ainda mais. Podemos vendê-lo lá fora como um produto turístico. (…) A partir desse momento acredito que estamos prontos para fazê-lo. Tudo o resto que rodeia o Carnaval tem que acompanhar esse movimento, senão não vai dar em nada.”

O desfile desta terça-feira, 21, arranca no Mindelo por volta das 18h30 com o Flores do Mindelo, seguido do Estrela do Mar às 19h00, Cruzeiros do Norte às 19h30 e Monte Sossego desfila às 20h00.

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Por Aline Oliveira

Jornalista e editora de conteúdos do portal Balai Cabo Verde. Contacto: aline.oliveira@balai.cv