Elida Almeida: “Os meus discos sempre falam um pouco de mim, da minha infância, lembranças e relações com outras pessoas”

“Di Lonji”, o quarto álbum de estúdio da cantora Elida Almeida, já está disponível ao público. O trabalho retrata o percurso na música, desde o momento que tocou o coração dos cabo-verdianos com a canção “Nta Konsigui” em 2014.

Elida Almeida lança nesta sexta-feira, dia 27 de janeiro, o álbum “Di Lonji” que contém 14 faixas, entre elas Dondona e Bedjera, dois singles já disponibilizados ao público. O trabalho é um retrato dos obstáculos que enfrentou durante os 8 anos de carreira e de momentos que viveu nas ilhas de Cabo Verde, revelou a cantora durante uma entrevista ao Balai.

Entre os temas que compõem o disco, a cantora afirmou que não tem uma música favorita, apesar dos seus olhos sempre brilharem quando fala da música “Djarmai”.

Para Elida Almeida, o Maio é a sua segunda casa, por ter passado na ilha momentos marcantes da sua adolescência como a sua primeira deceção amorosa, os retiros, o coro da Igreja, que a fazem lembrar com tanto carinho e sentir um clima de paz sempre que visita a ilha. Nem tudo foi um mar de rosas, pois quando tinha 16 anos descobriu que estava grávida, uma gravidez não planeada, mas que trouxe a maior alegria da artista – o único filho.

“Bedjera”, o segundo single lançado, é uma faixa dançante que convida a um passeio pelo alto das rochas em busca de mel, num refrão que chama a todos para essa festa: “djunta tudu mininu dretu ti kes trakinuz pa nu bai korri tras di bedjera”.

Outra música do álbum é “Morabeza” que transmite uma experiência de degustação dos sabores de cada ilha do país. Para a cantora este quarto álbum é a realização de um sonho que era compor uma faixa que falasse das nove ilhas habitadas do arquipélago.

Uma realidade totalmente diferente das festas e lembranças passa a música “Mexem” que foi inspirada em fatos reais de um caso de abuso sexual seguido de homicídio de uma adolescente, crime cometido pelo padrasto. Embora a vítima tenha pedido ajuda à mãe, a progenitora não pôde ajudá-la. “El kumesa ta mexem desdi piquinoti”, diz a letra do tema que fala de uma realidade traumática que ainda acontece de São Antão a Brava.

Elida Almeida distingue “Di Lonji” de “Ora Doci ora Margos”, que era um projeto mais biográfico, mas salienta os álbuns retratam um pouco da sua história: “Os meus discos sempre falam um pouco de mim, da minha infância, lembranças e relações com outras pessoas”.

O álbum aposta em Funaná, Tabanka e Batuku trazendo faixas que marcam sempre o trabalho melódico e harmónico dessa voz cabo-verdiana. Entretanto, a artista deixa em aberto quanto aos novos géneros que deseja explorar. A mesma considera que é uma cantora que segue vários ritmos e que pode adotar novos se surgirem. Caracteriza-se como uma pessoa que navega nas ondas e está sempre recetiva a novas sonoridades. Por ouvir muita música a artista explica que os cantores africanos foram cruciais para o álbum, uma grande fonte de inspiração.

“Desta vez a produção do disco teve um sabor diferente”, salienta, acrescentando que viveu durante três semanas numa casa em São Vicente junto com os produtores Momo Wang e Hernani Almeida. O produtor José “Djô” da Silva visitava a casa ao final do dia para ver o trabalho já feito, o que demonstra o trabalho de equipa para o álbum, segundo Elida. O som das ondas e a vista para o mar permitiram uma escrita mais leve e o arranjo da música Donu di Mundu, uma faixa escrita durante a pandemia para falar da igualdade que todos os homens viveram perante a doença, revela.

A cantora considera que o caminho ainda é longo e o percurso acabou de começar. A experiência de voltar aos palcos vai permitir um melhor aperfeiçoamento das suas performances e ser uma cantora com um estilo mais maduro. Aconselha aos novos artistas cabo-verdianos a estarem rodeados de pessoas que gostam e desejam o melhor para as suas carreiras. “Quando um artista não é criticado perde a oportunidade de mudar, de fazer coisas diferentes ter outro alcance nas metas e objetivos que tem”.

O quarto álbum de estúdio “Di Lonji” será apresentado a 11 de fevereiro em Paris, França, na sala Pan Piper e em Portugal no dia 25 março. Esses dois shows serão momentos especiais para a artista que se vai apresentar num palco de Paris, onde recebeu o Prémio Descoberta RFI 2015 e, em Portugal, para a sua família e amigos residentes em Lisboa. Os espetáculos reservam momentos musicais com outros artistas.

Já em Cabo Verde a apresentação do disco será na Praia, em Mindelo e na ilha de Santo Antão também em março. A artista recorda com apreço os shows já feitos no país, onde os cabo-verdianos sempre conhecem a letra das músicas e espera voltar aos palcos para cantar e receber a mesma energia.

A artista que agora já conhece todo o país destaca que todas as ilhas têm os seus encantos e particularidades, e que é muito grata pelo acolhimento e apoio das pessoas ao seu trabalho. “O que faz Cabo Verde ser mais bonito é a sua versatilidade e pontos turísticos diferentes”, sublinha.

Celine Salvador/ estagiária

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