

À semelhança do primeiro dia do Festival da Gamboa, a noite de sábado, dia 20, abriu com um atraso de uma hora e começou às 21h00, mais cedo do que na sexta-feira, e teve direito a atuações cronometradas em palco. Afinal foi preciso arranjar tempo para 16 apresentações.
O primeiro a subir ao palco do dia 20 foi o grupo Djunta Mon que não estava no alinhamento e que se apresentou pela primeira vez no festival para um público ainda reduzido.
“Para nós a música é algo que vem de dentro, conseguimos fazer tanto com muito público como com pouco”, afirmou no final Renato Carvalho, representante do grupo. Com mais de 26 anos na estrada, o grupo tem marcado presença em alguns festivais nacionais, e agora foi a vez do Gamboa. O responsável do grupo acredita que o festival é uma boa plataforma de visibilidade para a banda e aproveitou para elogiar a escolha dos artistas e géneros para o evento que acabaram por proporcionar aos presentes uma fusão entre o tradicional e o moderno como uma “salada russa”.
Renato Carvalho espera que este seja o primeiro de muitos, apesar do grupo não ter trabalhos lançados nas plataformas musicais este é um desejo do grupo. Esperam conseguir mais patrocínios para alcançar esta ambição.
Poucos minutos depois foi a vez do grupo praiense Varanda animar a noite. O grupo que tocou vários de seus funanás, entre eles “Rincón” e “Nha Noiva”, surgiu de forma informal desde 2005, conta o vocalista António Varela, quando um irmão comprou uma gaita e começaram na varanda de casa, no bairro do Castelão, a compor temas. Já a música “Rincón” retrata a história desta localidade em Santa Catarina onde em 1986 um grupo de pescadores encontrou um bidão com metanol no mar e cujo conteúdo foi ingerido pelas pessoas resultando na morte de 8 pessoas.
Para António Varela, o tempo foi curto mas a energia do povo foi “boa”. Para breve está o lançamento do quinto single do grupo em junho. O grupo almeja lançar um álbum com nove faixas, mas a falta de patrocínio tem dificultado a realização deste projeto.
Foi ao som de “Praia Maria” que os Ferro Gaita começaram por aquecer o público. O grupo fez o público vibrar e a cantar temas tradicionais da banda. É claro que não podia faltar a história de Siza, “Mudjer Trabadjadera”.
No final, Bino Branco não se mostrou dececionado com a troca de dias, já que a banda era suposto fechar o evento de ontem, dia 20. “Para nós é indiferente, primeiros ou últimos, estamos tranquilos”.
O grupo que já tem mais de 27 anos de estrada mostrou-se grato por todo o carinho e atenção que tem recebido e Bino revelou que em breve vão disponibilizar dois singles e mais colaborações.
A banda aproveitou a atuação para homenagear o amigo Zé Mário dos Bulimundo, falecido recentemente. “É doloroso, era um bom músico e trabalhou connosco durante vários anos”, lamentou o artista que preferiu não se pronunciar se a homenagem desta edição foi justa ou não.
Natural do Djarfogo, o cantor Kinzim entrou em palco a cantar “Bonitona” e o público dançou e cantou. Continuando na vibe romântica Kinzim cantou temas como “Ku bo te fim”, “Se k abo é kenha”.
“Foi excelente, foi além do que eu esperava”, afirmou o cantor que atua pela primeira vez no Gamboa e promete nas próximas oportunidades entregar atuações melhores. Para dezembro deste ano, Kinzim anunciou o álbum “Seven Months”, numa alusão ao seu próprio nascimento de sete meses e revelou que o projeto conta com uma parceria com o Ricky Boy.
O jovem Ruben Teixeira marcou presença no festival da cidade que o viu nascer e abriu o palco exaltando a sua “Badia de Fora”. O instrumental começou lento e aos poucos o público já cantava temas como “Kriola”, “Nha baixinha”, “Sónia”. Em palco, Ruben contou com a participação de Christian Mendez.
“É a minha primeira vez. Graças a Deus o meu trabalho tem ido bem e tenho colhido frutos do trabalho que tenho feito durante anos ”, regozijou-se o artista. Segundo o cantor o seu último lançamento “Vivi Sabi” foge aos temas que tem lançando, como forma de mostrar que não se limita a um género e quer atingir novos públicos.
“Vou continuar a minha versatilidade, que é uma característica que acredito que todo o artista deve ter”, destacou. O artista não quis revelar muito sobre os planos para este ano, só reafirma que está a finalizar o álbum e que o projeto tem colaborações inéditas.
Com uma rapsódia de funaná e outros ritmos, Grace Évora subiu ao palco que já conhece bem. Durante a atuação, cantou também temas mais românticos como “Rendez vous”, “Ramed d’amor” e “Lolita”. Durante a sua atuação homenageou bandas como Bulimundo, Os Tubarões, Rabelados e Splash que marcaram o seu percurso.
Em declarações aos jornalistas, o músico destacou que é um sentimento de “grande prazer e gratidão” regressar ao palco de Gamboa e deixou um conselho à organização.
“O Gamboa é um palco de bastante prestígio, nem toda a gente pode pisar um palco como este só por causa de uma música boa. Tem que ter uma bagagem e uma história por detrás, temos que ter cuidado com quem sobe no palco”, afirmou o artista que salientou que o festival tem de continuar a apostar na qualidade. Grace Évora revelou ainda que vai anunciar para breve novas músicas para os próximos meses.
O artista Nana Almeida acompanhou Grace Évora em palco e sublinhou que esta foi uma ótima oportunidade e que é sempre “uma honra e felicidade” estar com o seu ídolo.
Por volta da uma da manhã, os presentes munidos de cartazes gritavam por Tony Fika que pode ser considerada uma das atuações mais aguardadas da noite. “Nka ta skeci di bo” foi entoada com todo o entusiasmo pelos presentes e foi assim até ao final do show como outros temas como “Bu Muda” e “Imagina”.
Para o cantor, o regresso ao Gamboa foi uma experiência sem igual. “Espetacular, a forma como o público vibrou até o final do show. Estou sem palavras”. O músico sublinhou que sente o que o público quer por isso vai escolhendo por vezes temas mais românticos e outros mais no registo do funaná.
Tony Fika adianta que este ano vai trazer novidades com singles e um álbum novo em 2024. O artista afirmou ainda que está feliz com as nomeações para os CVMA 2023 e destacou que ganhando ou perdendo já se considera um vencedor.
Como prometido na noite passada e para a alegria dos admiradores, Trakinuz subiu ao palco e vai ficar para a história como o artista que levou um burro ao palco do Gamboa, durante a atuação com o tema “Judite”. O jovem interpretou vários dos seus hits, entre eles “Vencidor”,“Nha Titiu”, “Lili”, “Ka nu briga”, entre outros.
“A ideia era fazer coisas inéditas, o meu trabalho sempre tem uma ligação. O burro é um marco na música Judite”, explicou o artista que também se mostrou sereno perante o adiamento do show para sábado. Para breve, o cantor anunciou dois novos singles e mais festivais, e brincou que infelizmente o burro não vai aparecer no seu próximo show no Tarrafal.
Beto Duarte foi o próximo a atuar no festival, o cantor que atualmente mora na Suíça trouxe no seu repertório várias músicas antigas, a atuação causou nostalgia nos presentes. O público cantou “Nha alma gémea”, “Leban”.
“O público recebeu-me bem”, afirmou Beto Duarte que se diz feliz porque apesar das pausas na carreira, foi bem recebido e promete mais concertos e músicas para 2023.
Para Beto Duarte, o Gamboa tem mais a ganhar se o festival for de menor duração principalmente para os artistas de mais idade. Sobre a deslocalização do festival, Duarte não vê a necessidade de mudar o festival para a praia de São Francisco, desde que até às 00h00 as atuações já tenham terminado.
Já eram 3h30 quando SOS Mucci voltou a pisar o palco do Gamboa mas antes mesmo de entrar o público já cantava temas do álbum Raça Zeferino. “Noz e morri xinta na stera” foi um dos vários temas cantados pelos presentes, bem como temas mais recentes como “Nha Religion”.
O cantor teve de interromper o show devido a uma briga que aconteceu no meio do público e que obrigou a uma pausa de 10 minutos. No final, Mucci negou que o conflito tenha desestabilizado o show já que como artista vem preparado para tudo. o
SOS Mucci que está a trabalhar no seu mais novo álbum “Nuvens”, adianta que colaborações gravadas no passado vão ver a luz do dia e ele vai continuar a aparecer em mais festivais nacionais.
Quase perto das 5h da manhã, o quarteto de rap Wet Bed Gang subiu ao palco e fez o povo reagir com gritos e saltos. O grupo português foi formado em 2014 por quatro rappers descendentes dos PALOP. Os jovens apresentaram temas do mais recente trabalho “Gorilleyez” e terminaram a festa com “Devia ir”.
Em representação do grupo, o rapper Kroa agradeceu a organização do festival que lhes permitiu atuar em Cabo Verde. “Foi uma sensação que ainda estamos a tentar perceber o que aconteceu, não estávamos à espera”, afirma o cantor que destaca que se sentiram acolhidos e abraçados pelo público e que espera atuar mais vezes em Cabo Verde.
Já de manhã, com o sol a raiar, foi a vez do salense Dynamo entrar no festival com toda a energia e seguido de fortes emoções por parte do público. A atuação do cantor contou com várias cancões bastante conhecidas, nomeadamente “Primero lugar” e “Kímica”, mas também músicas mais recentes como “Madrugada”. Às 07:03 terminou a sua apresentação ao som de “Primavera”.
“O balanço é positivo. É muito gratificante. Já tinha cantado aqui antes, mas nunca desta forma. Era um sonho que se tornou realidade. Como digo sempre, cada coisa no seu tempo”, afirmou o cantor em declarações aos jornalistas e acrescentou que ainda há muitas novidades para 2023, nomeadamente um novo álbum, sendo que a sua editora vai lançar um artista novo.
O dia já tinha começado, mas faltava ainda as apresentações de Big Z Patronato e MC Acondize, antes do fim do evento.
Big Z e a sua banda, trajada a rigor, foram recebidos em ovação do início ao fim do show. “Nha Morena”, “Riba Dess” foram alguns dos temas ouvidos e não faltou “Ombrada”, para alegria dos mais jovens. A atuação terminou, mas no backstage havia uma fila de fãs que queriam cumprimentar o artista.
Na sua estreia no Gamboa, MC Acondize cantou, dançou e pulou no palco e em cima das colunas ao ritmo de “Aii Dinhero”, “Bu sa mutu à vontade”, “E pa Pila”. Para alegria dos presentes MC Prego Prego juntou-se a MC Acondize, juntamente com dois elementos do Wet Bad Gang, para cantar “Badjon” e fazer coreografias em palco.
No final, MC Acondize era um homem exausto de tanto dançar mas feliz. “Foi top. Era um palco que sempre quis pisar e consegui. Acredito que todos gostaram”, afirmou em entrevista o MC que adianta que vai passar dois meses fora em tournée pela Europa.
O jovem também teve a preocupação de deixar em palco a mensagem de “Zero tolerância contra a violência contra crianças e adolescentes”, uma campanha no âmbito dos Cabo Verde Music Awards.
A noite, ou melhor, a manhã terminou por volta das 9h00 com o kótxi pó de Fidjus di Code di Dona com a poeira já no ar depois da atuação de Leydi Indira que interpretou apenas uma música, o seu hit “Ribon di Cal”.
“Senti todas as emoções, foi espetacular, estou feliz e realizada só tenho a agradecer”, afirmou a cantora que assim como todos os cantores que subiram no palco do Gamboa sempre quis atuar neste festival.
A artista conta que mesmo tendo a atuação mais curta da noite. “O meu próximo trabalho será um funaná, “terra terra”, vai sair um hit também”, revelou a cantora que acrescenta que o novo single tem a grande missão de superar Ribon di Cal, uma tarefa que a própria considera difícil mas não impossível.
Cruz Vermelha regista 22 casos de emergência no Gamboa
O segundo dia do festival registou 14 casos, um aumento de seis casos em relação a ontem, dia 19, tendo oito sido evacuadas para o hospital. Para o representante da Cruz Vermelha, Ivandro Lopes este aumento é sempre registado no segundo dia já que se reúnem mais pessoas no último dia.
“Os casos são mais de tumultos, em que a barreira separadora caiu em cima dos pés das pessoas”, explicou o responsável. Ivandro Lopes informou ainda que houve três casos de intoxicação alcoólica.
Ao todo nos dois dias de festival foram detetados 22 casos, um número inferior aos anos anteriores em que eram registados o mesmo número em um só dia.
Segundo o vereador da Cultura da Câmara da Praia, Jorge Garcia, cerca de 30 mil pessoas passaram pelo evento no segundo dia.
Celine Salvador/Cristina Morais
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