Jailson Miranda: “O teatro é um ‘paracetamol’ para os meus problemas”

Atualmente é um dos rostos do Show da Manhã na TCV, mas há muito que o foguense Jailson Miranda mostrou o seu talento para as artes cénicas.

É humorista, ator, diretor do grupo teatral Fladu Fla e do Festival de Teatro do Atlântico, TEARTI. Jailson Miranda tem conquistado o público praiense, e não só, com a sua arte e o seu sotaque do Fogo. Em entrevista ao Balai, o humorista diz que o teatro está presente em quase tudo o que faz e deixa-o mais à vontade em frente às câmaras.

Natural da ilha do Fogo, Jailson Miranda nasceu no seio de uma família com sentido de humor e herdou a descontração familiar. “Encontrei o humor dentro de casa. Dizem que tinha que ser humorista por causa do meu pai e do meu avô que estava sempre a brincar. A minha forma de fazer stand up comedy é igual ao do meu pai que gosta de fazer piadas. A minha mãe também é assim”, conta e salienta que os pais têm graça em tudo o que dizem e fazem.

O gosto por essa área foi aguçando no ensino secundário. “Era o aluno mais divertido da sala e a minha professora da disciplina de Português, que era natural de São Vicente, reservava sempre cinco minutos no final da aula para eu contar piadas aos meus colegas. Foi esse estilo que me levou para o stand up comedy”, recorda.

Ainda tentou ser seminarista e em 2011 viajou para a ilha de São Vicente, mas desistiu um ano depois. A vida reserva-lhe um outro destino. No ano seguinte, rumou para a capital do país, onde conheceu Enrique Alhinho, o humorista que lhe abriu as portas no stand up comedy na Praia.

“Fui falar com o Enrique numa quinta-feira e ele convidou-me para um show que ia fazer no sábado. (…) Precisava de uma oportunidade e ele abriu-me uma porta. Passou a incentivar-me a escrever piadas da minha autoria. Não o considero uma referência, aliás não tenho uma referência em stand up comedy. Admiro o trabalho dele, mas temos estilos diferentes e o nosso crioulo é diferente”, diz e realça que a variante do Fogo foi fundamental para se firmar nessa área.

Juntamente com o Enrique Alhinho e o Alcibiades Horta formaram o grupo de stand up comedy Os 3 Tchokoteurs e durante dois anos levaram o humor para várias ilhas do país. Jailson diz que sempre fez questão de fazer piadas no crioulo do Fogo, “a ilha com mais sentido de humor”. “Brincamos com tudo, mesmo que seja um problema grave”, diz entre risos.

“Todos os ganhos que tenho são graças ao teatro”

Em 2016, Jailson enveredou para a área do teatro ao ser convidado por uma amiga da companhia teatral Fladu Fla para fazer uma personagem de uma adaptação da peça teatral brasileira Auto da Compadecida. “Era para fazer a personagem do João Grilo ou do Chicó, mas acabei por fazer o papel do padre. Depois fui convidado para ingressar no grupo e comecei a fazer espetáculos.”

Desde então nunca mais parou. Em 2018, Jailson participou na Semana Cultural da China e dos Países de Língua Oficial Portuguesa, mas antes marcou presença no Festival Somá Cambá em São Vicente e no Sal EnCena no Sal. No ano seguinte, foi para o Festival Periferias, em Sintra (Portugal), onde tem marcado presença desde 2019. O foguense também já participou no Festival Circuito de Teatro em Português, em São Paulo (Brasil).

Mal sabia que no ano seguinte seria nomeado diretor de produção do grupo Fladu Fla, uma área que diz que gosta de trabalhar. “Nessa altura eu era uma das pessoas que tinha dado grande contributo para o funcionamento da companhia, daí essa confiança do antigo presidente Sabino Baessa de propor-me esse cargo. Também fui nomeado diretor de produção do Festival de Teatro do Atlântico TEARTI.”

Em termos de aprendizado, o comediante diz o que aprendeu enquanto diretor de produção do Fladu Fla replicou em outras áreas. (…) De uma forma em geral, todos os ganhos que tenho são graças ao teatro. Se hoje estou a fazer uma boa apresentação na televisão é graças ao teatro. Tenho boa capacidade de falar com as pessoas, de conversar em público, postura, tudo isso foram coisas que aprendi com o teatro. (…) O teatro ajuda-me até com o relacionamento interpessoal, ajuda-me com tudo. (…) O teatro é um ‘paracetamol’ para os meus problemas”, diz entre risos.

Questionado sobre como vê as áreas de stand up comedy e do teatro em Cabo Verde, Jailson diz que atualmente ambas as áreas têm mais visibilidade, mas que ainda há muito trabalho a ser feito, principalmente no teatro.

Acho que precisamos mostrar às pessoas o que realmente é o teatro. O público praiense quando vai assistir uma peça, se for um drama dizem que não se trata de uma peça teatral, porque estão acostumados com o teatro cômico. Algo que não acontece em São Vicente, onde desde há muito tempo o João Branco fez um trabalho espetacular. O teatro no Mindelo é mais desenvolvido e enraizado do que na Praia. Na Praia temos o festival TEARTI, que já vai na sua 7.ª edição, e acho que foi uma boa forma de começar a introduzir mais teatro para o público de Santiago, visto que na ilha ainda não há esse hábito de sair de casa para ir assistir uma peça teatral, embora já começamos a ver alguns resultados. Mas acho que precisamos trabalhar mais nisso. Quando digo trabalhar não é apenas os grupos de teatro, mas também de ter mais apoio. Atualmente, temos o apoio do Ministério da Cultura, mas se calhar se tivéssemos mais cedo a atenção do governo podíamos estar noutro patamar. Durante muito tempo vimos que havia envolvimento do governo mais para a ilha de São Vicente.”

Estreia na televisão nacional

Paralelamente a área da comunicação também entrou na sua vida. Em 2020, Jailson Miranda foi o apresentador do programa do Governo “O Viajante” e depois foi convidado para dirigir o PodCast “É da Família” numa rádio na capital do país. Há um mês, o foguense participou num casting para ser apresentador do programa Show da Manhã ao lado de Anny D’Oliveira e foi escolhido para fazer dupla com a jovem.

“Quando soube que o programa era ao vivo fiquei apreensivo, visto que, é mais responsabilidade, mas já quebrei o gelo e parece que estou há um ano na empresa”, diz e confessa que a experiência nas áreas de teatro e stand up comedy foi uma mais valia neste desafio.

Jailson confessa que o teatro deixa-o mais à vontade. “São vários anos de palco. (…) O programa é em direto e muitas vezes tenho que usar técnicas do improviso que aprendi no teatro. O teatro e o stand up comedy estão a ser como bengalas na apresentação. (…) Utilizo o teatro em quase tudo e acaba por ligar todas as áreas.

No que tange aos planos, o comediante, ator e apresentador diz que pretende continuar a ganhar conhecimentos e deixar as coisas fluírem. “Sou uma pessoa que gosta de estudar e que está sempre à procura de informação sobre tudo.”

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