Mayra Andrade: “A experiência da maternidade vai ser o meu projeto mais importante nos próximos tempos”

Depois de apresentar o Manga Tour em vários países e este mês no Mindelo, Mayra Andrade fecha este ciclo com “chave de ouro” em casa para começar um novo – a maternidade.

A cantora Mayra Andrade encerra nesta quarta-feira, 21, com “chave de ouro” o Manga Tour com um concerto na Praia, cidade onde cresceu. Numa conferência de imprensa realizada na tarde desta terça-feira, 20, a artista salienta que é “bastante “óbvio, natural e orgânico” encerrar este ciclo em Cabo Verde.

“Para mim era importante encerrar o Manga Tour em Cabo Verde porque foi aqui que tudo começou e é onde está o meu público base. Infelizmente, não tenho tido muitas oportunidades de cantar cá. Esse disco, em específico, apresentei uma única vez no país, em 2019 no Kriol Jazz Festival, e não tinha sequer apresentado no Mindelo. Então, era muito importante fazê-lo. Gostaria de ir para outras ilhas, mas não é uma realidade que conseguimos concretizar neste momento. Então, terminar a tournée na Praia é encerrar em casa e é também uma forma de agradecer a todos que sempre me apoiaram e me acompanharam”, diz e realça que vai suspender a sua atividade na estrada durante um tempo e dedicar-se à gestação. “Quero viver essa próxima fase plenamente”.

Questionada sobre o que o público pode esperar do concerto de hoje à noite, a artista diz que podem esperar o melhor de si e da sua banda.

“É um espetáculo que já chegou em um nível de maturidade interessante. Fizemos vários concertos com esse repertório e foi ganhando uma pujança e foi amadurecendo. (…) Acho que tem sido um momento de troca e comunhão muito forte com o público. (…) Independentemente de onde estou, quero dar 500% de mim em palco”, diz e adianta que vai ser “um prato cheio de Manga”.

Segundo Mayra, encerrar o tour em casa tem outra emoção. “A ideia de as pessoas entenderem cada palavra que digo é algo muito forte. Ou seja, partilhamos cada ideia, energia, frase. As minhas músicas falam da nossa história, da nossa vivência como povo cabo-verdiano. Quer dizer que cantar as músicas em casa tem outro alcance.
Enfim, pelos lugares que tenho andado tenho sentido que realmente, sobretudo esse disco tem tido uma aderência muito grande, independentemente de entenderam ou não as letras, sentem a música. Acabei de fazer uma tournée de oito espetáculos pelo Brasil, foi extraordinário e, no entanto, as pessoas não entenderam necessariamente o que cantei, mas tem algo nesse disco que está a chegar às pessoas de uma forma muito direta. Quando fiz o espetáculo em 2019 no Kriol Jazz Festival as pessoas tinham acabado de escutar o disco e agora já o viveram. Manga já foi trilha sonora de momentos de vida e já tem memórias. Então, chegam com outra disposição em vibrar as músicas, pelo menos foi isso que senti em São Vicente.”

O show de encerramento do Manga Tour acontece na noite desta quarta-feira, 21, no Largo de Quebra Canela, na cidade da Praia. As portas abrem às 20h00, o show terá a duração de uma hora e meia e terá início às 21h30.

“Estamos a preparar que esse show seja o melhor possível em termos de segurança, qualidade de som e de toda a logística”, diz Sócrates “Sucá” Carvalho dos Sigui Sabura, promotor responsável pela organização do show.

Os bilhetes ainda estão à venda online e nos pontos de venda e a organização estima cerca de 2 mil pessoas no evento.

Em jeito de balanço, Mayra Andrade diz que o Manga Tour foi “gratificante e positivo”. “Sinto que este disco trouxe-me um público novo. Sinto-me abraçada cada vez que subo no palco. E as músicas acabam por ser um balsâmico que une as pessoas e recebem muita essa energia do público. Claro que tivemos dois anos de covid-19 no meio, portanto, tinha muitas coisas por acontecer e que não aconteceram, mas conseguimos agendar e fazer os mais importantes. Então, realmente o balanço é extremamente positivo”.

Duas décadas a manter uma mente criativa

Ao longo dos seus 22 anos de carreira Mayra diz que conseguiu manter o equilíbrio. (…) “Manter uma mente criativa e não cair na tentação de fazer as coisas fáceis. Mas de qualquer forma isso nunca foi o meu ‘drive’ como artista. (…) Não tenho ânsia em seguir o mercado, então isso se calhar facilita-me um pouco a vida e os meus discos acabam por ser um reflexo de quem sou no momento das suas criações. Mas é sempre desafiador abraçar a nossa vulnerabilidade. Com a maturidade aprendemos que podemos ser vulneráveis apesar de estar num mundo onde as coisas não são necessariamente fáceis para uma mulher, para um artista. (…) Pelo menos, fiz do facto de ser mulher uma força, mas é claro que vivemos num mundo extremamente machista onde às vezes é esperado algo em troca além da arte para poder empurrar certas portas, para entrar em certos lugares. E se calhar quando entras nesse jogo conseguimos ir mais rápido em certas coisas, mas destrói a tua pessoa. Em qualquer meio é a mesma coisa, então, infelizmente, é uma condição da mulher no mundo”.

No que tange a projetos futuros, a artista diz que está sempre a pensar num próximo projeto, mas que agora quer dedicar plenamente a gestação do seu primeiro (a) filho (a).

“Às vezes é muito importante, nós seres humanos abraçarmos o momento que estamos a viver e ver que muitas vezes que o mais importante não é necessariamente aquilo que cobramos de nós ou que a sociedade espera, mas sim aquilo que o universo está a proporcionar. E acho que, provavelmente, a experiência da maternidade vai ser o meu projeto mais importante nos próximos tempos. (…) Vou viver esse momento plenamente porque não se repete. Outro momento há de ser outro, mas esse é único.”

“Pantera foi uma pessoa que me marcou”

Recentemente, Mayra Andrade esteve nas cidades de Lisboa, Praia e do Mindelo na apresentação da peça “Pantera, Homenagem a Orlando Pantera”, de Clara Andermatt e João Lucas, onde fez uma participação especial.

Em entrevista ao Balai, a artista diz que Pantera foi “um amigo, um exemplo, um inspirador e um inovador” dentro da cultura cabo-verdiana. “Tive o privilégio de poder privar com ele e ver nele uma pessoa que estava a trilhar um caminho diferente dentro da música tradicional. Para mim, foi muito importante porque aos 15 anos tinha essa ânsia de querer trazer algo diferente para a música tradicional de Cabo Verde, bem como para a música cabo-verdiana no geral. Enfim, foi uma pessoa que me marcou e que marcou várias pessoas”.

De acordo com Mayra, foi uma honra participar da peça em tributo a vida e obra de Orlando Pantera. “Foi um desafio artístico muito grande para todos e foi realmente uma honra poder contribuir de alguma forma para a existência dessa peça que estreou em março no CCB em Lisboa e que fechou também em Cabo Verde em novembro. Então, estou com essa sensação de que estamos a conseguir fechar ciclos como devem ser fechados e tem sido aqui em Cabo Verde”.

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