Omi Nobu, a premiada obra cabo-verdiana que é ‘uma declaração de amor ao cinema’ 

O documentário que retrata a história de Quirino Rodrigues, o último habitante de Ribeira Funda, em São Nicolau, fez a sua estreia na capital nesta quinta-feira, dia 2.

Depois de uma estreia simbólica em São Nicolau, foi a vez o Auditório Nacional na cidade da Praia receber nesta quinta-feira, dia 2, o filme Omi Nobu, uma obra de Yuri Ceuninck que este ano foi premiada com o galardão de ouro no festival FESPACO, em Burkina Faso.

Para o realizador Carlos Yuri Ceuninck, a apresentação do documentário em Cabo Verde é “um sonho realizado”.

“É também uma viagem às memórias da minha infância. Passei uma parte da minha infância na Boa Vista e foi lá que surgiu a minha paixão pelo cinema. Os meus pais tinham o hábito depois do jantar de transformar a sala de casa numa sala de cinema onde abriam as portas de casa aos vizinhos. Estamos a falar da Boa Vista dos anos 1980. Na verdade, é como se hoje, numa sala maior, claro, estou a reviver esses momentos de partilha de cinema”, afirmou em declarações ao Balai.

Quanto à primeira e simbólica apresentação do documentário em São Nicolau, ilha onde a obra foi filmada, foi “espetacular”, nas palavras de Ceuninck, sendo que as pessoas, sobretudo as de Estância de Brás, localidade retratada no filme, mostraram-se contentes e orgulhosas com o trabalho.

“Apresentamos no Polivalente, o filme foi projetado numa parede que foi uma experiência incrível com muitas pessoas emocionadas (…) foi muito emotivo”, partilhou o realizador que salientou que, infelizmente, Quirino Rodrigues, personagem principal do filme, acabou por falecer em 2022 antes das filmagens, que duraram quatro anos, terem terminado.

Em março deste ano o documentário foi distinguido com o Etalon d’or, galardão de ouro, na 29.ª edição Festival Panafricano de Cinema e Televisão de Ouagadougou, FESPACO, algo que a equipa que trabalhou nesta co-produção, que contou com a participação de países como Bélgica, Alemanha e Sudão, além de Cabo Verde, não estava à espera.

Segundo Steven Malkovitch, representante do júri da categoria onde Omi Nobu foi distinguido no FESPACO 2023, este filme é uma declaração de amor ao cinema.

“É um festival que pessoalmente sonhei (…) todo aquele ambiente. Para nós estar lá já era uma vitória”, explica Yuri Ceuninck.

“Depois a surpresa foi enorme (ao vencer)”, acrescentou o realizador destacando sobretudo o envolvimento da equipa cabo-verdiana nomeadamente do Nenass Almeida, na fotografia, do César Schofield Cardoso, no guião, David Medina, no som, Matilde Dias, na pesquisa, que aliás foi a primeira pessoa a contar ao Ceuninck a história de Quirino, Nuno Miranda, no sound design, Natasha Craveiro, na produção, Henrique Silva, na música original inspirada no mestre Paulino Vieira. “Foi um trabalho que envolveu muitas pessoas e é uma jornada que ainda não chegou ao fim”.

Questionado sobre o estado atual do cinema em Cabo Verde, o realizador ressalta que é importante analisar o panorama situando no tempo, salientando que já há um caminho e agora caminha-se para uma nova fase. “É um caminho onde todos devem estar envolvidos e não apenas uns indivíduos. Para que seja uma dinâmica do cinema cabo-verdiano tem de ser coletiva, ou seja, instituições, governo, associação, televisão, distribuição. Neste momento, temos dois festivais, o Oia e o Djar Fogo Film Festival. Precisamos retomar a dinâmica”, afirma e enfatiza que há grandes produções internacionais de cinema que já vêm filmar em Cabo Verde e é necessário ter condições para as receber.

Paralelamente, o realizador salienta que Cabo Verde deve tentar acompanhar a dinâmica neste setor que já existe noutros países africanos como o Ruanda, Quénia, Angola, entre outros.“Acredito que é o nosso destino. Somos um povo com cultura de cinema. Precisamos só de um empurrão”.

Ao longo de cerca de uma hora Omi Nobu narra, na voz de Bia Titoi, a história da localidade de Ribeira Funda, “uma pequena aldeia situada no fundo de um vale profundo rodeado por altas montanhas e um oceano agitado” que se mistura com a história de Quirino Rodrigues que por lá viveu numa solidão estóica desde 1984, tendo por única companhia um aparelho de rádio.

Depois de se mudar para junto da irmã Maria Fortes (Bia Gai), em Estância de Brás, Quirino viria a falecer em janeiro de 2022.

No final da apresentação da obra, o realizador era um homem visivelmente emocionado. Yuri Ceuninck aproveitou o momento para agradecer a todos que integraram a equipa de realização e produção do filme, bem como à população de Estância de Brás, sem esquecer de Quirino Rodrigues que faleceu antes de a obra ter sido terminada e apresentada.

Depois das três apresentações na Praia, é possível ver o filme no Cine Praia nos dias 3 e 4 de novembro, o documentário segue em dezembro para Mindelo.

Cristina Morais

Cristina Morais

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