Projeto PALOP vai publicar nove livros de Banda desenhada. Há três obras de cabo-verdianos nesta primeira edição

Projeto inédito visa incrementar a produção de banda desenhada nos PALOP e contou com três duplas cabo-verdianas a concorrer cujos livros vão ser publicados este ano.

Três duplas de criadores cabo-verdianos participam na primeira edição da bolsa literária BD PALOP que vai ainda este ano publicar 9 livros de autores lusófonos e prepara-se para abrir as inscrições para a segunda edição.

A BD PALOP é um projeto lusófono de três anos que foi lançado em abril de 2022 e na sua primeira edição contou com 18 criadores africanos. O projeto foi um dos vencedores do edital Pro-Cultura 2022 e surge pela mão da Anima Studio de Moçambique, líder do projeto, com a editora cabo-verdiana JovemTudo, da angolana Boom Comics e ainda A Seita, de Portugal.

O objetivo, segundo Odair (Dai) Varela, da JovemTudo, é incentivar a produção nacional e promover a banda desenhada nos PALOP, bem como transformar a ilustração em fonte de rendimento para os criadores.

Na primeira edição da BD PALOP, foram selecionados, entre 50 participantes, 18 jovens de Angola, Moçambique e Cabo Verde. Os criadores foram selecionados em duplas, tendo sido selecionadas 3 duplas por país.

Os 18 selecionados, divididos em duplas compostas por um ilustrador e um roteirista, receberam uma bolsa literária anual, de 5 mil euros (550 contos), e tiveram uma formação e mentorias com profissionais internacionais que trabalham em estúdios de animação.

Os criativos que concorreram na primeira edição foram selecionados por um júri internacional, onde os criadores de Cabo Verde foram os que ficaram melhor posicionados (TOP5). “A qualidade de Cabo Verde foi reconhecida tendo os concorrentes cabo-verdianos ficado em primeiro, segundo, terceiro e quinto lugar, mas só três duplas que podiam avançar de cada país.”

“Conseguimos mostrar que o traço, a parte da imaginação e a ilustração de Cabo Verde têm valor”, defende Odair Varela.

Depois de um ano de trabalho, vão ser publicados nove livros, que resultam do trabalho destes criativos sendo que a maioria já foi produzida, estando ainda algumas duplas atrasadas na entrega dos trabalhos.

Os nove livros são impressos nos três países, sendo que em Cabo Verde devem ser impressos cerca de 900 livros. Uma parte das obras também é impressa em Portugal, tendo em conta que as obras vão ser divulgadas também no Brasil, explica o representante do projeto. Os livros depois vão ser comercializados nos respetivos países.

A segunda edição do concurso vai ser lançada agora em março e é possível concorrer em dupla no site da BDPALOP.

Segundo Odair Varela, esta bolsa literária é uma iniciativa inovadora, tendo em conta as diferentes variantes que engloba desde as formações à publicação dos livros, e que só é possível por causa do financiamento da Pro-Cultura. “É uma oportunidade enorme (para os criadores), acredito que nesta segunda edição vamos fazer ainda melhor”.

“Há imensos talentos no país, que só precisam de uma oportunidade”

Keila Pereira, argumentista, e Wilson Lopes, ilustrador, são uma das três duplas cabo-verdianas do projeto. “Temos imensa gratidão em ter participado no concurso da BDPALOP. A oportunidade e o espaço de aprendizagem que nos proporcionaram não se compara à nada”, afirmam os dois criativos de nome artístico Kitty Blunt e Toze Art, autores da BD ‘Tunuka’, e enaltecem as sessões de formação, que permitiu uma troca de experiências, além do que afirmam que gostariam de um dia poder “encontrar com os restantes participantes, a experiência seria ainda mais enriquecedora”.

Cientes de que a área da Banda Desenhada em Cabo Verde “ainda tem muito por desenvolver”, salientam a importância de iniciativas como a BDPALOP. “Há imensos talentos no país, que só precisam de uma oportunidade e um empurrão para brilhar. E quando falamos de estímulos, não só referimos de estímulos à produção como também ao consumo”, afirmam e salientam que é preciso se apostar mais na leitura, “em particular aos livros da banda desenhada.”

Ambos dizem estar abertos a novas colaborações, caso surgirem novas oportunidades de parcerias.

A argumentista Edna Tavares e o ilustrador Heguinil Mendes são os autores do ‘Projeto 1712’. Ambos salientam que o BDPALOP é uma “oportunidade, de mostrar as potencialidades dos ilustradores e argumentistas, a nível dos PALOP” e no “seu caso, a potencialidade dos jovens cabo-verdianos de criar histórias originais e divertidas que explorem o imenso imaginário e folclore ainda desconhecido do país”.

Além de mencionarem a existência em Cabo Verde de talentos nesta área ainda desconhecidos, ambicionam que o seu trabalho “possa ter a qualidade, a nível narrativo e visual, do que é produzido lá fora. “Nesta janela de oportunidade que nos proporcionaram queremos entrar pela porta da frente com a produção de banda desenhada em exposições e, quem sabe, mercados que desconheçam na totalidade a existência de alguma produção da nona arte, até mesmo de um país tão pequeno e insular como o nosso”.

Os dois criativos pretendem continuar a trabalhar juntos até porque são “um jovem casal, que divide a mesma paixão, e têm projetos engavetados e em mente, que futuramente vão poder partilhar”.

A ilustradora Coralie Tavares que compõe mais uma dupla cabo-verdiana do concurso ao lado de Domingos Silva (Luisa), enquanto argumentista, também se mostra satisfeita com o concurso que lhe ajudou “a enriquecer um pouco mais os conhecimentos sobre BD” e que permite que o trabalho dos criativos cabo-verdianos seja reconhecido noutros países.

“Em Cabo Verde, acho que a BD está aos poucos a tornar-se popular. Os jovens da geração anterior liam mais livros e bandas desenhadas tais como Donald e Tio Patinhas, Super heróis, A turma Mônica etc. hoje em dia, os jovens precisam de ser mais incentivados (…)”.

Quanto ao trabalho em equipa, a jovem salienta que apesar de ser interessante, tem como única inconveniência depender da disponibilidade de cada membro da equipa”.

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