Thairo Kosta apresenta “Nha Kasa”, um álbum de boas notícias que retrata Cabo Verde

Depois de oito anos, Thairo Kosta traz à luz o primeiro álbum da carreira, que conta com 15 faixas que falam desde o seu trajeto pessoal até de temas que têm afligido a sociedade cabo-verdiana. “Nha Kasa” fala de um país habitado por pessoas únicas, verdadeiras e alegres que não se importam com a riqueza ou tom de pele, mas sim com a felicidade, contou o artista em entrevista ao Balai.

O título “Nha Kasa” é uma palavra que tem um duplo sentido, o primeiro, mais literal, diz respeito a Cabo Verde, o lugar onde moramos e carregamos no coração. O álbum é um convite para os ouvintes entrarem nessa casa da morabeza e sentirem-se à vontade.

O segundo significado vem da criação de um espaço para acolher artistas que participaram no trabalho. Os artistas presentes no álbum são Jay Moreira, PNC, Ferro Gaita, Rapaz 100 Juiz, Petcha, Zeca Nha Reinalda, Neuza de Pina, Trakinuz, Bunguin Martins e Hélio Batalha, cantores que Thairo Kosta admira e chama para um passeio pelos géneros mais conhecidos de Cabo Verde como “Tabanka”, “Kola San Jon”, “Batuku”, “Finason” e “Funaná”.

Thairo Kosta afirma que trazer vários cantores para o álbum não foi uma tarefa fácil e exigiu tempo e preparação, mas que a ideia foi bem aceite pelos convidados que gostaram do trabalho e apreciaram a mensagem das canções. O cantor sublinha que foi um privilégio ter artistas de diferentes gerações no álbum, e que desde o início o objetivo era criar uma “festa bedju” e preservar a cultura cabo-verdiana.

O álbum traz uma clara ilustração do que Cabo Verde tem para oferecer aos seus visitantes. A imagem da Passarinha foi escolhida pelo cantor porque esta espécie só vive em Cabo Verde e também desova perto da época das chuvas. Assim como a Passarinha traz a boa nova da chuva, Thairo Kosta afirma que “Nha Kasa” é um álbum de boas notícias que vai levar os ouvintes a uma festa que celebra a vida e a liberdade.

O álbum tem as faixas organizadas de maneira a transmitir diferentes mensagens, porque cada música complementa e liga à seguinte. “Os temas são coisas que não desaparecem”, salienta.
“Monoparental” é um tema que carrega uma mensagem forte, a música é o single promocional da campanha Responsabilização Parental que junta personalidades políticas, organizações e artistas em torno de uma sensibilização conjunta para acabar com uma das maiores problemáticas da sociedade cabo-verdiana. Trechos como “quem ama cuida” e “se você é mãe ou pai não fuja da sua responsabilidade” são lições passadas pela música num esforço de proteger os direitos fundamentais das crianças.

Um outro aspeto que o álbum menciona é a valorização do crioulo cabo-verdiano, na faixa “Nha Kriolu”, uma música que surgiu quando notou que alguns cabo-verdianos esquecem ou ignoram a língua-mãe quando partem para o estrangeiro. Thairo Kosta expressa a sua tristeza e revolta desta forma: “ami pan ka papia Kriolu ta pega lingua ta mordi, n ta prifiri fika surdu mudu pan ka obi nen pan ka da resposta”.

Para o artista a faixa é referência em “Nha kasa”, porque “a nossa língua é o nosso escudo”. “O crioulo é cultura, identidade, África e, somos nós”, reforça, adiantando que a oficialização é um processo que só trará ganhos. Um dos benefícios é a liberdade de reflexão e expressão que as crianças passarão a ter dentro das salas de aula para comunicarem, acabando com o bloqueio de ideias e o abandono escolar. “A nossa língua deve ser a primeira no ensino básico”, reafirma Thairo Kosta, acrescentando que o português deve ser opcional como o francês e inglês.

Por sua vez, a canção “Sentru di Injuria” trouxe reconhecimento para o artista, sendo distinguido como Melhor Videoclipe e Melhor Música Urbana nos CVMA 2016. Esta faixa viaja pelas páginas de Cabo Verde, desvendando os anos trágicos da história do arquipélago “até os dias de glória alcançados hoje”.

Apesar das muitas mudanças em relação ao passado, o cantor destaca a violência sexual que as crianças e mulheres sofrem como uma realidade triste e atual do país e como solução aponta a necessidade de se cultivar valores importantes como a educação, mas também tempo e paciência, direitos humanos e conhecimento. “Podemos não conseguir mudar uma pessoa com mais de 30, 40 anos, mas daqui a 40 anos podemos mudar uma criança com a força da revolução”, ressalva.

Thairo conta teve que ultrapassar diversas dificuldades como drogas, prostituição, suicídio para poder ser o que é hoje. Por isso conclui que: “para encontrar o que queremos temos que dar uma oportunidade a nós mesmos”. Essa atitude tem sido adotada pelo autor que dedicou oito anos para escrever o primeiro álbum.

Hoje satisfeito com o resultado, Thairo Kosta conta que pretende vir para Cabo Verde em breve para promover o álbum em shows e festivais. Além das performances, os fãs poderão comprar camisas do “Nha Kasa” e o álbum físico.

Preocupado com o futuro, o artista pede que os jovens conheçam e invistam mais na música cabo-verdiana, porque a valorização deve vir primeiro de dentro da nossa casa.

Celine Salvador/ estagiária

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