Depois de duas décadas em Santiago, mindelense aposta em negócio de bifanas em São Vicente

Há cerca de dez meses, Vlademiro Santos apostou no autoemprego com o projeto Bifana na Hora após regressar à sua ilha natal. Apesar da alta taxa de desemprego em São Vicente, o empreendedor diz, em entrevista ao Balai, que a maior dificuldade até agora é encontrar colaboradores.

Vlademiro Lenine Coelho dos Santos tem 46 anos e é natural de São Vicente, mas durante duas décadas residiu em Santiago. Em 2021, em plena pandemia da covid-19, regressou à cidade do Mindelo e levou consigo o sabor e a ideia de negócio de uma das iguarias da capital do país – bifanas.

“Fui extremamente ousado. Arrisquei em começar um negócio em plena pandemia. As pessoas aconselharam-me a não abrir, mas não me arrependo. Não tem sido fácil, mas é desafiante”, diz em entrevista ao Balai.

Amante de gastronomia, a sua vida sempre esteve ligada à área da restauração e durante sete anos trabalhou em restaurantes nas cidades da Praia e de Santa Maria, para onde rumou em 2017 em busca de trabalho.

Permaneceu na ilha do Sal durante 1 ano e, ao longo desse período, Vlademiro criou uma ideia de negócio denominada Bifana na Hora, mas devido a questões burocráticas não foi possível a sua implementação.

A minha ideia sempre foi ser ambulante e não ter um negócio estático, mas não consegui a licença de venda ambulante na Câmara Municipal do Sal. Acabei por desistir e regressei à cidade da Praia em 2018”, diz e acrescenta que no ano seguinte fez uma formação na área de Panificação e Pastelaria no Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).

Em 2020, após 20 anos longe de São Vicente, Vlademiro começou a preparar o seu regresso à sua ilha natal, que concretizou em 2021. “Não queria regressar na vertente de procurar emprego, então adaptei a ideia do Bifana na Hora de forma a criar o meu próprio sustento.”

Ao chegar na cidade do Mindelo, começou a trabalhar no projeto, mas só em agosto de 2022 que conseguiu colocá-lo efetivamente a funcionar, uma vez que, “não foi fácil” conseguir autorização da Câmara Municipal de São Vicente. “Tenho estado a ver, paulatinamente, como vou singrar neste mercado que é um pouco difícil. A bifana não é um produto usual em São Vicente. Não se encontra à venda nas ruas como na cidade da Praia.”

Encontrar funcionários, o maior desafio em São Vicente

Vlademiro começou o negócio com apenas um carrinho que levou da cidade da Praia e depois investiu em mais dois, mas atualmente trabalha apenas com um. Segundo o empreendedor, apesar da taxa de desemprego de 15,4% em São Vicente (dados do INE em 2020), o maior desafio é encontrar funcionários. Teve cinco até ao momento e lamenta que sejam apenas homens.

“É uma coisa difícil de entender, principalmente, com esse nível de desemprego em São Vicente. (…) As pessoas em Mindelo não querem fazer esse tipo de trabalho – venda ambulante – preferem trabalhar em lugares físicos. (…) Tive funcionários até fevereiro deste ano e acabei por assumir o negócio sozinho para manter o padrão”, diz e acrescenta que na ilha há falta de seriedade por parte dos empregados e que agora tem mais cuidado na hora de contratar.

A bifana é feita à moda da cidade da Praia – com carne de porco picada – e Vlademiro assegura que prima pela qualidade, sabor e higienização. “O feedback tem sido muito positivo em termos do sabor. (…) Tenho muito cuidado com a higiene. Por ser um negócio de rua, tenho que criar confiança no consumidor. (…) Trabalho com touca, bata, luvas e o carrinho está sempre limpo e organizado”, diz e revela que o carrinho de venda desloca-se apenas para os bairros com ruas alcatroadas para facilitar no transporte que é feito em bicicleta.

Apesar de ter registado maior lucro em finais do ano passado, Vlademiro garante que o negócio é rentável. “De agosto a dezembro foi mais rentável e de janeiro até agora tem sido fraco, mas é um negócio rentável. Comecei com o preço de 150 escudos e depois tive que aumentá-lo para 200 escudos por causa de toda essa oscilação de preço dos produtos que uso. Acredito que isso teve alguma influência na venda. A variação de 50 escudos num produto em São Vicente já é considerada alta para várias pessoas. Mas tendo em conta a subida de todos os produtos que uso tive que ajustar o preço.”

O empreendedor constatou também que os mindelenses não consomem fast food como os praienses – a qualquer hora do dia. “Em Mindelo as pessoas consomem esse tipo de alimento apenas ao final do dia e à noite. Funcionamos das 17h00 às 22h00 porque é o horário mais positivo. Fiz alguns testes e constatei que não justifica vender no período da manhã porque praticamente não há venda. Tive que me adaptar completamente à ilha.”

A ambição do empreendedor é singrar a marca Bifana na Hora em São Vicente. “Neste momento o projeto é mais conhecido a nível das redes sociais do que propriamente da população. Ainda não consegui chegar a todas as zonas, mas tenho conquistado novos clientes. A ambição é conseguir chegar a todas as zonas, ser um produto reconhecido pela qualidade, ter um lugar fixo e conseguir pessoas para trabalhar, que é o maior desafio de todos”, conclui.

Bifana, um bife de porco no pão, é um prato tipicamente português criado em Vendas Novas e que é bastante popular em Santiago, mais concretamente na Cidade da Praia.

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