
Quinta-feira, 30 de Março, 2023
Vera Lúcia Silva conhecida como Badia Guerreira, é paciente oncológica cabo-verdiana em tratamento do cancro da mama em Portugal. Em entrevista à Inforpress, a cabo-verdiana pediu às autoridades cabo-verdianas que investissem num Hospital Nacional de Oncologia.
À Inforpress em Lisboa, Vera Lúcia Silva, conhecida por “Badia Guerreira” por causa da forma como enfrentou a doença, e que pouco mais de uma semana fez um vídeo em direto nas redes sociais, “em forma de desabafo”, e que já teve várias dezenas de partilhas, centenas de comentários e milhares de visualizações, disse estar “revoltada” com muitas situações que têm acontecido, tanto em Portugal, como em Cabo Verde.
Segundo ela, uma das situações que a tem revoltado é que “muitas doentes” chegam a Portugal sem nenhuma informação, acrescentando que, por vezes, são pessoas que nunca saíram de Cabo Verde ou da sua ilha, que não sabem falar bem o português, que não conseguem deslocar-se nos transportes públicos, que são colocados fora de Lisboa, numa cidade onde não conhecem ninguém, como por exemplo em Coimbra, ou que chegam acompanhados e “são abandonados pelo familiar que os veio dar suporte”.
“É altura de investirmos num Hospital Nacional de Oncologia em Cabo Verde para que os doentes com cancro, na sua maioria de mama, não tenham que sair da sua terra para um desconhecido, mas também para receberem um tratamento adequado e com as condições necessárias”, desabafou.
Para ela, essa luta é de todos, tanto do Governo como da sociedade em geral, porque cada vez mais pessoas “têm sofrido e morrido” por causa do cancro, sobretudo porque muitas delas não conseguem fazer um diagnóstico precoce e quando descobrem “já é tarde” para qualquer tratamento.
Vera Lúcia, que é voluntária da Associação Amigas do Peito, trabalhando diretamente com as mulheres que vêm para tratamento de cancro de mama, de Cabo Verde e outros Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), no Hospital de Santa Maria e não só, em Lisboa, tem a certeza que se o arquipélago decidir investir nessa infra-estrutura irá ter muitos apoios de parceiros internacionais.
“E se Portugal decidir não receber mais os doentes ou receber só o número que está estipulado no protocolo?”, questionou, assegurando que sabe que este país europeu tem recebido “mais do dobro” de doentes transferidos do que aquilo que está firmado no protocolo.
Voluntária também na Associação Lusófona para a Promoção da Literacia em Saúde Oncológica “Pinta a Vida”, na qual é vice-presidente do Conselho Fiscal, outro constrangimento que ela tem constatado no seu trabalho de voluntariado é que os doentes ficam hospedados em casa dos familiares que, algumas semanas ou meses depois, já “se sentem sem estrutura para continuar a ter essa pessoa na sua casa”.
A mãe de dois filhos, de 16 e 7 anos, e que descobriu que tinha cancro de mama em 2017, tendo já passado por várias intervenções cirúrgicas em Cabo Verde e Portugal, quimioterapia e radioterapia, considera que já é tempo das autoridades cabo-verdianas criarem uma estrutura e fazer uma “ponte” entre os próprios doentes transferidos, para os que aqui já estão possam receber e dar o suporte inicial aos que chegam.
Neste ponto, ela também chama a atenção dos serviços da Embaixada de Cabo Verde em Portugal e do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) para analisarem essa situação e encontrar uma solução que possa beneficiar a todos.
“Nem todas as pessoas conseguem enfrentar diagnóstico de cancro de ânimo leve, o que acaba por prejudicar no tratamento, porque está provado que o lado psicológico é crucial para os resultados, negativos ou positivos” dos tratamentos”, frisou, lembrando que os que estão em Portugal passam por várias situações de foro emocional que lhes têm afetado nas terapias.
Vera Lúcia, que neste momento abraça o projeto de modelo, justifica que está a fazê-lo para dar exemplo às outras mulheres de como algo negativo pode ser transformado em empoderamento.
Inforpress
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