Engenheiro químico aposta na conservação a vácuo para fazer face ao embargo de produtos agrícolas de Santo Antão

Vitorino Nascimento é o mentor do projeto Sint’Agro que visa permitir a comercialização dos produtos agrícolas da ilha das montanhas, principalmente o inhame, nos mercados de Santiago e noutras ilhas turísticas.

Natural da localidade de Tanque, na Ribeira Grande de Santo Antão, Vitorino Nascimento tem 34 anos e é natural de Santo Antão, uma ilha essencialmente agrícola onde há cerca de 40 anos foi levantado um embargo aos produtos agrícolas devido à praga dos mil pés. Por quase 8 anos, Vitorino viveu na ilha de Santiago onde se formou na área de Engenharia Química e Biológica, tendo trabalhado numa empresa de processamento de alimentos.

Em entrevista ao Balai, o santantonense diz que quando residia em Santiago ficou abismado com o preço do inhame importado, sendo que é um produto abundante em Santo Antão, e viu na conservação a vácuo uma ideia de negócio que poderia permitir o escoamento do inhame e de outros produtos agrícolas.

“A ideia de negócio Sint’Agro surgiu ao reparar o que estava a acontecer no mercado. Temos um embargo de produtos agrícolas de Santo Antão que dura desde 1984. Em Santiago, o inhame é importado e vendido a valores altos, enquanto que na ilha das montanhas há grande quantidade deste produto. Decidi unir o útil ao agradável: permitir o escoamento dos produtos de Santo Antão, principalmente o inhame, contornando assim o embargo através do tratamento desse produto e permitir às pessoas das outras ilhas, principalmente Santiago que é o maior mercado do país, consumir um produto nacional”, explica.

Em 2021, Vitorino apresentou a sua ideia de negócio no Startup Weekend Santo Antão e ficou em primeiro lugar. “Depois participei num projeto de aceleração de ideias onde aprofundei o projeto e dois investidores da Associação Business Angels de Cabo Verde (ABAC) resolveram investir no projeto.”

Depois de vários anos a trabalhar no projeto, o empreendedor criou a sua empresa no concelho do Porto Novo, onde reside e trabalha atualmente, e adquiriu a sua licença industrial. Recentemente, contratou duas pessoas em regime de prestação de serviço e começou a tratar e a comercializar os produtos em vários mercados da ilha de Santo Antão, bem como num supermercado na zona de Palmarejo, na cidade da Praia.

Inhame, mandioca, fruta-pão, abóbora, são para já os legumes que estão a ser transformados. Segundo o mentor do projeto, os produtos são descascados, higienizados e depois passam por um pré-processamento e são embalados a vácuo. “Não usamos produtos químicos, apenas embalamos a vácuo, sem aromas e conservantes”, diz e salienta que apesar de ser da área trata-se de um processo um pouco difícil.

Os produtos agrícolas são adquiridos nos produtores locais. “Por exemplo, o inhame é produzido em várias zonas de Santo Antão, mas sobretudo no Tarrafal de Monte Trigo, que é o maior produtor de inhame da ilha e também o único local onde se produz o produto o ano inteiro. Nas outras zonas a produção é sazonal. (…) Os agricultores desta aldeia a oeste da ilha reclamam da dificuldade do escoamento dos produtos por causa do embargo e esse projeto é uma forma de ajudá-los a solucionar um pouco esse problema.”

Questionado sobre o preço dos produtos, Vitorino diz que para já está a testar o mercado e ainda não entrou num consenso em relação ao preço com os revendedores. “Não fazemos venda direta e o preço fica na responsabilidade do revendedor.”

No que tange às dificuldades com as quais se deparou pelo caminho, o professor de Química e Física e empreendedor diz que “é a forma de transportar as mercadorias que são congeladas e transportadas em arcas térmicas” e que exige uma regularidade nas viagens inter-ilhas. ”Há uma facilidade na ordem de embarque, mas se acontecer algum imprevisto os produtos podem estragar e pode causar prejuízos”, diz e acrescenta que para já o transporte não é o problema, mas demonstra preocupação com a linha para Santiago.

A ambição do empreendedor é expandir o negócio para outros mercados nacionais, como é o caso de São Vicente, onde já está a estabelecer contactos. “Por exemplo, Cabo Verde importa mais de 4 toneladas de inhame por ano e se conseguir chegar nesse marco já seria bom resultado. Futuramente, quero chegar noutros mercados turísticos.”

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