Miss Plus Size alerta para preconceito para com mulheres plus size na sociedade cabo-verdiana

“Quebrar os padrões e incentivar a aceitação do corpo” é o lema do concurso Miss Plus Size 2023, que retorna à cidade da Praia para mostrar a beleza dos “corpos fora do padrão”, a união das mulheres e a autoaceitação.

A segunda edição do Miss Plus Size acontece hoje, dia 14 de abril, no Auditório Nacional. O concurso visa celebrar a beleza feminina, promovendo a inclusão e o empoderamento das mulheres plus size cabo-verdianas.

Para muitas mulheres plus size, , este termo define mulheres e homens que usam roupas a partir do tamanho 44 conviver diariamente com os olhares e comentários maldosos sobre a sua aparência é uma luta diária

Este é o caso de Gisele Cruz, Ângela Fernandes e Loide Silva, mulheres plus size. Todas participam da segunda edição do concurso Miss Plus Size, o único concurso desta natureza em Cabo Verde.

Em entrevista ao Balai as candidatas do concurso falaram um pouco sobre a sua experiência, enquanto mulheres plus size, e sobre o que as motivou a participar do concurso.

Sociedade estabelece um padrão de corporal

Ângela Fernandes, 23 anos, é estudante de Técnica Auxiliar de Laboratório e Análises e decidiu participar do concurso incentivada pelos amigos. As insistências levaram-na a candidatar-se e a sair um pouco da zona de conforto e, como a própria diz, a “aproximar-se ao modelo feminino”.

Ângela espera que a noite do dia 14 seja “espetacular e divertida” para as modelos e o público e que a trajetória das modelos inspire mais mulheres a participar nos próximos anos, porque “o foco é levantar a autoestima de outras mulheres”.

“Desde criança, na escola, todo o lugar que frequentei senti um certo preconceito das pessoas, mas eu não presto muita atenção a isso”, conta, acrescentando que os olhares e comentários nunca abalaram a sua autoestima porque sempre aceitou o seu corpo.

A dificuldade que Ângela enfrenta é outra. “As lojas não pensam em nós, tanto eu como as minhas colegas temos problemas em encontrar roupa. Quando chego num local e pergunto por uma roupa que vi na montra dizem que não tem do meu tamanho”, lamenta. A candidata conta que sente ainda uma certa ironia e gozo por parte dos comerciantes quando afirmam isso. Critica a sociedade em geral por estabelecer um padrão de corporal e obrigar as pessoas a segui-lo.

Por outro lado, a candidata Gisele Cruz acredita que tem havido alguma mudança em relação às lojas e na sociedade nos dias de hoje. Olhando para Santiago, a candidata diz que existe uma grande quantidade de meninas e mulheres pluz size, e que a cada dia as lojas têm se adaptado a isso.

O problema colocado por Gisele é o “número reduzido” em que são vendidos e por isso pede por mais roupas plus size nas lojas em Cabo Verde . “Nós também queremos estar na moda, basofas e bonitas”, sublinhou a estudante do curso Ensino e Especialidade em Matemática.

Para Gisele, o concurso é uma boa iniciativa e uma forma de gerar uma união entre as plus size, já que as pessoas que têm esse corpo estão sempre “afastadas umas das outras”.

A jovem de 34 anos destaca que sempre conviveu com o preconceito e adverte que “os comentários acerca do corpo de outras pessoas pode levar à depressão e solidão. Por isso apela cada um ter a consciência de que somos todos iguais, o que importa é a personalidade e não o corpo”. Afirma que sempre recebeu comentários negativos, mas começou a lutar para criar um amor próprio e a auto aceitar-se.

A jovem destacou que, especialmente na ilha de Santiago, existem muitas meninas e mulheres plus size, por isso, aconselha a não sentirem vergonha do seu corpo e a se unirem para ficarem mais fortes.

“Somos muitas plus size em Santiago, mas somos também bem preconceituosas uma com as outras, não podemos usar o nosso corpo para atingir outras pessoas, todas somos iguais” desabafou a candidata Loide Silva. A jovem alerta para o problema do egocentrismo ao ponto de se desprezar outras pessoas, destacando que isso acontece muito nos dias de hoje . Para Loide pessoas tem lidado pior com as plus size com o passar do tempo, e lamenta que “a educação e o respeito têm se perdido na sociedade cabo-verdiana”.

Deixa um conselho às mulheres plus size: “Não se considerem gordas, porque gordas não existem. Este é um simples adjetivo que nos foi dado na escola. Nós temos o nosso corpo, foi este que nos foi dado não devemos aceitar as opiniões dos outros, devemos sim nos aceitar”.

Loide de 24 anos entrou no concurso depois de uma das participantes desistir de desfilar. Contou que hesitou um pouco porque nunca tinha participado de um concurso semelhante mas no final acabou por aceitar. Depois de receber muito apoio a jovem regozija-se com os resultados que tem vindo a ter e afirma: “Estou surpresa comigo mesma”.

O concurso mais do que uma forma de quebrar a narrativa da padronização dos corpos, ensina as modelos sobre amizade, vida, convivência e também oferece aulas com nutricionistas e terapeutas, segundo Emiliana Senna, antes candidata e hoje instrutora,

Mais conhecida por Emily, a jovem é uma das fundadoras e organizadoras do concurso. Olhando para trás, Emily considera que “a confiança está maior”. “Tenho mais confiança em andar de salto alto e vestir roupas apertadas, estou diferente do ano passado”.

O concurso foi criado em 2019 por iniciativa da Emily e da ativista e estudante de Multimédia Tânia Teixeira, depois de assistir a um concurso de modelos da Escola Secundária Cesaltina Ramos em que uma das concorrentes tinha o corpo plus size e acabou por ficar em segundo lugar. Desde o início, a participação da candidata gerou controvérsia por causa do seu corpo, Tânia decidiu então criar um concurso voltado para meninas e mulheres plus size.

O plano só se concretizou no pós-pandemia quando teve a sua primeira edição com 8 candidatas, no qual Emily participou enquanto concorrente. A edição deste ano conta com o número de 12 candidatas, todas da ilha de Santiago. “Estamos a fazer algo diferente, desta vez as plus size estarão mais incluídas”, sublinhou, adiantando que o júri será constituído por mulheres plus size para evitar a insatisfação por parte do público como na primeira edição, em que o resultado final não foi visto com bons olhos.

As 12 candidatas foram selecionadas por meio de um casting, onde concorriam 25 mulheres. O processo teve em conta o tamanho de cintura (para modelos plus size o tamanho é de 44 a 46), a desenvoltura e personalidade. A preparação para o concurso teve a duração de um mês e meio, por causa das aulas de adaptação aos saltos e correção da postura.

“De uma maneira geral, as plus size não tem tido visibilidade em relação às pessoas com “corpo dito padrão”, vemos isso na televisão e passarelas”, lamentou Emily, que acrescenta que a meta do concurso é dar visibilidade e mudar a mentalidade tanto dos homens como mulheres, especialmente no campo da moda e publicidade, para tornar Cabo Verde num país que acolhe e emprega estas mulheres.

“Certas palavras podem não ter significado para quem diz, mas para a pessoa que está a ouvir acabam por entrar na mente de uma forma inexplicável”, advertiu, adiantando que desde o anúncio desta edição a organização e as modelos têm recebido comentários de ódio que afirmam que não “merecem subir nas passarelas”, chamando-as de “gordas” e de “Miss para as gordinhas”.

A jovem de 22 anos agradece os comentários positivos que tem recebido e considera que o trabalho da equipa tem tido um bom impacto bom na sociedade. Por isso querem continuar a fazer mais edições deste concurso, entretanto, os desafios financeiros persistem. Segundo Emily o plano é não parar e além da Miss Plus Size realizar também Mister Plus Size. A representante do concurso afirma que conhece diversos homens e rapazes que poderiam participar do concurso.

Noite de música e teatro

O concurso Miss Plus Size acontece nesta sexta, dia 14 de abril, pelas 19 horas no Auditório Nacional. Além de celebrar a beleza feminina o evento conta com atuações inéditas na sua 2.ª edição.

Flávio Lúcio, Thairo Kosta, Batucadeiras, Afrovilla Vitória, Alphaboy atuam na noite, bem como a companhia teatral Fladu Fla.

Celine Salvador / estagiária

 

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