“O mais sustentável que se pode fazer para ajudar o ambiente é comprar menos”. Os conselhos de uma consultora de imagem

De que forma podemos usar a roupa para nos expressarmos? Como é que podemos criar uma identidade visual? Como não comprar peças que nunca usamos? Estas são algumas das dúvidas esclarecidas pela Tânia Valle, consultora de imagem portuguesa que esteve em Cabo Verde.

Num mundo onde cada vez mais as pessoas são bombardeadas com conteúdos e onde as redes sociais vendem imagens de corpos perfeitos e padrões de beleza que nem sempre correspondem à realidade, como não cair na tentação de correr atrás das tendências e, consequentemente, não comprar em excesso e por mero impulso? 

“O mais sustentável que tu podes fazer hoje em dia para ajudar o ambiente é comprar menos”. A afirmação é da consultora de imagem Tânia Valle, com mais de 10 anos de experiência na área, que explica de que forma é possível comprar menos mas, em contra partida, peças mais adequadas ao nosso estilo, silhueta, etc.

Mas afinal em que consiste a consultoria de imagem e de forma é possível criar uma identidade visual para uma pessoa?

“Quando falo em identidade visual normalmente associamos isso com uma empresa, o que eu acho que acontece hoje em dia com cada um de nós é que acabamos por funcionar muito como uma empresa, no sentido em que há cada vez mais trabalhadores independentes, cada vez mais a nossa imagem tem mais poder e impacto. Então, quando falo em identidade visual, falo mesmo como se fosse tu sendo uma marca, tu tens o teu marketing pessoal, de que forma te consegues vender, dar a entender o teu produto(…)

Quando falamos de identidade visual é precisamente isso a ‘brand image’, que é tu teres uma imagem que te define, que vai ao encontro dos teus valores, da tua personalidade, as coisas que tu gostas, aquilo que é o teu trabalho, etc.

Identidade visual é isso tentar trabalhar a tua imagem, que incorpora a comunicação verbal e não verbal, não tem só a ver com a roupa, mas também a etiqueta e a linguagem corporal (…). Fala-se muito nisso, por exemplo, numa entrevista de emprego, de teres cuidado como te sentas, se pões os ombros para trás, se estás confiante ou não. E a roupa é uma parte importante disso porque vai comunicar (…).

Nós comunicamos quer de forma verbal, mas também através da comunicação não verbal. E isto é útil numa entrevista de emprego por exemplo. Usar a nossa imagem e roupa para chegarmos onde queremos.

Quando vestimos uma roupa com a qual nos sentimos bem, a nossa maneira de nos dar e de falar com os outros vai ser muito mais aberta”.

Cada cor, uma mensagem

Se cada cor transmite uma mensagem, o uso de cores erradas pode transmitir a mensagem que não se quer no momento.

Tânia Valle destaca a importância de se saber usar as cores dentro da palete que é mais favorável à coloração natural de cada pessoa.

“Todos nós consoante a nossa coloração natural que é um misto entre tom de pele, tom do cabelo e cor dos olhos, temos cores que nos favorecem, que nos fazem ficar com um ar mais saudável, que nos dão força”.

“Nós podemos usar as cores dessa forma, para nos defendermos, para passar a imagem correta e usar as cores em nosso benefício. Por exemplo, num dia sem energia, usar uma cor que me dá mais energia. Usamos as cores consoante também o momento, por exemplo, o cliché que toda a gente diz que em casamentos não se deve usar nem branco nem preto, há um certo ‘dress code’ associado a certas situações, e fora isso, perceberes as cores que te favorecem”.

Mulheres sentem-se mais pressionadas a serem bonitas?

Sobre a pressão social, que incide principalmente sobre as mulheres, para se enquadrar dentro dos padrões impostos pela sociedade, hoje em dia cada vez maior online, Tânia Valle salienta que numa época em que há muitas soluções para mudar o corpo, a consultoria de moda visa a aceitação.

“Na consultoria o que tu fazes é olhar para ti como tu estás e aprendes a trabalhar com o que tens. Consoante a minha estrutura, a minha coloração natural, como é que eu consigo evidenciar os meus pontos fortes, que me favorecem mais, e camuflar as partes com as quais eu me sinto menos segura”.

“Por mais que tu digas que não és influenciável e que tens uma grande autoestima, se tu vais ao Instagram e só vês corpos curvilíneos e nádegas grandes, e se tu não tens isso, por mais que a tua confiança seja alta, é normal que ao longo do tempo se só vês isso e não vês aquilo, tu achas que o teu corpo não é bonito. Há sempre uma mensagem muito subtil e para nós (mulheres), que somos bombardeadas por tanta informação onde os padrões de beleza são muito elevados, a pressão é muito maior”.

A consultora faz questão de salientar que camuflar, não é esconder, é trabalhar para que “a roupa funcione de maneira a que tu te olhes ao espelho e não vejas as inseguranças. (…) é aceitar e aprender a trabalhar com o que se tem”.

“Criar uma silhueta de maneira a que tu te olhes no espelho e o olhar vai focar-se nas zonas que tu gostas”.

Quando as marcas não retratam a realidade corporal da população

Apesar de alguma tendência para mudar, Tânia Valle concorda que os tamanhos das marcas internacionais tendencialmente não acompanham a diversidade dos corpos, por isso muitas destas marcas não são inclusivas, nem retratam a realidade corporal da população, o que acaba por gerar frustração.

é muito injusto basear-se em números, porque consoante a marca e o modelo de roupa, uma pessoa pode vestir tamanhos diferentes”

“Por isso que nós em consultoria de imagem nunca falamos em peso”, explica a especialista e acrescenta que “é muito injusto basear-se em números, porque consoante a marca e o modelo de roupa, uma pessoa pode vestir tamanhos diferentes”.

O não encontrar uma peça no tamanho que a pessoa considera que é o seu, pode acabar por gerar frustração no consumidor.

Tânia que faz compras com clientes e diz que por vezes as clientes mostram em resistência em experimentar um tamanho que não seja o que normalmente vestem. “Eu olho para o modelo, não para o tamanho … Digo sempre: Experimente. Não se foquem no número”.

Normalmente, o mais importante é usarmos as cores que nos favorecem da cintura para cima

A consultora explica que online é mais fácil encontrar maior diversidade de números.

Como transformar uma ‘peça não’, numa ‘peça sim’?

O segredo para transformar uma peça que se gosta mas que não fica tão bem é combinar com outras peças, acessórios e tonalidades, explica a consultora de imagem portuguesa esteve em Cabo Verde e deu um workshop sobre Consultoria de Moda, na cidade da Praia em finais de janeiro.

“Normalmente, o mais importante é usarmos as cores que nos favorecem da cintura para cima. Porquê? A luz solar quando bate em nós, bate nessa zona e reflete sobre o rosto. Portanto, o mais importante é usarmos as cores que nos favorecem na parte superior porque são essas que vão ter influência sobre o nosso rosto”.

Usar pequenos truques com modelos de roupa que gostamos, mas que não favorecem a silhueta como um cinto para definir a área da cintura, por exemplo. “Há sempre maneiras de se transformar peças”.

Promover o consumo mais sustentável

Mas então como evitar o consumo em excesso e comprar peças que realmente fazem falta?

uma compra sustentável e amiga do ambiente é quando compramos uma peça à qual se dá uma vida longa

Segundo Tânia Valle, há muitas pessoas que veem a moda exclusivamente como tendência, uma ideia que a consultora desconstrói.

“Na consultoria não se trata de comprar tendências, trata-se de comprar peças que são o teu estilo. A tendência é o quê? É uma moda sazonal. Antigamente eram lançadas duas por ano. Hoje em dia há tendências quase todos os meses, embora as apresentações das coleções normalmente são quatro por ano, mas tu vais às lojas e vês, as tendências estão sempre a sair e isso apela ao nosso consumismo. Achamos que para andar na moda temos de estar sempre a comprar o que se usa.

A consultoria é o oposto, ou seja, quando tu te conheces e percebes o que funciona para ti, tu percebes quais das tendências funcionam para ti”.

A especialista que trabalha atualmente em Portugal com grupo empresarial multinacional, aconselha a fazer várias questões antes de fazer uma compra. “Vou dar uso? Combina com o meu estilo e vai de acordo com a minha personalidade e a minha maneira de vestir? Vai de acordo com as cores que eu gosto, uso e me ficam bem? Favorece-me? Vai de acordo com o modelo que favorece o meu corpo? Se responderes sim a estas perguntas todas, estás a fazer uma boa compra, porque vais acabar por usar várias vezes e não vais usar só porque é tendência (…) isto é uma compra consciente e não feita por impulso”.

Outro conselho é evitar o ‘window shopping’, ou seja, ir passear e acabar por comprar coisas que normalmente não são precisas. Tânia Valle diz que é preferível guardar algum montante e fazer compras duas vezes ao ano.

Antes de ir às compras, ir ao guarda-roupa e ver o que realmente faz falta. “Quando vais com uma lista de coisas que necessitas, não vais comprar coisas extra, ou seja não vais pelas tendências”.

Outra dica da consultora é tentar ir a lojas e marcas que se enquadram no estilo individual. “Se eu sou uma pessoa com um estilo mais desportista e confortável, não vou a lojas de estilo mais elegante para comprar uma peça acetinada, (…) a peça vai ficar no guarda-roupa e nunca mais usar”.

No entender desta especialista, uma compra sustentável e amiga do ambiente é quando compramos uma peça à qual se dá uma vida longa, ou seja, é usada várias vezes e em várias esferas da vida quotidiana.

Outra maneira de comprar sustentável é apoiar o comércio local e comprar em lojas mais pequenas, em vez das grandes cadeias da indústria têxtil.

Ter atenção aos materiais, optar por fibras mais naturais e respiráveis, como algodão ou a viscose, por exemplo, por um lado, a longevidade das peças feitas com estas fibras é maior e por outro, o processo de fabrico destes tecidos são menos poluentes do que dos tecidos mixed (inclusive os tecidos reciclados).

E para as peças que já não se usa, a especialista sugere algumas alternativas: doar para alguém que dê uma segunda vida, transformar as peças às quais se tem algum apego noutro objeto , dar para a reciclagem, entre outros.


Contudo, para esta especialista a única forma de comprar verde é comprar menos. “O mais sustentável que tu podes fazer hoje em dia para ajudar o ambiente é comprar menos. Ir menos vezes às compras e quando compras serem peças com as quais realmente te identificas e assim vais usa-las mais vezes ao longo da vida”.

E a consultoria de moda ajuda nisso, defende Tânia Valle.

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