“A desinformação pode matar”, alerta investigador português

Miguel Crespo fez esta afirmação durante a palestra “Desinformação/Fake News e Fact-Chek” que ministrou no âmbito do Dia da Liberdade de Imprensa em Cabo Verde.

O jornalista e investigador português Miguel Crespo, que se encontra em Cabo Verde, disse na tarde desta quarta-feira, 03, que para o jornalismo a desinformação é a maior poluição que existe e alertou que este fenómeno pode matar pessoas.

“É difícil medir o impacto na desinformação. Aquilo que sabemos é que, em última instância, pode matar pessoas. Pode matar as pessoas que recebem as informações ou pode matar outras pessoas se nós formos sugestionados a agir sobre outras pessoas. Na Índia há um caso documentado muito grande, numa pequena aldeia alguém pôs a circular no WhatsApp que dois pedófilos iam passar pela aldeia para roubar crianças e que vinham num carro vermelho. Quando dois homens iam passar pela aldeia num carro vermelho eles foram mortos. Ora esses homens não eram pedófilos e não tinham nada a ver, apenas tiveram o azar de chegarem os dois juntos num carro vermelho quando andou isto a circular nas redes sociais.”

Reforça que se a desinformação pode matar, pode fazer tudo. Para o investigador, a desinformação “influencia a forma como cada um age no dia a dia”, podendo influenciar a estabilidade democrática.

“Quando os partidos políticos ou grupos políticos se opõem uns aos outros e utilizam a desinformação para isso é uma consequência para todas as instituições. (…) Quando se deixa de confiar as coisas funcionam pior e isso causa problemas sociais. Quando estamos a falar de geopolítica, por exemplo, agora temos uma guerra em que há desinformação vindo de várias origens com objetivos de influenciar a opinião das populações nos países democráticos – quando não há democracia a desinformação não tem hipótese – para serem mais favoráveis à um ou outro. E, portanto, a desinformação na verdade pode afetar as nossas vidas de todas as maneiras possíveis e imaginárias.”

Segundo o jornalista, não é fácil reconhecer a desinformação, visto que, “esta se mascara de notícia”.

“(…)É muito mais fácil fazer desinformação do que fazer informação. Porque a informação só pode usar os factos, a desinformação é apenas imaginação. Qualquer pessoa pode fazer desinformação, é demasiado fácil fazer e ela vai existir e existirá cada vez mais. O problema é quando a desinformação é feita não por brincadeira, mas com algum objetivo concreto. E quando temos isso e as pessoas deixam-se influenciar por essa desinformação isso afeta as democracias, as cidades e a nós, obviamente, individualmente”, salienta e diz que a maior parte da desinformação tem interesse económico.

Uso de adjetivos, escrita sensacionalistas, promessas, resolução rápida de problemas, efeitos imediatos e motivação económica, são alguns aspetos que, segundo Miguel Crespo, ajudam a identificar a desinformação.

“Cada um de nós enquanto cidadãos provavelmente é que tem que resolver o problema, ou seja, nós temos que deixar de partilhar cegamente tudo aquilo que nos chega através da internet, nas redes sociais, que encontramos nas nossas pesquisas. Temos que olhar para a informação e questionarmos um pouco sobre se queremos partilhar, isto é verdade ou não?, isto é um facto ou não é?, será que eu não estou a ser enganado? Portanto, se calhar temos que em três segundos fazer três perguntas antes de partilhar. (…) O problema não é estarmos todos a partilhar uma desinformação, é basta 1 em 100 partilhar uma desinformação para ela chegar a mais 100.”

Para revelar uma desinformação o especialista aconselha: “desmascarar a ideia e não a pessoa; mostrar a história verdadeira recorrendo ao maior número de factos; descrever os passos da pesquisa e ser transparente; mas não se perca em indicar demasiado; lembre-se que também vão tentar pô-lo em causa.”

No final da sua apresentação, o especialista, que vem com certa frequência a Cabo Verde, deu 8 dicas para detetar a desinformação: “considere a fonte, verifique o autor, leia mais, fontes de apoio? Isso é uma piada? É preconceito? consulte um especialista”.

O especialista falava à margem do ciclo de conferências promovidas pela Associação Sindical de Jornalistas de Cabo Verde, AJOC, para assinalar o Dia da Liberdade de Imprensa. “Desinformação/Fake News e Fact-Chek” foi o tema da palestra do jornalista português.

Balai

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