Adolescentes dizem que direitos das crianças estão a ser pouco respeitados em Cabo Verde

O trabalho infantil, a falta de acesso à educação e a violência sexual contra menores são alguns dos problemas sociais que estão a preocupar os adolescentes praienses.

No âmbito do dia da Criança que se assinala a 1 de junho, em todo o território nacional com várias atividades, o Balai conversou com alguns adolescentes do Liceu Domingos Ramos, na Praia, sobre como avaliam o respeito pelos direitos das crianças em Cabo Verde.

A estudante do nono ano Taimara Andrade vê o dia como um momento “dos mais pequenos, num dia em que podem ser felizes e receber presentes”. Para a adolescente os direitos das crianças nem sempre são respeitados, exemplifica com o trabalho infantil que muitas crianças enfrentam nos dias de hoje, e pede para que as famílias deixem as crianças serem felizes e brincarem. Por outro lado, a jovem aconselha para que haja mais psicólogos nas escolas para dar apoio às crianças e adolescentes vítimas de violência sexual.

Já a adolescente Raissa Monteiro considera que os direitos das crianças têm sido pouco respeitados na sociedade cabo-verdiana. Segundo a adolescente, os problemas que mais constata em Santiago são o trabalho infantil, crianças nas ruas a pedirem dinheiro e a violência sexual. Por isso, a estudante do 9º ano considera importante celebrar o Dia das Crianças como forma de relembrar as pessoas que as crianças devem “divertir-se e serem felizes”.

Opinião partilhada também por Maira, também ela do nono ano: “É importante nunca esquecermos das nossas crianças porque são a geração futura”. Esta jovem chama a atenção para o crescente número de crianças que são obrigadas a trabalhar, em especial na capital cabo-verdiana, e aconselha os pais a deixarem as crianças terem momentos de lazer.

Para o estudante do 12º ano Adilson dos Reis, em Cabo Verde, alguns dos direitos das crianças têm sido respeitados como o acesso à educação e à habitação, contudo o jovem lamenta que muitas crianças enfrentem o trabalho desde muito cedo, perdendo a oportunidade de estudar, brincar e de fazer amigos.

“As crianças devem ser protegidas pelos pais e encarregados de educação. Devem vigiar se elas estão a conviver com boas pessoas porque a violência pode acontecer em qualquer altura”, alerta o jovem que acrescenta que os mais velhos devem estar atentos aos comportamentos das crianças. Adilson lamenta que nos tempos atuais muitos jovens e adolescentes estejam a entrar no mundo das drogas e do álcool, o que na sua opinião se deve à falta de ações por parte das autoridades cabo-verdianas. Por isso apela às mesmas para criarem mais medidas públicas para prevenir os jovens de entrarem nesse caminho.

Uma situação notada também pelo jovem Márcio Barros que explica que nas ruas da capital vê muitos jovens e adolescentes a usar drogas. O jovem de 20 anos pede medidas mais duras por parte das autoridades para evitar esse comportamento. Por outro lado, Márcio considera que em Cabo Verde “nenhum direito é respeitado”, o jovem aponta a falta de acesso à educação e o trabalho infantil como claros exemplos das violações dos direitos das crianças. “A violência sexual têm crescido dentro das zonas e nas casas também, é uma espécie de psicopatia”, sublinhou.

“É nojento, é um ato (violência sexual) extremamente nojento”, são as palavras que a adolescente Jacira usa para descrever a violência sexual contra menores e afirma que estes casos a tem deixado triste.

A jovem também defende que é importante assinalar o Dia 1 de junho. “É bom ser feriado porque podem dormir até mais tarde, brincar e divertir-se, um dia para se sentirem crianças sem as suas responsabilidades”, salienta Jacira.

Amilton Tavares vê a data como um dia para os mais velhos recordarem a infância e as crianças pensarem no seu futuro. O jovem lamenta que a maioria das pessoas não respeite os direitos dos menores, proibindo as crianças de frequentar as escolas mesmo com o ensino gratuito até o oitavo ano. O estudante do 12º ano manifesta-se preocupado com a violação dos direitos das crianças e o aumento de casos de violência sexual no país. “É claro que esta é uma prática errada, aconselho as crianças a falarem com os pais quando identificarem comportamentos estranhos de outras pessoas. Acho que podiam fazer palestras nas escolas para incentivar a denúncia “, sugere o jovem.

A adolescente Josiane Gomes aconselha a criação de um programa para consciencializar as pessoas sobre os direitos das crianças e prevenir a violência sexual. Aponta ainda a terapia e o acompanhamento dos menores que sofrem por abusos sexuais como outras medidas a serem implementadas. A jovem concorda que o Dia das Crianças deve ser comemorado sempre por todos porque é um momento de valorizar e dar alegria aos pequenos. Ao contrário dos restantes entrevistados, a adolescente pensa que uma grande parte dos cabo-verdianos respeita os direitos das crianças.

Opinião diferente tem a adolescente Tamires Monteiro que defende que os direitos das crianças têm sido constantemente violados pelas pessoas, mas considera que não existe a necessidade de incluir uma nova lei para proteção das crianças no país. A jovem salienta que cabe a todos proteger as vidas das crianças.

O Dia da Criança é assinalado em diferentes datas, consoante o país. Em Cabo Verde, é celebrado no dia 1 de junho. Oficialmente, é assinalado pela ONU em 20 de novembro, data em que foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos da Criança em 1959 e a Convenção dos Direitos da Criança em 1989.

Celine Salvador / estagiária

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