Cabo-verdianos lideram projeto sociolinguístico-etnográfico dos lusófonos no Luxemburgo

Os investigadores cabo-verdianos Bernardino Tavares e Aleida Vieira estão a liderar um projeto sociolinguístico-etnográfico que investiga as interações sociais, linguísticas e laborais, assim como os encontros de migrantes lusófonos no Luxemburgo, como um país multilingue.

O projeto DisPOSEG (Investigates social, linguistic and labour interactions of Lusophone migrants in Luxembourg, em inglês), abrange diversos grupos de indivíduos que partilham a língua portuguesa, mas não as mesmas posições históricas.

Com doutoramento em Sociolinguística, Bernardino Tavares, natural de Tarrafal, investigador principal do projeto, explicou que há muitos lusófonos que chegam ao Luxemburgo, que mesmo com uma formação académica “elevada”, mas por causa da língua, acabam por concentrar-se nos tipos de trabalho que “não são comensuráveis” com as suas formações, trazendo uma certa estratificação social.

“É um projeto sobre migração lusófona no Luxemburgo, onde tentamos perceber as interações de todos os lusófonos e os países de língua oficial portuguesa no contexto de trabalho aqui no Luxemburgo.

O nosso objetivo é tentar compreender como é que a sua história comum pode afetar de uma forma positiva ou menos positiva na sua interação de trabalho”, explicou o investigador principal do DisPOSEG.

Para Bernardino Tavares, que veio de Cabo Verde para continuar os estudos na Universidade de Coimbra, em Portugal, e depois candidatar-se a um projeto sobre migração cabo-verdiana no Luxemburgo, onde fez o doutoramento em 2018, “Luxemburgo é um bom país, tem boas condições e muitas opções de trabalho e as pessoas lutam”.

Entretanto, mostra-se ciente de que também há desafios em relação à língua, já que as línguas oficiais administrativas nesse país europeu são luxemburguesa, francesa e alemã, e às vezes, os migrantes lusófonos acabamos por ter “algumas dificuldades”, por causa disso.

Por sua vez, a investigadora Aleida Vieira, que nasceu em Cabo Verde e veio para Portugal ainda criança, antes de ir para o Luxemburgo, onde fez o mestrado em Engenharia de Mediação de Conflito, é por causa dessa diversidade linguística que ela trabalha com os lusófonos e portugueses, tentando sempre usar a língua com a qual a pessoa está mais à vontade.

“É um projeto em andamento, começou em 2021 e tem a duração de três anos, estamos na fase de análise de todos os dados recolhidos, mas até ao momento percebemos que há quase que uma reprodução da história colonial que temos entre Portugal e ex-colónias, mas também por ser um terceiro espaço, observamos uma diferença no sentido em que tem uma reversão desta hierarquia, ou seja, por exemplo, através da língua, um cabo-verdiano pode ser chefe de um português”, explicou.

Financiado pelo Fundo Nacional de Pesquisa do Luxemburgo, o DisPOSEG quer fornecer um relato detalhado e aprofundado das relações dos migrantes lusófonos (originários de Cabo Verde, Portugal, Brasil, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique) no Luxemburgo, moldadas (ou não) pelo colonialismo, pela língua e pelos regimes de migração.

O projeto DisPOSEG visa uma compreensão acrescida da mobilidade e da migração, explorando (re)arranjos e solidariedades estre estes migrantes num terceiro espaço, o Luxemburgo, para além da velha dicotomia de países (ex-)colonizadores e países colonizados.

De acordo com os investigadores, atualmente, a estatística no Luxemburgo é um bocadinho complexo, porque não levam em conta a questão da dupla nacionalidade, já que, por exemplo, dizem que os portugueses são quase 100 mil e os cabo-verdianos somente um pouco mais que 2.000, quando na realidade, se se for ver as pessoas que têm dupla nacionalidade, só cabo-verdianos podem chegar a mais de 15 mil.

No âmbito da visita de Estado do Presidente da República ao Luxemburgo, os investigadores entregaram um documento onde expõem os objetivos e a importância do DisPOSEG, e esperam que resulte no reforço da cooperação académica entre a Universidade do Luxemburgo (Uni.lu) e a Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

Inforpress

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