
Sexta-feira, 8 de Dezembro, 2023
“A pandemia iniciou, exactamente, no segundo ano da minha residência de especialidade em Medicina de Família e Comunidade. No início, foi muito difícil, visto que, se tratava de uma doença nova e todos tinham medo, até os médicos”, diz e salienta que aos poucos começou a aprender a lidar com a doença.
Diz que tive que mudar a rotina de trabalho para atender os pacientes com testes positivos. “Fomos desviados das nossas funções para atendermos cerca de 4 vezes por semana, o que acabou por atrapalhar bastante o nosso cronograma de residência”, diz.
Carla já perdeu muitos pacientes pela Covid-19. “Foi uma experiência única, diferente e triste. Perdi muitos pacientes. Na clínica onde trabalho atendemos casos leves, mas eventualmente chegam pacientes graves para o quais temos que solicitar uma ambulância e encaminhar para as urgências”.
A médica diz que tem sido uma experiência difícil, mas gratificante. “Os profissionais da saúde receberam muito apoio da população. O Sistema Único de Saúde (SUS) é menosprezado e na pandemia os brasileiros conseguiram ver o valor que a saúde pública tem. Então esse reconhecimento chegou em uma boa hora”.
Segundo a cabo-verdiana, as políticas contraditórias à ciência tem sido outra dificuldade no combate ao coronavírus. “Temos visto políticos influentes na sociedade a indicarem tratamentos que já foram comprovados que não são eficazes contra a Covid-19. Temos uma população que acredita nos políticos e temos atendido pacientes que chegam a pedir tratamento precoce. Temos tido alguns problemas com uma parte da população que solicita esse tipo de tratamento”.
Apesar de não ter trabalhado nas urgências, a médica diz que os profissionais da saúde que trabalham nesta área e na CTI são os que mais sofrem. “São pacientes a morrerem em pouco espaço de tempo, outros a serem intubados, (…). É uma pressão bem grande”.
Questionada se tem acompanhado a situação epidemiológica em Cabo Verde, a médica diz que não tem tido muito tempo. “Pelo pouco que tenho visto a situação no país não está tão grave como noutros países. Mas fico preocupada no que tange à prevenção. Não sei como estão as restrições em Cabo Verde, mas as festas são algo que tenho acompanhado na internet e é algo que me preocupa. Acho que o governo poderia proibi-las por um certo tempo para prevenir a transmissão. Sei que a economia está a sofrer, mas é algo a se considerar”.
Por ser médica e estar na linha da frente, Carla esteve no grupo dos primeiros a serem vacinadas no Brasil. “Foi um dia muito especial, que vai ficar gravado na memória pela eternidade. Foi emocionante, porque não cogitava viajar para Cabo Verde em novembro de 2020 sem ser vacinada. Então para mim a vacinação foi um passo para estar mais próxima de ir a Cabo Verde e de estar com a família”.
Carla foi vacinada com o CoronaVac, a vacina chinesa produzida no Brasil pela Butantan, e não teve nenhum efeito colateral. “Não tive febre, apenas uma dor no braço como qualquer outra vacina. Foram duas doses e agora sinto-me um pouco mais segura. Apesar de saber que mesmo vacinada tenho que continuar a usar máscaras, lavar as mãos, passar álcool em gel. Sabemos que mesmo vacinados, existe a possibilidade de sermos contaminados”.
A médica não sabe como o mundo será daqui a alguns anos, mas tem a certeza que daqui a alguns meses, mesmo com a vacina, temos que continuar a prevenir. “Já há muitas pessoas vacinadas e a orientação é continuar a seguir as medidas de prevenção. Espero que daqui a 2 anos o mundo volta ao normal. Sem máscaras, mas com distanciamento, evitar aglomerações, proteger os nossos idosos, quem tiver gripe deve se resguardar… porque não é sobre nós, mas sobre a nossa comunidade como um todo”.
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