Centenas de cidadãos do Mali e da Costa do Marfim deixam a Tunísia para fugir a onda de ataques

Onda de ataques racistas começou depois de o Presidente Saied ter ordenado “medidas urgentes” para combater a migração irregular porque “uma conspiração criminosa” estava em andamento “para mudar a composição demográfica da Tunísia”.

Cerca de 280 cidadãos do Mali e da Costa do Marfim deixaram a Tunísia neste sábado, 4, depois de uma onda de ataques e demonstrações de hostilidade contra eles, na sequência de uma forte investida do Presidente Kais Saied contra migrantes em situação ilegal.

No dia 21 de Fevereiro, Saied ordenou que as autoridades tomassem “medidas urgentes” para combater a migração irregular, alegando, sem provas, que “uma conspiração criminosa” estava em andamento “para mudar a composição demográfica da Tunísia”.

Ele acusou ainda os migrantes de países da África Subsariana de estarem por trás da maioria dos crimes no país, o que alimentou uma série de demissões de emprego, despejos de casas e ataques físicos.

A União Africana expressou “profundo choque e preocupação com a forma e o conteúdo” dos comentários de Saied, enquanto alguns governos decidiram promover o regresso de centenas de cidadãos temerosos que se aglomeraram nas respectivas embaixadas em busca de ajuda.

Um diplomata do Mali disse à AFP que hoje “embarcamos 133 pessoas”, incluindo “25 mulheres e 9 crianças, além de 25 estudantes” no avião que deixou a Tunísia no final da manhã.

Duas horas depois, outro avião repatriou 145 marfinenses segundo o embaixador da Costa do Marfim na Tunísia, Ibrahim Sy Savané, contactado pela AFP.

O discurso do Presidente, condenado e classificado por organizaçãoes não governamentais de “racista e odioso”, provocou protestos na Tunísia, onde desde então cidadãos dos países África subsaariana denunciaram um aumento de ataques contra eles, tendo dezenas procurado as respectivas embaixadas para pedir o regresso aos seus países de origem.

Diante da Embaixada do Mali, onde se podiam ver centenas de malas e embrulhos, os imigrantes afirmaram fugir das ameaças.

“Os tunisinos não gostam de nós, então temos que ir embora, mas os tunisinos que estão connosco devem ir também”, disse Bagresou Sego à AFP, antes de embarcar em direcção do aeroporto num autocarro fretado pela embaixada.

Abdrahmen Dombia, há quatro anos no país, interrompeu os estudos de mestrado a meio porque a “situação aqui é crítica, estou a regressar porque não estou seguro”.

Baril, outro imigrante em situação ilegal, expressou a preocupação com os que ficaram para trás.

“Pede-se ao Presidente Kais Saied, com grande respeito, que pense nos nossos irmãos e os trate bem”.

Actos racistas

O Governo da Costa do Marfim informou que 1.300 cidadãos registaram-se para regressar voluntariamente ao país, um número significativo para esta comunidade que, com cerca de sete mil pessoas, é a maior da África subsaariana na Tunísia, graças à isenção de visto à chegada.

Cerca de 30 estudantes marfinenses, em situação regular, estão entre os repatriados.

“Eles não se sentem confortáveis, alguns foram vítimas de actos racistas, outros estão no final dos estudos, outros os interromperam”, disse à AFP por telefone do aeroporto Michaël Elie Bio Vamet, presidente da Associação de Estudantes Marfinenses.

“Há ataques quase todos os dias, ameaças, ou são expulsos por seus proprietários, ou agredidos fisicamente”, acrescentou.

Dezenas de estudantes da África subsaariana matricularam-se em universidades ou centros de treinamento na Tunísia.

Assustados, muitos já partiram por conta própria, segundo fontes diplomáticas.

A Associação de Estudantes Estrangeiros (AESAT) documentou o ataque a 26 de Fevereiro contra “quatro estudantes marfinenses que saíam do seu dormitório universitário” e de “uma estudante gabonesa na frente à sua casa”.

Após o discurso do Presidente no dia 21, a a AESAT instruiu os alunos a “ficarem em casa” e a não “irem às aulas”, pelo menos até o dia 6 de Março.

C/AFP

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