
Quarta-feira, 31 de Maio, 2023
“As crises não fizeram desaparecer as vantagens comparativas de Cabo Verde, como um país com baixos riscos políticos e sociais e baixa corrupção; uma democracia liberal constitucional com bom posicionamento nos rankings internacionais; um país aberto ao mundo e com uma economia aberta”, afirmou o chefe do Governo.
Ao intervir na cerimónia de abertura da segunda Conferência Internacional de Parceiros (CIP), realizada na ilha da Boa Vista, Ulisses Correia e Silva disse que “as crises não abalaram a confiança em Cabo Verde”.
“Confiança dos cidadãos nacionais e da nossa diáspora; confiança dos empresários e investidores e dos parceiros de desenvolvimento”, insistiu, dizendo que, apesar das crises, o interesse, a confiança e a procura externa pelo arquipélago para a realização de investimentos e as condições criadas para o empresariado nacional fizeram aumentar a carteira de investimentos privados.
Como exemplo, disse que as remessas financeiras dos emigrantes atingiram 375 milhões de dólares (cerca de 340 milhões de euros), representando 18,2 % do PIB, em 2022, e a procura turística bateu recorde no ano passado, registando 853 mil turistas, número superior ao 2019, antes da pandemia de covid-19.
O chefe do Governo salientou que foi num contexto excecional e difícil que o país elaborou o Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável 2022-2026 (PEDS II – 2022-2026), e durante a conferência espera mobilizar 2.000 milhões de euros para “projetos transformadores” constantes nesse instrumento.
“São transformações que exigem reformas, políticas e investimentos públicos. Criam oportunidades de investimento privado e de parcerias público-privadas que são os impulsionadores do crescimento económico”, defendeu Correia e Silva, entendendo que um dos pontos críticos que o país tem que ultrapassar é o desfasamento entre o tempo necessário para produzir os impactos e os recursos alocados.
“Existem projetos-pilotos interessantes, mas levam 50 anos para produzirem impactos por causa da sua dimensão e de incertezas quanto à sua continuidade. O impacto é também normalmente piloto e localizado, portanto diminuto”, prosseguiu o primeiro-ministro.
A conferência está a decorrer sob o lema “Impulsionar mudanças e acelerar o desenvolvimento”, e conta com a presença, física e virtual, de todos os parceiros de desenvolvimento de Cabo Verde, quer públicos e privados, nacionais e internacionais.
Durante dois dias, o Governo vai apresentar os seus projetos e a sua visão de desenvolvimento e espera mobilizar recursos para a sua realização.
Além dos parceiros tradicionais e existentes, Cabo Verde quer ainda mobilizar parceiros emergentes, com foco na região africana, instituições de financiamento climático, setor privado nacional e internacional, a diáspora e os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS, na sigla em inglês).
O PEDS II foi apresentado pelo Governo cabo-verdiano em 2022, concebido para consolidar a estratégia de desenvolvimento sustentável e acelerar transformações estruturais que tornem o país mais resiliente e menos vulnerável a choques externos.
No documento preconiza-se um crescimento económico médio anual não abaixo de 5%, a erradicação da pobreza extrema até 2026, a redução da pobreza absoluta e a redução das assimetrias regionais, reforçando a coesão territorial e a coesão social.
O plano pretende cumprir os objetivos estratégicos de Cabo Verde, nomeadamente garantir a recuperação económica, a consolidação orçamental e o crescimento sustentável, promover a diversificação e fazer do país uma economia de circulação localizada no Atlântico médio.
Cabo Verde está a recuperar de uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística – setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago – desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.
Em 2020, registou uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB, seguindo-se um crescimento de 7% em 2021 impulsionado pela retoma da procura turística e no ano passado recuperou totalmente dessa quebra, com a economia a crescer 17,7%, impulsionado pelo turismo, de acordo com dados das Contas Trimestrais do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Lusa