
Quinta-feira, 7 de Dezembro, 2023
Nuno Almeida é um mindelense de 44 anos que após viver durante 14 anos na Holanda, deixou o emprego no ramo da aviação e decidiu criar o “Mussim d mandod” um serviço de entregas na ilha de “Monte Cara”.
O ano era 2003, quando Nuno Almeida movido pelo “espírito aventureiro” decidiu embarcar para a Holanda. Após alguns anos voltou para Cabo Verde a serviço da companhia aérea onde trabalhava que fazia voos diretos da cidade de Amsterdam para São Vicente. Ao fim de quatro anos de serviços prestados decidiu ficar de vez em São Vicente.
Durante um jantar num restaurante português, com uma amiga que hoje é sua sócia, o dono do estabelecimento comentou com ambos de que “gostaria de ter alguém para fazer-lhes entregas mas, que fosse sem um vínculo laboral”.
“Voltei para casa com essa ideia em mente e no dia seguinte, durante uma conversa telefónica com essa amiga, contei que tive um sonho em que criamos a empresa que aquele senhor português comentou connosco”, relata Nuno em entrevista ao Balai, que logo depois conseguiu convencer a amiga a arriscarem-se no negócio.
Foi então que em 2018 criaram o “Mussim d mandod”, antes com um outro nome que hoje entendem que “não transmitia muito o propósito do negócio”, por conta disso adotaram um “termo popular” em São Vicente, que de acordo com Nuno, é usado para referir-se às crianças que fazem pequenos favores aos mais velhos, por terem mais agilidade.
Inicialmente as entregas eram feitas utilizando uma bicicleta que Nuno tinha em casa. Faziam entregas de comida, flores e produtos farmacêuticos, inclusive dos pratos do restaurante português onde tudo começou, mas hoje tudo é feito sobre as duas rodas da sua moto que foi adquirida após o “sucesso” do negócio.
“A nossa primeira entrega foi num hospital e até hoje guardo a primeira nota de duzentos escudos, que foi a quantia recebida pelo serviço de entrega de medicamentos,” recorda.
Segundo Nuno, apesar dos serviços de “delivery” não serem uma novidade em outras paragens, como na Holanda, por exemplo, que é mais considerado um part-time do que um trabalho a tempo inteiro dito, em São Vicente a recepção foi outra, era algo “totalmente novo”, como avança o empreendedor.
“De início nem tínhamos uma hora para comer, bastava-me pegar na cadeira para sentar, que o telefone tocava logo, indicando novas entregas a serem feitas”, acrescentou.
A “reviravolta” no negócio aconteceu em 2020 durante a pandemia da covid-19, quando decidiram confeccionar as suas próprias encomendas.
“É que mesmo com licença para fazer entregas à domicílio, principalmente de medicamentos durante a quarentena, sentimos uma diminuição nos pedidos devido ao encerramento de alguns estabelecimentos”, conta.
Atualmente o “Mussim d mandod” ainda faz entregas de produtos de terceiros como restaurantes e floricultura local mas, dedica-se principalmente às encomendas que são confeccionadas pela sócia, Aline Martins, que variam desde cestas à buquês de frutos, salgados, doces, bebidas e tábuas de frios.
Apesar de classificar a demanda pelos serviços como “boa”, o empreendedor não perspetiva a contratação de mais pessoal para a equipa nem o alargamento para fora de S.Vicente.
“As entregas são bastante pontuais, o que nos permite dar conta do recado, uma vez que trabalhamos exclusivamente com isso. Expandir para outras ilhas pode ser um pouco difícil, significaria um tipo de compromisso que não transmitirá mais a nossa ideia sobre aquilo que é o “Mussim d mandod”, explica-nos.
Sobre ser empreendedor aos quarenta, Nuno Almeida manifesta a sua preocupação em relação a isso, em Cabo Verde.
“Há muitos programas e iniciativas para incentivar o empreendedorismo jovem, o que é muito bom, mas quando se fala de alguém da minha idade, o cenário é diferente. Da mesma forma que criam programas para jovens, deveriam adaptar algo para nós também, porque há pessoas que só conseguem viver o seu sonho nessa idade, devido às circunstâncias da vida”, comentou.
De porta em porta com a sua moto, Nuno Almeida continua a distribuir “alegria” e a fazer a “diferença” no dia a dia dos são-vicentinos com as encomendas personalizadas e os “serviços de estafeta” entregues na mota do Mussim d mandod.
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