Pescador declara paixão pela profissão mas quer filhos afastados das lides da pesca

O santantonense João de Deus Rodrigues desde criança abraçou a profissão de pescador, que se tornou numa das suas maiores paixões, mas, garantiu estar a desestimular os filhos a lhe seguir os passos perante tantas dificuldades.

João de Deus, 46 anos, que falou com a Inforpress à margem do Dia Nacional do Pescador, é natural de Ponta do Sol (Santo Antão), onde aprendeu, aos 09 anos, a estar em cima de um bote, remar, pescar com o pai e os tios.

Há nove anos decidiu mudar de residência, vindo para Mindelo, onde também exerce a mesma profissão, tendo a praia de Bote e a Baía do Porto Grande como sua realidade.

Entretanto, tal como disse, a labuta diária de procura de pescado e tentar tirar o sustento da família “não tem sido nada fácil” devido às “dificuldades e mais dificuldades”, que o tem feito sentir-se um “tanto ou quanto desgostoso” por perseguir essa “paixão”, que não quer para os seus filhos.

“Tenho tentado colocar os meus filhos noutros caminhos, porque futuramente não vão conseguir viver da pesca”, lamentou João de Deus, apontando como exemplo a dificuldade até de se encontrar peixes no período diurno, o que obriga à pesca só de noite, com auxílio da Lua ou então de luzes.

Este proprietário da embarcação “Patrícia” coloca no rol dos entraves a “alta taxa de imposto” para circulação dos botes, que, no seu caso, são 15 mil escudos, para um único barco com dez funcionários a seu cargo

“E depois retorno não há, porque quando apanhamos um peixe, chegando ao cais, a sua venda é fraca e quem ganha com ele são as peixeiras”, explicou a mesma fonte, adiantando mal conseguir cobrir todas as despesas da pesca e de lucros “nem se fala”.

João de Deus apontou como um dos responsáveis da situação a pesca feita pelos barcos estrangeiros beneficiários dos acordos de pesca.

“Enquanto, eles pescam 40 toneladas de peixes num dia, eu só consigo daqui há dez ou 20 anos”, considerou, com a ideia de que os proprietários das embarcações artesanais estão numa “cadeia a tentar sobreviver” e sempre sujeitos a serem multados se ultrapassarem as cinco mil milhas impostas pela lei.

Por esta razão, João de Deus disse ter tentado outras alternativas dentro do sector marítimo, com a formação que frequentou para mergulhador profissional, mas, até agora não viu qualquer reconhecimento.

“Estou muito triste, fiz um curso, mas, não há apoio para tal, porque somos um grupo que consegue nadar com garrafas e, por exemplo, procurar pessoas perdidas no mar, mas, quando isto acontece eles (as autoridades) vão e não levam nenhum mergulhador consigo”, criticou.

Mesmo assim, este pescador admitiu ser o mar o lugar onde melhor se sente e onde pretende ficar até morrer, embora, não tenha garantias de uma reforma quando tiver mais idade.

O Dia Nacional do Pescador comemora-se hoje e foi instituído por resolução do Conselho de Ministros nº5/2003 de 24 de julho, com vista a prestar um “justo reconhecimento” aos pescadores cabo-verdianos e homenagear a memória de todos aqueles que ao longo dos anos têm se dedicado à atividade da pesca.

A data objetiva ainda alertar a população para a necessidade de “maior valorização” da atividade da pesca e incentivar as comunidades piscatórias a participar e usufruir do processo de desenvolvimento nacional.

Inforpress

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