
Quarta-feira, 22 de Março, 2023
Hermenegildo Fortes e António Tavares são dois pescadores da comunidade de Sinagoga e ambos têm uma história de vida semelhante, pois, aos 16 anos, devido os parcos recursos dos familiares, deixaram os estudos desafiados pela.
À Inforpress, esses homens do mar disseram que de tanto ver os mais antigos irem nos botes para a faina começaram a sentir-se “atraídos” pela pesca.
No caso de Hermenegildo Fortes, filho de pai pescador, foram duas tentativas de se lançar ao mar rumo a aventura “mais fantástica” da sua vida.
A primeira tentativa, conforme contou, foi “frustrada”, pois não o deixaram subir ao bote, mas, à segunda, Hermenegildo Fortes segurou “tão forte” o bote que não conseguiram soltar as suas mãos e de lá prosseguiu viagem rumo à ilha deserta de Santa Luzia, onde segundo o mesmo passaram vários dias.
“Adoeci, acho que por ter bebido muito leite de vaca, passei mal. Depois trouxeram-me à Salamansa [São Vicente], onde estive mais algum tempo e quando as aulas começaram resolveram trazer-me para Sinagoga” explicou.
Mesmo a estudar, Hermenegildo salientou que continuava a ir ao mar com o pai e que quando terminou a quarta classe, por falta de recursos para prosseguir os estudos, abandonou a sala de aula e aventurou-se no mar definitivamente.
“Na altura ia como passageiro, pescava, reservava o que tinha pescado à parte e ao chegar em terra repartia com o dono do bote. Nisso aprendi, comecei a pescar bem e a navegar botes. Íamos pescar no Ilhéu Raso e passávamos vários dias a pescar” lembrou.
A zona piscatória de Sinagoga era antigamente conhecida pelas aventuras de apanha da cagarra, mas em meados de 2004, com a introdução da lei da proteção das espécies marinhas, os pescadores tiveram que deixar esta prática.
E, de lá para cá, segundo o nosso entrevistado, a atividade pesqueira em Sinagoga “regrediu” e já não há “nenhuma” prespetiva para o futuro da pesca na localidade.
“A pesca de deserta era uma tradição, dava lucro, mas foi proibida então deixamos de ir ao Ilhéu Raso. Agora pescamos por aqui e não compensa” salientou Hermenegildo Fortes.
Com fraco atrativo de “retorno” monetário e investimentos que impulsiona os jovens a quererem enveredar para o sector das pescas em Sinagoga, Hermenegildo Fortes frisou que a mesma está a cair em desuso.
“É frustrante ver que os jovens não estão a dar continuidade a pesca nesta comunidade. Somos poucos marinheiros e já não vamos todos os dias ao mar” pontuou.
Com a mesma opinião, António Tavares, também pescador da localidade de Sinagoga, acentuou que a pesca nesta zona está a “piorar” com o tempo.
“Falta mão de obra, somos dez marinheiros, temos seis botes, mas não temos marinheiros. Os mais novos não aprenderam” disse
António Tavares também começou a sua aventura no mar aos 16 anos, hoje tem 64 anos, e garantiu que ainda não pensa parar de ir pescar.
“Comecei a ir ao mar aos 16 anos, hoje tenho 64 anos e não penso parar, aliás só paro quando Deus achar por bem. Até então vou continuar no sacrifício do mar” afirmou.
Inforpress