
Quinta-feira, 30 de Março, 2023
O embaixador de Cabo Verde em Portugal, Eurico Correia Monteiro, destacou ontem, dia 29, em Lisboa o papel importante que o jornal guineense “Nô Pintcha” teve para a sociedade cabo-verdiana nos anos depois da independência.
O embaixador fez essa afirmação em declarações à Inforpress, no final da apresentação, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, do website com o jornal “Nô Pintcha” digitalizado, num total de mais de 1.500 números e mais de 12 mil páginas dos primeiros 25 anos do jornal (1975 a 2000).
“Nô Pintcha” trazia informações, declarações e transmitia notícias que diziam respeito à Guiné-Bissau e ao partido no poder, na ocasião [PAIGC], que também dirigia Cabo Verde, em que muitos dos seus membros faziam referência expressas à situação em Cabo Verde”, explicou.
Para Eurico Monteiro, o jornal, que foi criado pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde e Guiné-Bissau (PAIGC), traz à memória momentos políticos e informações, não só sobre o Estado e sobre o partido que dirigia o País na altura e sobre as acções governativas das políticas públicas, mas também informações relativas à sociedade cabo-verdiana na altura.
Neste sentido, entendeu o embaixador de Cabo Verde que hoje, através do “Nô Pintcha”, passou-se a ter, particularmente aos que não viveram aqueles momentos, informações “mais realistas e credíveis sobre a nossa sociedade e política, independentemente do olhar que hoje se pode deitar sobre este passado, um outro olhar de mais de 40 anos depois”.
“Creio que como a história é aquilo que é, independentemente dos juízos políticos que se possa fazer a respeito do jornal e o seu conteúdo, o que interessa é sobre essa realidade de factos e informações, e até de impressões e de análises que se fazia sobre a nossa sociedade, da realidade e dos destinos de Cabo Verde”, frisou.
A digitalização do jornal e a sua disponibilização em website é um projecto coordenado pelo docente e investigador da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Augusto Nascimento, que foi responsável pelo tratamento arquivístico do “Nô Pintcha”.
De acordo com o coordenador durante a apresentação, o projecto é uma colaboração entre o Estado da Guiné-Bissau e o Centro de História da Universidade de Lisboa, que conseguiu disponibilizar quase a totalidade da colecção “Nô Pintcha”, em acesso aberto.
Conforme explicou, o arquivo dos números publicados estava disperso, mas foi viabilizado a partir da colecção pessoal de Daniel Nunes, dono de uma das maiores bibliotecas sobre a África lusófona, mas também com o contributo da Associação Caboverdeana de Lisboa (ACL) que também facultou alguns números para digitalização.
O “Nô Pintcha”, fundado em 1975, é um dos títulos de maior longevidade da África lusófona e reconhecido como o principal título de imprensa da Guiné-Bissau, tendo documentado o “fulgor revolucionário” dos primeiros anos, em que saía três vezes por semana, devido às dificuldades das décadas seguintes.
Nunca tendo deixado de noticiar a vida guineense e a caminho dos seus 50 anos, acumulou um espólio incontornável para a história do país, acessível agora on-line, num arquivo inédito que reúne a quase totalidade dos números publicados entre 1975 e 2000.
A digitalização do “Nô Pintcha” integra-se numa linha mais vasta de publicação de fontes para a história de África, estando já em processo de tratamento o jornal Ecos da Guiné, um dos primeiros títulos publicados na Guiné-Bissau dos anos 20 do século XX.
Inforpress
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