“Foi uma sensação horrível”, diz cabo-verdiana que foi apanhada pelo sismo quando estava de férias com o filho em Marrocos

A viagem de sonhos acabou por se transformar numa experiência assustadora quando Denise Pinto e o filho de 19 anos foram apanhados pelo tremor de terra na sua primeira noite em Marrocos.

Marrocos sempre esteve nos planos de viagem da cabo-verdiana Denise Pinto. Residente na Praia, Denise tinha programado viajar com a irmã em 2024, mas decidiu ir este ano com o filho Lorenzo. O que não imaginava era que as férias de sonho iriam transformar-se num autêntico pesadelo, apesar de tudo ter terminado da melhor forma.

Marrocos era uma viagem de sonhos, até era uma viagem que tinha planeado com a minha irmã, mas preferi ir este ano com o meu filho antes do início do ano letivo. (…). Na verdade, a viagem começou um pouco mal. Deveríamos viajar no dia 07, mas foi cancelada por ‘overbooking’ (quando uma empresa aérea vende mais bilhetes do que a capacidade real de lugares no voo) e viajamos no dia 08 de madrugada. Então, houve alguns contratempos desde o início”, conta em entrevista exclusiva ao Balai.

A 08 de setembro, Denise, 50 anos, e o filho Lorenzo, 19 anos, chegaram na parte da manhã em Marraquexe e à noite foram jantar.

“Estávamos no telhado a apreciar a noite, a fazer algumas fotografias e sentimos o chão a tremer. No momento, nem nos passou pela mente que podia ser um terramoto, (…) pensei que fosse barulho de alguma máquina ou algo do género. Quando se estendeu para 15 segundos, ficamos completamente desesperados porque estávamos num lugar alto. Deitamos no chão e ficamos à espera do pior. Era a primeira vez que eu e o meu filho estávamos a passar por uma experiência desse tipo, então, foi mesmo assustador. Foi uma sensação horrível, ainda por cima no primeiro dia que chegamos no país e não tínhamos usufruído das nossas férias”, relata.

Após o tremor de terra, Denise afirma que ela e o filho ficaram desnorteados e não sabiam o que procedimentos deveriam ter. “Não sabíamos se devíamos descer ou ficar no local onde estávamos porque podíamos cair de onde nos encontrávamos e se descêssemos as casas podiam nos cair em cima. Enfim, ficamos sem saber o que fazer. (…) Ao descer encontramos todas as pessoas que estavam hospedadas no hotel com os olhos arregalados e em pânico, mas não podíamos nem sair à rua porque as ruas da Medina são muito estreitas e as paredes altas. Acho que o risco era maior, ou seja, não sabíamos se devíamos ficar no hotel ou se devíamos sair. Então, por alguns minutos ficamos em pânico. Ficamos a ouvir as pessoas nas ruas a gritar e víamos fumo a sair das casas que estavam tombadas. Enfim, foi horrível.”

Denise conta que quando decidiram sair do hotel encontraram alguns estrangeiros que também estavam apavorados que os alertaram para se dirigirem a uma praça grande onde as casas ficavam afastadas e não havia prédios. “Quase toda a população dessa Medina ficou nessa zona. Ficamos nesse local até altas horas sem saber o que podia acontecer nas próximas horas, o que devíamos fazer e se devíamos regressar ou não. Foi uma experiência muito desagradável. Foi aterrorizante”, diz e salienta que não conhecia ninguém no país.

O meu filho ficou apavorado e com muito medo. Ambos não estávamos a acreditar que estávamos a viver esse momento”. No rescaldo do acontecido, Denise conta que o filho brinca e diz que a mãe “teve a capacidade de planificar umas férias num país em que logo no primeiro dia acontece um sismo sendo que há 100 anos que não acontecia um terramoto, com a mesma intensidade (de 6.8 na escala de Richter).”

A praiense tinha programado com os mínimos detalhes os noves dias das férias em Marrocos, tinha pago tudo e agora está indecisa se deve ou não continuar no país.

A minha intenção era ficar aqui até o dia 17, porque tenho tudo pago, os tours e o alojamento. É um pouco difícil tomar a decisão de regressar a Cabo Verde. Viajamos com o passaporte português e podíamos ter regressado no avião das Forças Aéreas Portuguesas, mas ainda não decidi. A minha família está preocupada, quer que regressemos e deixemos tudo para trás e esqueçamos o dinheiro gasto, mas nós que estamos nas zonas que não foram afetadas às vezes esquecemos um pouco. Não fomos afetados diretamente, não estamos a viver dentro dos escombros e a vida continua.” Apesar do ocorrido, da preocupação da família e de saber que ainda há riscos, Denise ainda pretende continuar as suas férias.

“Apesar de saber que, de acordo com os especialistas da área de sismologia, ainda há riscos de cinco a 15 dias poder acontecer uma réplica, mesmo que seja menos grave, mas como as estruturas já estão bastante abaladas pode ser pior. Sei que há esse risco. Mas neste momento está tudo mais calmo. Então, a intenção é continuar, mas o meu filho já não está com vontade e quer regressar mais cedo, porque acabamos por perder um pouco de ânimo (…) Sei que é um risco continuar em Marrocos, mas ainda não decidi, sinceramente.”

Questionada sobre se já foi contactada pelas autoridades cabo-verdianas, Denise diz que teve apoio da embaixada de Cabo Verde em Marrocos. “Ofereceram-me todo o apoio no sentido de contactar o embaixador de Cabo Verde em Marrocos. Ainda não tive essa necessidade e espero não ter. A única decisão que já tomei, como o meu filho quer encurtar a viagem, contactei a minha agência no sentido de ver se conseguia bilhete para o dia 14, se conseguirem regressamos nesse dia, se não, vamos ter que ficar até o fim. Espero que até lá tudo se mantenha estável e que não aconteça mais nada. Até lá continuo nas minhas férias, apesar de não estar com muito ânimo”, conclui.

Segundo a DW, o terramoto, que ocorreu a uma profundidade de 18,5 quilómetros às 23:11 locais, teve como epicentro na localidade de Ighil, 63 quilómetros a sudoeste da cidade de Marraquexe, foi sentido em Portugal e em Espanha.

Segundo a rádio portuguesa TSF, o número de mortos provocados pelo sismo em Marrocos subiu esta terça-feira para 2901, com 5530 feridos decorrentes do tremor de terra.

De acordo com a agência Reuters, este foi o sismo mais letal e mais forte no território marroquino desde 1960.

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