

A Global Shapers Community é uma iniciativa do Fórum Económico Mundial (WEF – sigla em inglês) que surgiu em 2011 e é uma organização que visa fomentar a liderança juvenil para resolver desafios locais e regionais através de hubs em diferentes cidades do mundo. Com sede na Suíça, a iniciativa é uma rede que está presente em mais de 150 países.
Em Cabo Verde, a Global Shapers surgiu na capital em 2014. Segundo Mário Cardoso, o atual vice-curador do Hub da Praia, a iniciativa foi liderada por um grupo de jovens e teve como primeira curadora a cabo-verdiana Lucineida Fonseca, que fez a candidatura para solicitar a licença junto da entidade internacional e foi-lhe permitida a abertura de um hub local. Nascia assim o Global Shapers Praia Hub que teve o registo formal como associação em 2016.
Para fazer a candidatura é necessário cumprir uma série de requisitos nomeadamente a nível da idade: os membros do Hub devem ter entre os 18 e os 29 anos.
A nível de estrutura, o Global Shapers Praia Hub conta com um curador e um vice e um impact officer, que geralmente é o curador cessante que atua como um guia que promove a comunidade a nível local e regional. Esta equipa é eleita anualmente, uma prática que visa incentivar a passagem da liderança. “Principalmente em Cabo Verde, não temos uma cultura de passagem de poder e há muitas associações com pessoas que estão lá há mais de 10 anos como líderes associativos (por exemplo). Por isso o lema é passar a liderança cada vez mais cedo”, explica Mário Cardoso.
Atualmente, o Hub da Praia conta com cerca de 12 membros ativos, afirma o vice-curador. Depois de ultrapassarem a idade limite, os membros deixam de ser shapers ativos mas podem permanecer na condição de Alumni como promotores da Global Shapers Community e dos seus valores.
A atual curadora do projeto é a professora de inglês Carla Lima, que está de serviço atualmente na ilha do Maio. Na associação desde 2019, Mário que foi curador em 2021 é formado em Engenharia e Gestão de Sistemas de Informação e passa a ser ALUMNI em 2024.
Projetos de mentoria e apoio a comunidades locais
Atuando em diversas áreas, sempre com a finalidade de “fomentar a liderança nos jovens promovendo a associação como uma plataforma para desenvolvimento de projetos em benefício da comunidade praiense”, o Hub da Praia também vê as suas atividades orientadas pelas diretrizes da sede da organização bem como pelas áreas-chave para o desenvolvimento determinadas pelo Fórum Económico Mundial que este ano são o ambiente, o desenvolvimento sustentável, a aplicação da tecnologia na educação e a economia azul.
Entre as atividades mais populares que a Global Shapers tem promovido desde a sua criação está o Sunset com Liderança (por-do-sol com liderança) que arrancou em 2014 e que colocou líderes nacionais a falar sobre o processo de tomada de decisão.
Seguiu-se o Adopte uma Escola, onde o objetivo foi encontrar padrinhos para doar materiais escolares para alunos numa escola de um bairro da capital.
Mais à frente surgiu o Kriol Shadowing que já vai na terceira edição. Este projeto, que começou com o objetivo de fornecer mentoria a jovens dos 15 aos 25 anos, teve a sua primeira edição na Escola de Achada Grande Frente e teve como público alvo jovens do secundário e visou apoiar-lhes na orientação vocacional. A terceira edição do projeto que decorre agora visa apoiar os jovens na inserção no mercado de trabalho.
Em 2021, a associação desenvolveu uma plataforma online no âmbito do projeto ‘Nha município, Nha Voto’ com informações sobre os candidatos às eleições autárquicas e que a associação pretende repetir em 2024.
Paralelamente já desenvolveram atividades com a comunidade LGBTQI+, no âmbito de um projeto universal que envolveu os hubs a nível internacional, bem como a angariação de fundos para comunidades locais mais carenciadas. “Para chegar nas localidades tentamos estabelecer contacto com quem conhece as comunidades de forma mais profunda”, salienta o vice-curador.
O hub funciona à base de voluntários e a atual liderança almeja implementar o mecanismo de quotas ainda neste mandato, sendo que também querem recorrer com projetos locais a financiamento internacional e para 2024 pretendem desenvolver um projeto ligado à criação de espaços verdes na capital.
Desde a sua criação, Mário Cardoso diz que os projetos já beneficiaram cerca de 200 jovens de forma direta e outros tantos de forma indireta. “Claro que gostaríamos de atingir mais porque a comunidade da Praia é enorme e cresce a cada dia, só que o voluntariado é ainda uma área sensível em Cabo Verde. A área de voluntariado é ingrata e ainda não é valorizada enquanto uma experiência profissional”, lamenta o vice-curador e acrescenta que o voluntariado permite adquirir competências diversas e mesmo crescer a nível profissional.
Para este mandato, a atual equipa tem como áreas prioritárias educação e oportunidades e também o ambiente, sendo que o objetivo é estabelecer uma ligação com a tecnologia nas duas áreas.
As próximas eleições do Praia Hub acontecem em junho de 2024 e a atual equipa ambiciona aumentar o número de membros para 20, no mínimo, afirma o vice-curador. “A dinâmica do associativismo dentro do voluntariado é complexa”, diz e explica que há membros que entram no início do mandato mas depois assumem responsabilidades a nível laboral e já não conseguem dedicar três horas semanais à associação.
A nível de requisitos para ser membro estão a idade, que atualmente não pode ser superior aos 29 anos, a experiência do potencial de shaper, a formação superior é valorizada mas não é obrigatória, o domínio da língua inglesa, residir na cidade do Hub (neste caso na Praia), não é necessário ser cabo-verdiano.
A nível dos membros atuais, a formação está mais focada nas áreas humanas e engenharias.
O vice-curador salienta que as regras internacionais impedem que haja membros com grau de parentesco dentro do mesmo Hub. Outro aspeto levado em conta é a paridade, a associação deve ter no mínimo 40 por cento de mulheres.
Mário Cardoso explica que o processo de candidatura é voluntário e aberto ao público. “Temos reparado um padrão que em Cabo Verde as pessoas que querem fazer voluntariado são maiores de 25 anos. É difícil encontrar jovens de 18 ou 19 que queiram fazer voluntariado (…)”, lamenta.
O líder associativo acredita que no contexto cabo-verdiano esta realidade deve-se à realidade social e está relacionada com a falta de maturidade dos jovens no geral. “Os jovens quando estão no final do secundário estão cada vez menos maduros, por assim dizer, às vezes não sabem nem que caminho devem seguir em termos profissionais, agora imaginem, se querem dar um contributo para a sociedade (dentro de uma associação)”.
Sendo uma organização apartidária e de carácter não-religioso a Global Shapers Community defende valores como o espírito crítico, o espírito de equipa, a ética, a pro-atividade, a não discriminação, entre outros, com base nos quais é feito o recrutamento. “Nós o que pedimos aos novos membros é que deem o seu tempo e o seu contributo para a sociedade”.
A associação gostaria de abrir as candidaturas pelo menos duas vezes ao longo do mandato anual.
Deixa a mensagem de que “as instituições precisam reconhecer o valor do voluntariado” principalmente nos jovens. “Além de estarmos a contribuir para melhorar a nossa comunidade, estamos a dar o contributo para transformar os jovens e a fomentar a liderança nos jovens e formá-los para o futuro de amanhã. Como se diz, somos um país maioritariamente de jovens liderado por dinossauros, mas os jovens não estão a assumir o papel de liderança (…)”.
Global Shapers nos PALOP
A nível dos PALOP, já existem hubs em Angola, Moçambique. Já na Guiné-Bissau o processo ficou por concluir com o apoio de Cabo Verde.
A atual curadoria gostaria de incentivar o surgimento de hubs noutras cidade de Cabo Verde, principalmente nas cidades com muitos jovens, inclusive Santa Catarina já demonstrou interesse. Houve uma iniciativa há uns anos em Mindelo mas que, apesar de ter sido provisoriamente aprovada, não vingou, explica Cardoso.
“Na maior parte dos países os hubs são constituídos por jovens de elite, Cabo Verde, Moçambique, e alguns países da América Latina fogem à regra de jovens com formação superior, algum poder financeiro e poder de lobby, o que pode ser um fator de exclusão”, segundo Mário Cardoso.
Site agregador de notícias e conteúdos próprios e de parceiros, com enfoque em Cabo Verde e na Diáspora, que quer contribuir para uma maior proximidade entre os cabo-verdianos.
+238 357 69 35
geral@balai.cv / comercial@balai.cv / editorial@balai.cv