Governos africanos devem melhorar acesso ao crédito pelas mulheres – Sofid

A presidente da Comissão Executiva da SOFID - Sociedade para o Financiamento do Desenvolvimento, Instituição Financeira de Crédito, defendeu hoje a necessidade dos governos de África tomarem medidas para alterarem uma situação "muito complicada" de acesso ao crédito pelas mulheres.

Para Marta Mariz, “existe uma situação muito complicada de acesso ao crédito” pelas mulheres em África, que “exige medidas concretas de governos e atores de desenvolvimento para que se alterem as condições”, que conduzem a desigualdades face aos homens.

A Presidente da Sofid falava hoje num webinar com o tema “O acesso ao financiamento pelas Mulheres da CPLP” promovido em conjunto pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), pela instituição a que pertence e pela Federação das Mulheres Empresárias e Empreendedoras da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (FME-CPLP).

 

Um webinar que abordou temas como a igualdade de género, a capacitação e literacia financeira das mulheres, a promoção do investimento privado e os desafios no acesso ao crédito nos países da CPLP e que contou com a presença do secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Francisco André.

 

Na ocasião, foi assinado um protocolo entre a Federação das Mulheres Empresárias e Empreendedoras da CPLP e a instituição financeira SOFID, que vai ajudar ao financiamento de empreendedoras.

 

Marta Mariz apontou os vários fatores que conduzem essa “situação complicada”.

 

“Há um conjunto de fatores que levam a que as mulheres tenham mais dificuldade no aceso ao crédito, nomeadamente em África”, além dos aspetos sociais e culturais.

 

A mulher em África tem maior “instabilidade do seu rendimento, por se encontrar sem vínculo laboral, não apresentando histórico de rendimentos”, que para a banca é um fator importante para emprestar o dinheiro, disse.

 

Por outro lado, em África, as “mulheres não apresentam colaterais, porque a propriedade está muitas vezes, e quase sempre, nas mãos dos homens”.

 

“Junta-se a isto, e para piorar tudo, a iliteracia financeira e a baixa bancarização das mulheres em África”.

 

Portanto, concluiu, “há aqui muito trabalho a fazer por parte dos bancos africanos”, defendeu, mas não só.

A dimensão do negócio é ainda outro dos fatores que não ajuda. “As mulheres tipicamente têm micro negócios e start-ups em África”, indicou.

 

Com todos os fatores conjugados “temos aqui uma situação muito complicada, que exige medidas concretas dos governos e atores de desenvolvimento para alterar estas condições e permitir o acesso ao financiamento”.

 

Até porque, lembrou Marta Mariz, a pandemia veio “exponenciar isto”, precariedade do emprego, famílias a irem para casa, por fecho das escolas.

 

Porém, sublinhou, as mulheres que têm acesso ao crédito são mais cumpridoras no financiamento do que os homens. “A taxa de incumprimento é de 3% nas mulheres em África”, disse citando dados do IFC.

Por seu lado, a administradora executiva do Millenium BIM, Liliana Catoja, que representou dos maiores bancos de Moçambique, falou das dificuldades das mulheres naquele país e nas diferenças entre Maputo e outras regiões.

 

“Temos de trazer o resto de Moçambique [além de Maputo] para o índice de inclusão financeira”, que existe na capital, sublinhou a gestora.

 

Segundo Liliana Catoja, nas zonas mais remotas do país o negócio das mulheres é mais informal e o acesso às contas bancárias é dificultado, além de outros aspetos, pela falta de documentação.

 

Nas zonas mais rurais, “há falta de meios que permitam às mulheres ter acesso a uma conta bancária, por causa dos requisitos regulamentares”, exigidos para abrir conta.

 

A gestora explicou que em determinadas zonas não há “quem emita um BI”. “Há muita população que hoje não tem um documento de identificação, nem uma cédula”, afirmou.

 

“Temos de resolver esses desafios de base”, defendeu.

 

“Como é que fazemos inclusão financeira (…)? Como é que eu identifico as pessoas? Como lhes atribuo um número de identificação fiscal? Como é que obtenho um atestado de residência?, três documentos essenciais para ter uma conta bancária, questionou a gestora do BIM, concluindo: “Este é um desafio estrutural do país”.

 

Além disso, apontou que em Moçambique ainda há zonas onde “as mulheres precisam de autorização do seu marido para ir a uma instituição financeira.”

 

Já António Rebelo de Sousa, presidente do conselho de administração da SOFID optou por enumerar um conjunto de estatísticas que comprovam que mesmo nos últimos anos as desigualdades continuam a ser muitas e “marcantes” entre mulheres e homens, não só ao nível da educação mas também dos salários e das lideranças.

 

Nelma Fernandes, vice-presidente FME-CPLP, Confederação das Mulheres Empresárias da CPLP, sublinhou o trabalho feito ao nível daquela organização para fazer as mulheres acreditarem que é possível competirem num universo maioritariamente masculino.

 

“Outro dos aspetos que trabalhamos é concentrarmo-nos em bloco, juntando setores de atividade em vários países para que seja possível sermos mais competitivas, citando como exemplo, o que acontece no setor da transformação alimentar.

 

Lusa

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