Escola virtual Nucoode pretende revolucionar ensino da tecnologia em Cabo Verde

Os promotores da iniciativa são jovens cabo-verdianos e querem futuramente levar a iniciativa aos PALOP.

Keila Semedo, licenciada em Administração Pública, e Leonardo Costa, estudante de Aeronáutica, são os rostos da escola virtual tecnológica Nucoode. Os dois jovens que descobriram as diversas vantagens da tecnologia desejam revolucionar o ensino desta área no país com bootcamps, treino intensivo e interativo e aulas mais dinâmicas. As aulas estão previstas iniciar em setembro em regime online e presencial.

O nome da escola vem de “Nu” que se refere ao “nós” e “Coode” que vem de “code” ou seja codificar/ fazer código. A ideia da primeira escola virtual tecnologia é um projeto desenvolvido por um grupo de cinco jovens empreendedores cabo-verdianos: Leonardo Costa (CEO da Nucoode), Keila Semedo (Diretora financeira), Márcio Martins (Marketing), Gilson Santos (Formador e responsável pela plataforma de aulas) e Sandro Teixeira (Suporte tecnológico).

A ideia de criar a escola surgiu entre os meses de outubro e novembro de 2022, quando os jovens se aperceberam de que no mercado nacional existe uma grande lacuna em relação à tecnologia, em que presenciaram empresas nacionais que acabavam por contratar pessoas no exterior para resolver problemas localmente ligados à tecnologia. Os jovens sentiram a urgência de mostrar como fazer o bom uso e aproveitamento de todas as vantagens que a tecnologia proporciona.

Em entrevista ao Balai, Keila Semedo sublinha que cada vez mais a tecnologia tem se tornado um meio de ligação de Cabo Verde com o mundo e também como uma fonte de emprego para a camada juvenil. Com as crescentes oportunidades oferecidas nesta área, os jovens podem criar o seu próprio emprego, como foi o caso da Keila de 25 anos que ao retornar ao país depois de terminar a sua licenciatura em Administração Pública teve dificuldade em encontrar trabalho e acabou por fundar a sua própria loja de vendas online intitulada “Nubian’s”. “Se eu consegui descobrir porque pesquisei porque não agora passar esta ideia aos outros jovens ?”.

Os jovens sublinham que apesar de haver cursos que abordam a tecnologia, poucos conseguem formar jovens de modo a responder as demandas do país, por isso a ideia sempre foi a de “oferecer cursos com mesmo nível de qualidade que existe no exterior”. Os promotores da Nucoode querem apostar em aulas mais práticas, dinâmicas e acessíveis.

O público-alvo são jovens, em especial os pré-universitários que podem não ter condições para estudar no exterior ou pagar quatro anos de curso nas universidades nacionais ou também universitários que querem desenvolver as suas capacidades tecnológicas e empresas interessadas em oferecer cursos aos seus colaboradores.

“Desenvolvimento de Software”, “Desenvolvimento Web”, “Análise de Sistemas”, “Design” são alguns dos cursos a serem oferecidos.

Na fase inicial fase do projeto, as aulas vão ser online e serão disponibilizadas dentro das plataformas da Nucoode que terá aulas gravadas e também transmitidas em tempo real. A previsão é ter diferentes professores para cada disciplina disponibilizada, sendo que o tempo de duração do curso ainda está a ser analisado pela organização.

“Há cursos que podem ser dados em seis meses e existem outros que para alcançar um nível maior exigem maior duração”, explicou Keila Semedo.

Na segunda fase, no final do curso, as aulas serão presenciais com recurso ao treino intensivo de dois em dois dias. Estas aulas presencias serão lecionadas em centros de treinamento, mas também serão disponibilizadas online. A localização deste centro de treinamento está prevista ser na Praia, mas vai depender da residência dos estudantes pois a ideia é ser num local estratégico e de maior acessibilidade.

O centro de treinamento será também usado para treinos intensivos, bootcamps e eventos de interação. Como a primeira fase é focada em aulas online, o centro vai estar aberto para receber os estudantes que queiram assistir no local, conversar com outros alunos e usar os materiais presentes nos centros.

Literacia Digital

Uma das dificuldades enfrentadas é a fraca literacia digital, um problema constatado pelos promotores da iniciativa e citam que, por exemplo, durante uma visita à escola secundária da Calheta de São Miguel, em Santiago, os jovens constataram que os estudantes desde o 10º ao 12º ano mostraram-se pouco familiarizados com termos da área e não interagiram muito durante a palestra.

Keila Semedo salienta que “as escolas têm os recebido de bom grado e mostrando-se disponíveis em levar mais informações aos alunos”. “Se calhar a tecnologia não é algo novo para eles, mas é um campo minado porque não conhecem como funciona”

Reconhecem que existe ainda a dificuldade de acesso à internet em algumas zonas rurais de Cabo Verde, mas o grupo tem conversado com associações locais sobre a possibilidade de oferecer aos jovens que tiverem interesse na Nucoode bolsas de estudo. Estas bolsas terão como objetivo proporcionar aos jovens de pouca condição financeira um curso gratuito. Os bolseiros serão escolhidos por meio de um concurso que está a ser preparado pela equipa da iniciativa.

Os jovens estipulam que o preço do curso varie entre os 6 e os 8 mil escudos, dependendo do curso e da sua duração.

Transição Digital em Cabo Verde

Para estes dois cabo-verdianos o país tem tido vários incentivos para desenvolver o país a nível da tecnologia, mas defende que o processo tem sido demorado já que também depende de as pessoas “abraçarem o digital”.

Por isso, a mudança de mentalidade é outro aspeto destacado pelos jovens, que apontam que muitos cabo-verdianos só usam a tecnologia para navegar nas redes sociais e não estão conscientes sobre como a Internet pode ser uma ferramenta para estudar, gerar emprego e ganhar dinheiro.

Os mentores da Nucoode têm tentado promover esta mudança de paradigma, durante as visitas às comunidades onde partilham ideias com sobre a tecnologia, por meio de conversas abertas em que abordam o lado bom e mau da tecnologia e como este meio pode ser usado na vertente pessoal e profissional.

Almejam a longo prazo levar a Nucoode a outros países africanos, nomeadamente dentro dos PALOP. “Precisamos fortalecer a nossa base em Cabo Verde e depois expandir para outros países que falam a mesma língua”, conclui Leonardo Costa.

Celine Salvador / estagiária

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