
Terça-feira, 28 de Março, 2023
Tem-se dedicado ao desporto desde tenra idade. Começou no futebol, há duas décadas abraçou o atletismo, tendo colecionado várias medalhas e troféus nessa modalidade. Em 2019, descobriu uma nova paixão – o Trail. Em entrevista ao Balai, a atleta veterana, hoje já na faixa dos 50 anos, diz que “enquanto tiver motivação e vontade” vai praticar o atletismo.
Ariana Paula Lima Rodrigues Fermino, ou simplesmente Ary, como é carinhosamente conhecida pelos amigos, nasceu e cresceu em São Vicente, e é uma amante do desporto desde tenra idade, tendo começado no futebol.
“Cresci no meio dos rapazes a jogar bola no polivalente Keven e nos passeios da zona de Alto São Nicolau. (…) Era incrível. Além disso, o meu campo de treino de futebol de onze, propriamente dito, era atrás da Escola Técnica. (…)”, conta e acrescenta que também gostava de correr e andar de bicicleta.
Na década de 80, fez um interregno nas suas atividades desportistas para fazer uma formação superior na Rússia, país onde continuou a jogar futebol, bem como revelar o seu lado artístico. “Ultimamente, não tenho muito tempo para a música. Gosto de bolero, música latina e música tradicional.”
De finais de 1994 a 1996, Ariana esteve nos Estados Unidos da América a fazer uma pós-graduação, sem deixar de lado o ciclismo e o futebol. “Comprei uma excelente bicicleta e pedalava nas ciclovias. Eu e a minha prima integramos uma equipa de futebol de onze, em Washington DC, e cheguei a participar num torneio de futsal. Perdemos, mas foi uma boa experiência. (…) Treinava muito, frequentava o ginásio e quando regressei a Cabo Verde estava com um porte atlético excelente, mas nunca na minha vida imaginava que um dia iria praticar o atletismo.”
Em 2003, o atletismo apareceu por acaso na sua vida. “O atletismo entrou na minha vida como um escape. Estava a atravessar um período menos bom a título pessoal. (…) Refugiava-me muito no trabalho (…) E quando dei por mim estava escrava do trabalho (…) Então, resolvi treinar. Inicialmente, andava de bicicleta pela cidade da Praia até ao anoitecer. Em 2004, já estava com algum índice de violência na capital do país, as pessoas começaram a alertar-me, comecei a correr e ganhei o gosto”, conta e diz que depois que participou numa corrida em São Vicente ficou motivada para fazer atletismo de estrada, uma modalidade que, segundo diz, não precisa depender de terceiros.
Segundo Ariana, o atletismo é uma modalidade que exige disciplina. “Eu sou uma atleta veterana, mas tenho a ousadia de competir com qualquer sénior. Tento dar o meu melhor. (…) Treino regularmente. (…) Talvez pela vontade e paixão que tenho pelo atletismo e mesmo pelo ciclismo, se não tivesse outras limitações, era capaz de ter uma performance superior. (…) O meu hobby, a minha paródia, é o desporto”, diz a atleta que em média tenta fazer 40 km por dia.
Nos últimos cinco anos, a mindelense também tem tido mais atenção com a alimentação. “Há um ano comecei a libertar-me do açúcar porque de facto é um dos piores venenos, deixei de usar manteiga. Para privilegiar, como frutas, frutos secos, legumes – principalmente tomate, bebo chá de gengibre e limão e bebo leite uma vez por dia no café.”
“O meu vício é o desporto”
O maior desafio é conciliar os compromissos profissionais, a família e o desporto. “Alguma coisa tenho que sacrificar e sacrifico a vaidade. (…) Não sou uma pessoa de festas. Considero que tenho uma vida equilibrada. Sou de base cristã nazarena, o meu vício é o desporto.”
Ao longo desses anos no atletismo, Ariana já participou em duas competições internacionais na corrida de São Silvestre em Crevillente (Espanha) e na Serra D´Arga (Portugal), onde descobriu uma nova paixão – o trail. “Enquanto tiver motivação e vontade vou praticar o atletismo. Agora tenho uma nova paixão que veio despontar em 2019 que é a corrida de montanhas. (…). Agora estou totalmente delirada (risos). (…) É uma modalidade do atletismo que exige muita robustez. (…) É uma corrida diferente da corrida de estrada. (…) Nas subidas desafio qualquer atleta, estou mais à vontade, também faço ciclismo” diz e realça que é preciso transformar o trail num evento turístico.
A nível nacional já participou em inúmeras competições e tem colecionado troféus e medalhas. “Na categoria sênior, o máximo que já consegui foi o segundo lugar”. Nesta sexta-feira, 13, Ariana vai participar na Corrida da Liberdade na Praia, mas lamenta que este já não tenha o formato de meia maratona. “Os veteranos têm muito a dar. Somos um exemplo para os mais jovens.”
Desporto, uma ferramenta de inserção social
Ariana Fermino é comissária de Futebol Feminino credenciado pela CAF desde 2016 e diz, sem margem de dúvida, que o desporto é a melhor ferramenta para diminuir a criminalidade nas comunidades. “O desporto é uma escola de valores, qualquer que seja a modalidade. (…) É preciso ter uma visão a nível do país sobre o que se quer com o desporto. (…) Por exemplo, as associações desportivas têm que repensar o modelo, multiplicar as federações e saber o subsídio que lhes é dado e como é gasto. Também é importante imprimir uma cultura de prestação de contas”.
Questionada sobre como vê o atletismo no país, a veterana diz que, apesar de estar desorganizada, é uma modalidade que tem grande potencial de desenvolvimento em todas as ilhas.
“O atletismo está desorganizado porque os clubes de desporto no país não têm essa modalidade incluída. (…) Há associações nas ilhas, mas não há clubes. Existe uma federação de atletismo, que é uma entidade grande que gere e faz competições nacionais de pista. (…) Há uma ausência de uma política do desporto”, diz e realça que ainda há muito por se fazer no atletismo.
“Há todo um caminhar. As pedras e os elementos existem, mas está tudo desestruturado.”
No geral, Ariana diz que Cabo Verde tem todas as condições para ser uma referência no desporto, mas para isso é preciso reforçar a nível local e nacional a práticas das modalidades e depois um diagnostico para ver quais que podem ser internacionalizadas.
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