Cabo Verde faz “justiça” com devolução de espólio arqueológico à ilha da Boa Vista

Cabo Verde vai inaugurar hoje o Museu de Arqueologia da Boa Vista, repondo “justiça” com devolução do espólio arqueológico à ilha onde se registaram a maioria dos naufrágios no arquipélago, disse a presidente do Instituto do Património Cultural.

A inauguração do Museu de Arqueologia da Boa Vista, no antigo edifício da Alfândega Velha em Sal Rei que foi reabilitado, vai ser feita pelo primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, num investimento de 15,8 milhões de escudos (143 mil euros).

De acordo com a presidente do IPC, Samira Baessa, o objetivo do museu é devolver parte da história à Boa Vista e oferecer mais um produto cultural ao turismo, nessa que é a segunda ilha mais visitada por turistas em Cabo Verde, depois do Sal.

O museu vai conter acervos arqueológicos recolhidos na Boa Vista desde a década de 1990, ilha onde decorreram mais de 80% dos naufrágios no arquipélago e os objetos estavam expostos no Museu de Arqueologia da Praia.

“E agora a população local e os visitantes vão poder ter acesso, usufruir desta história da Boa Vista aqui na ilha”, salientou a presidente do IPC.

Samira Baessa acredita que o museu, que se junta ao secular Forte Duque de Bragança, reabilitado e inaugurado na quarta-feira, e à perspetiva de criação do primeiro parque subaquático do país na ilha, vão agregar bastante valor ao turismo.

“Acreditamos que vai ser uma mais-valia para os operadores da ilha terem esses espaços que os turistas podem visitar, mas ficamos bastante satisfeitos que estes equipamentos possam também servir sobretudo a população local, os residentes”, afirmou.

A presidente do IPC deu conta que, por ser uma “quantidade muito grande” de objetos, nem tudo vai ficar em exposições permanentes, mas sim o objetivo é passar a promover exposições temporárias para permitir a rotatividade dos conteúdos.

A reabilitação do antigo edifício da Alfândega Velha em Sal Rei começou em finais de setembro para receber o Museu de Arqueologia, que vai retratar a história da ilha cabo-verdiana durante 500 anos.

Os trabalhos serviram para resolver as patologias de degradação do edifício e garantir as condições adequadas para a instalação do museu de arqueologia, segundo o IPC.

A reabilitação do edifício e instalação do museu foi financiado pelo Governo de Cabo Verde, pelo projeto Margullar2 e pela Câmara Municipal da Boa Vista.

Descoberta em 1480 por navegadores portugueses, a ilha da Boa Vista dista cerca de 450 quilómetros da costa africana e conheceu o seu desenvolvimento a partir do século XVII quando se percebeu a qualidade do sal ali existente, que se tornou na sua maior fonte de rendimento, atraindo empresários de vários pontos, incluindo estrangeiros.

Assim, a costa da Boa Vista ficou também conhecida por ter sido palco de históricos naufrágios e ataques de piratas e corsários, uma vez que assumiu papel crucial na exportação de sal a partir de Cabo Verde. Só na segunda metade do século XIX há registo de pelo menos 50 naufrágios ocorridos ao largo da Boa Vista, de navios de várias nacionalidades.

Lusa

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on pinterest