Petição na Internet pede centenário de Cabral com cerimónia oficial em Cabo Verde

Uma petição na Internet pede uma cerimónia oficial em Cabo Verde para celebrar no próximo ano o centenário do nascimento de Amílcar Cabral, após rejeição de uma proposta nesse sentido no parlamento, disse hoje à Lusa a promotora.

A iniciativa é da historiadora cabo-verdiana Ângela Coutinho, e acontece após a bancada parlamentar do Movimento para a Democracia (MpD, no poder) ter reprovado uma resolução apresentada pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição) para celebrar os 100 anos do nascimento do líder das independências da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, em 12 de setembro de 2024.

Ângela Coutinho, residente em Lisboa, afirmou que é uma das muitas pessoas que estão diretamente envolvidas na preparação de atividades por parte da sociedade civil para comemorar o centenário de Cabral, e que não se reveem na forma como a questão foi debatida e nem na decisão tomada pela plenária da Assembleia Nacional de Cabo Verde.

A proposta recebeu 32 votos a favor, dos quais 28 do PAICV e quatro da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID, também na oposição) e 34 votos conta do MpD.

Nas suas declarações de voto, o deputado e presidente do PAICV, Rui Semedo, disse tratar-se de um “momento triste” na história do parlamento cabo-verdiano, enquanto o líder parlamentar do MpD, Paulo Veiga, explicou que juridicamente a resolução é o instrumento errado para o efeito, mostrando que deveria ser através de uma proposta de lei, apresentada pelo Governo.

A historiadora disse que muita gente ficou preocupada com essa decisão e ficaram à espera de uma “contraproposta” das autoridades cabo-verdianas, que não aconteceu até agora, pelo que os subscritores querem expressar o seu “desacordo e descontentamento” na petição lançada em 09 de novembro e que hoje já conta com quase 2.000 assinaturas.

“Nós pensamos que esta é uma questão absolutamente fulcral, e relativa aos nossos direitos como cidadãos. O nosso direito à História, o nosso direito à memória e à voz dos cidadãos tem também de ser ouvida”, vincou a promotora da petição, onde não se faz nenhuma referência a partidos políticos.

“Porque nós consideramos que os deputados são da Nação, não são deputados de partidos políticos, são deputados da Nação que representam os cidadãos e nós não compreendemos”, insistiu nas críticas, em declarações por telefone à Lusa a partir de Lisboa.

Os subscritores pedem “ações concretas e urgentes”, a começar pela nomeação, por parte da Assembleia Nacional, de Comissão para preparar um programa das comemorações, composta por personalidades da sociedade civil, residentes no país e na diáspora, e de diversas gerações.

“Se os nossos deputados da Nação não conseguem chegar a um consenso quanto a uma comemoração oficial do centenário de Amílcar Cabral, nós da sociedade civil podemos assumir isso”, garantiu, esperando que essa cerimónia seja assumida pelos mais altos órgãos de responsabilidade do Estado de Cabo Verde e que tenha “toda a pompa e circunstância”.

Na petição, em que o objetivo é chegar às 2.500 assinaturas, sugere que a comissão tenha todos os equipamentos culturais e desportivos e espaços para reuniões e outras atividades e também que seja nomeada uma Comissão Organizadora e uma Comissão de Honra para o efeito.

No estrangeiro, onde disse que tem amigos que já estão a preparar excursões a Cabo Verde em setembro de 2024, constatou que as reações à decisão foram de “choque total e de incompreensão”.

“Há uma revolta. As pessoas estão sem chão. Há pessoas que me perguntam o que é que se passa em Cabo Verde, como é que nós podemos chegar tão baixo”, lamentou Ângela Coutinho, investigadora nas Universidades Nova de Lisboa e de Coimbra.

Lusa

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