Secretário da CPLP relaciona falta de condenação à Rússia com impactos no continente africano

O secretário-geral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) relacionou a abstenção de condenações à Rússia por parte de países africanos com os duros impactos da guerra na Ucrânia sentidos nessas nações.

Em entrevista à Lusa, em Nova Iorque, na sexta-feira, Zacarias da Costa observou que os Estados africanos têm sido os que mais sofrem com as consequências da invasão russa da Ucrânia, defendendo que “todos os países têm os seus interesses”.

“Penso que todos os países têm os seus interesses e todos os países têm em conta a sua situação, não só a situação geográfica, mas também de relevância e de influência a nível internacional. Portanto, interessa aos países de África condenar uma guerra, quando os efeitos desta guerra estão a ser mais sentidos por esses países e por essas populações”, questionou o secretário, à margem da 77.ª Assembleia-Geral da ONU.

“Penso que cada um toma a decisão que interessa, salvaguardada pelos seus países e pelos seus cidadãos. A verdade é que todos sentimos as consequências da guerra, mas os países da África, sobretudo os países pequenos, e não só em África, são os que mais sofrem com as consequências desta guerra”, frisou.

Desde o início da guerra da Ucrânia, em 24 de Fevereiro, um número significativo de nações, maioritariamente africanas, abstiveram-se de condenar a invasão russa, sobretudo em palcos como as Nações Unidas.

Esta posição tem sido lida como ligada não apenas ao papel estratégico político e económico que Moscovo representa em grande parte da África, mas também a razões históricas como o apoio russo aos movimentos anticoloniais e à libertação dos povos africanos no século XX, como a luta contra o regime segregacionista do ‘apartheid’ no caso da África do Sul.

Com uma agenda intensa na 77.ª Assembleia-Geral da ONU, a primeira desde o início da guerra, Zacarias da Costa defendeu que, neste momento, impõe-se o diálogo, mas disse esperar que as palavras se convertam em acções em prol da paz.

“Penso que o que se impõe neste momento é o diálogo, é o que todos querem. E obviamente que discursos são sempre muito bonitos, (…), mas implementar aquilo que nós todos queremos não é fácil porque depende da vontade dos governantes. E, portanto, o que espero é que passemos do discurso à prática e que encontremos formas de diálogo que possam trazer a paz”, salientou.

Ao contrário do que é habitual, não foi agendada nenhuma reunião da CPLP à margem desta sessão da Assembleira-Geral da ONU. Em entrevista à Lusa, na semana passada, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, justificou essa ausência de reuniões com as eleições que se avizinham em muitos países do grupo.

“Neste momento não temos [agendada uma reunião da CPLP]. Repare-se: o Brasil está a dias de eleições, em Angola o Governo acaba de assumir funções, em Moçambique há um congresso da Frelimo e, portanto, Presidente e ministro também não estarão presentes. São Tomé também tem eleições em Setembro. Acontece que, nesta Assembleia-Geral, não há uma forte presença da CPLP, mas a CPLP está muito presente nas Nações Unidas em geral”, disse Gomes Cravinho.

Zacarias da Costa indicou que, apesar de não ter sido agendado nenhum encontro formal, não faltaram encontros bilaterais na sua agenda, com a finalidade de ter uma “CPLP muito mais dinâmica, muito mais interveniente e muito mais próxima dos cidadãos”.

Além de encontros com representantes de Estados-Membros da CPLP, Zacarias da Costa manteve ainda encontros o secretário-geral da Organização dos Estados de África, Caraíbas e Pacífico (OEACP), Georges Chikoti; com o secretário-geral Ibero-americano, Andrés Allamand; com o secretário executivo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SDAC), Mpedi Magosi; com o secretário-geral da Juventude Ibero-americana, Max Trejo; e com a subsecretária-geral de Comunicações Globais da ONU, Melissa Fleming.
Inforpress/Lusa

Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on pinterest