Setor empresarial cabo-verdiano vai poder concorrer ao selo Empresa Excelência a partir de 2024

A iniciativa visa incentivar a transparência, a sustentabilidade e dar notoriedade às boas práticas no setor empresarial cabo-verdiano.

Foi apresentada nesta quinta-feira, dia 16, na cidade da Praia a iniciativa Empresa Excelência. Uma certificação anual à qual as empresas do setor privado vão poder se candidatar a partir de 2024. Trata-se de uma iniciativa da empresa de consultoria financeira BTOC apoiada pelo Accelerator Lab do PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, em Cabo Verde.

“O que se pretende é dar notoriedade às empresas que têm boas práticas. Pretende-se que seja uma iniciativa de caráter anual, em que será avaliado um conjunto de critérios que está definido no regulamento. A partir daí, as empresas recebem um certificado, dizendo que cumprem aquele regulamento”, começa por explicar o responsável da BTOC Carlos Graça. 

A iniciativa tem caráter nacional e é destinada às empresas que estão no regime de contabilidade organizada, que é o regime que permite fazer uma avaliação dos indicadores financeiros, nesta primeira fase, e a ambição é que todas estas empresas, cerca de cinco mil,  possam participar futuramente.

A adesão das empresas e a partilha de informação são voluntárias, salienta o representante da empresa em entrevista, “pretende-se que as empresas façam através da plataforma a sua candidatura e o sistema automaticamente devolve os resultados em função do que está estipulado no regulamento”.

Depois de submeterem as suas informações online na plataforma empresaexcelencia.cv , as empresas podem se candidatar ao selo Empresa Excelência com o qual serão consideradas exemplos de “boa governança”, no seu desempenho financeiro, explica a mesma fonte.

A plataforma tem igualmente uma parte educativa relacionada com a questão das boas práticas, a literacia financeira e a sustentabilidade, avança o promotor. 

“Para além disso, a plataforma tem uma funcionalidade onde as empresas podem fazer um autodiagnóstico sem ser obrigatório fazerem a candidatura. Isso significa que qualquer empresa pode submeter os seus dados, pode fazer a sua avaliação e não tem a obrigatoriamente de fazer uma candidatura”, explica Graça e acrescenta que desta forma a empresa pode fazer uma avaliação daquilo que são os seus indicadores e “estar sempre a ver o seu desempenho”.

Dados estatísticos sobre o tecido empresarial

“Em função também da adesão das empresas e do tecido empresarial, depois a plataforma vai ter um conjunto de indicadores que serão disponibilizados à sociedade geral, que vai permitir fazer análises comparativas. Hoje temos alguma dificuldade em obter dados estatísticos do desempenho empresarial (…) e aferir um bocadinho o que é o barómetro das empresas e o que é tecido empresarial privado”. 

Quanto maior for a participação das empresas, maior será a diversidade dos dados, podendo ser também por setor de atividade, por exemplo.

Segundo Carlos Graça, “a grande generalidade dos bancos”, a nível nacional, já se associaram à iniciativa e que serão um agente importante na dinamização da mesma visto que poderão sugerir às empresas que procuram financiamento a adesão à plataforma e a submissão das suas candidaturas e informação financeira.

Critérios financeiros e acesso ao financiamento

Numa primeira fase os critérios serão meramente à base de indicadores financeiros, segundo esclarece Carlos Graça.  “Obviamente que uma empresa que tenha dívidas fiscais ou tenha alguma infração em termos ambientais não pode submeter a sua candidatura”, afirma Carlos Graça mas explica que as mesmas podem na mesma fazer o autodiagnóstico na plataforma.

Esta iniciativa pretende também contribuir para a mudança de mentalidades, afirma o promotor. “ Fala-se muito no acesso ao financiamento. A experiência que temos demonstra que as empresas que têm a informação organizada, mesmo com dificuldades e em contexto económico difícil, não deixam de ter acesso ao crédito (…) É fundamental que haja alguma mudança de atitude”, salienta Graça e diz que é por isso preciso incentivar as boas práticas e que já há inclusive financiamentos sustentáveis que estão relacionados com o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS, por exemplo.

Segundo a mesma fonte, o regulamento da distinção Empresa Excelência foi estabelecido de acordo com o Ecossistema Financeiro, ou seja “de acordo com quem também dá financiamento à economia”, sendo que o regulamento será revisto em função dos ciclos económicos.

Plataforma disponível a partir de 2024

Segundo a organização, a expectativa é que quando as empresas estiverem na preparação das suas contas relativas ao ano de 2023 a plataforma já esteja a funcionar, ou seja, a partir de fevereiro/ março de 2024. Numa primeira fase para o autodiagnóstico e depois para as candidaturas à distinção de empresa excelência. 

Já a atribuição do selo Empresa Excelência será, “tendo em conta que a grande maioria das empresas atrasa-se neste processo, talvez em junho ou julho, se houver uma boa adesão”.

Conscientes de que esta será uma luta contra a maré devido à resistência na disponibilização de dados das empresas, as expectativas são moderadas para este primeiro ano. “Temos a noção de que num universo de 5 mil empresas de contabilidade organizada, de acordo com o último senso, temos uma expectativa baixa para o primeiro ano. Gostaríamos de ter no primeiro ano pelo menos 100 empresas com a logomarca Empresa Excelência, num universo de cerca de 300”, conclui Carlos Graça.

Segundo Vladimir Fonseca, do Accelerator Lab do PNUD Cabo Verde, “esta iniciativa é um bom veículo junto das empresas para conceitos como a transparência, a boa governança e a responsabilidade social de forma a começar a sensibilizá-las da questão da contribuição para os ODS”.

Apesar de não se começar com todos os critérios, a ideia é que as Empresas Excelência não cumpram apenas os critérios financeiros, mas também quesitos como a responsabilidade ambiental e todo a sua forma de atuação na sociedade. “ A ideia é começar a sensibilizar as empresas de que se queremos atingir os ODS em 2030 todos temos de contribuir e as empresas têm um papel nisto. Nós estamos a usar esta iniciativa como veículo para passar esta mensagem”.

A apresentação da plataforma aconteceu durante a XXVI edição da Feira Internacional de Cabo Verde, FIC, que decorre até o dia 18 de novembro na Cidade da Praia.

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