
Quarta-feira, 4 de Outubro, 2023
A localidade de Baleia fica a cerca de três quilómetros de Mato Grande e é a única localidade povoada da ilha Brava que não possui ligação automóvel, enfrentando assim várias dificuldades, superadas com humildade e solidariedade.
Para chegar à Baleia, pode-se optar por ir de carro até Mato Grande, a zona mais próxima que tem acesso a estrada, ou então, quem vai da Cidade de Nova Sintra pode subir pelas vias vicinais, via João da Noli ou então Raiz para ter uma vista mais ampla e contemplar Nova Sintra.
Chegar a Baleia implica descer uma via pedonal e no caminho há um desvio para a localidade de Garça, zona com dificuldades idênticas aos da Baleia, embora a localidade de Garça tenha menos casas habitadas devido à emigração da sua população.
Na Baleia, a Inforpress conversou com alguns moradores, que contaram o dia-a-dia dessa comunidade e as necessidades que enfrentam, desde a ausência de estrada, do caminho vicinal que fica entre rochas e sem muros de proteção, passando pela falta de iluminação pública.
Nessa comunidade onde vive cerca de 40 a 50 pessoas, Benvinda dos Reis, uma jovem moradora contou que neste momento, as pessoas mais idosas já não vivem nesta localidade devido às dificuldades que encontram principalmente na questão do acesso à saúde, mas também à falta de água, dificuldades em fazer o percurso até Mato Grande, sem falar que a rede móvel em caso de emergência é escassa ou quase inexistente.
Outra questão ressaltada por essa jovem é a falta de iluminação pública durante a via de acesso e mesmo dentro da localidade, esclarecendo que dentro da zona somente uma lâmpada está a funcionar e já há anos que têm vindo a reclamar junto das autoridades, mas até agora nada foi feito.
É uma zona, que depende de tudo o que vem de fora, desde educação, pois as crianças têm de se deslocar todos os dias para Mato Grande, quer para os do jardim-de-infância ou do Ensino Básico Obrigatório, mas também para a saúde, comércio, entre outros aspetos.
Entretanto, é uma zona que também possui as suas valias e que conseguem “contornar” estes constrangimentos, não mergulhando somente num mar de lamentações.
“Somos um povo pobre e humilde, mas temos a cultura da interajuda e é o espírito da solidariedade que nos une”, evidenciou Cláudia Costa, uma outra moradora, ressaltando que na zona não há espaço para tristeza, além das diversas dificuldades.
Em modo de reforço à afirmação da colega, Benvinda Reis contou que há dias que organizam jogos de diversas índoles para passar o tempo, mas também mobilizam para almoços em uma casa só, reunindo todos da zona, sem deixar de lado a parte artística existente nesse povoado, falando do grupo de teatro “Os Trapalhões”.
“Fazemos de tudo para levantar a nossa comunidade que é também uma comunidade muito visitada principalmente nas maiores festas organizadas aqui”, indicou, falando da tradição de festejar São Paulo, Santana e Santaninha que atrai visitantes de todas as outras localidades da Brava.
Ainda, contou com “brilho e fervor” que Santaninha é a festa maior da zona, onde todos os moradores, dos mais pequenos aos adultos, vestem todos de branco, organizam uma marcha até um barco de pedra que existe na localidade e nesta marcha, retratam a emigração, mas também há profissionais de todas as índoles, desde os do navio a médicos ou polícias que também viajam a bordo e no final, há sempre comida para todos.
Já sobre o grupo de teatro, realçou que o teatro desde sempre fez parte dessa comunidade, pelo menos desde que se entende por gente, e o grupo Os Trapalhões, já atuou em todas as localidades da ilha, mas também na ilha do Fogo e na Cidade da Praia, onde sempre retratam temas da atualidade, com o intuito de dar o seu contributo na sensibilização em matérias de questões sociais.
Para finalizar, relembrou que é na Baleia que aqueles que querem conhecer a casa do Eugénio Tavares na zona de Aguada a pé têm de passar, a não ser que optem por fazer o trajeto de bote.
Inforpress
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