
Quarta-feira, 31 de Maio, 2023
São conhecidos como “soldados da Paz” e são homens e mulheres que deixam o conforto do seu lar e a sua atividade profissional para garantirem a tranquilidade daqueles que se sentem ameaçados por fenómenos naturais, incêndios ou acidentes.
Em Santo Antão, os bombeiros, é deles que estamos a falar, são voluntários e muitas vezes perdem o próprio dia de trabalho para poderem dedicar-se a ajudar os outros, integrados nas três corporações de bombeiros voluntários existentes em cada um dos concelhos da ilha.
No concelho do Paul, o responsável dos bombeiros voluntários locais, Rilson Baptista, não se assume como “comandante” já que, embora dirija a corporação, não foi investido nessa função.
“O nosso comandante está ausente e, por isso, sou o responsável da corporação neste momento. Mas vamos resolver o problema dentro de pouco tempo”, disse Rilson Baptista, que não adiantou se pretendem nomear um novo comandante ou se o atual vai regressar.
A formação para o recrutamento de mais pessoal, a reciclagem dos cerca de 15 bombeiros que integram a corporação e a disponibilização de mais meios materiais são alguns dos constrangimentos identificados por Rilson Baptista que, entretanto, garantiu um elevado nível de prontidão quando são chamados a intervir.
“A maior parte de nós trabalha no centro da cidade das Pombas e, quando há chamadas, nós respondemos em cerca de cinco minutos”, disse Baptista, explicando que têm equipamentos de proteção nos carros de intervenção e, por isso, respondem rapidamente.
Já no Porto Novo, os bombeiros voluntários necessitam de melhores condições para o exercício das suas atribuições, para poderem responder, da melhor forma, às solicitações dos porto-novenses, conforme disse à Inforpress o comandante da corporação local, Balbino Cruz.
A corporação reclama a construção de um novo quartel de bombeiros que ofereça melhores condições de trabalho, além da disponibilização de equipamentos para o desencarceramento de vítimas em caso de acidentes de viação.
O serviço de piquete já funciona no Porto Novo, mas apenas no período entre as 16:00 e as 24:00, pelo que o comandante Cruz defendeu um período de funcionamento mais alargado, durante 24 horas por dia, ou seja, quer que o mesmo funcione de forma ininterrupta.
O comandante Balbino Cruz explicou que o facto de os bombeiros trabalharem em regime de voluntariado condiciona muito a capacidade de resposta desta instituição, pelo que tem estado a discutir com a Câmara Municipal do Porto Novo a necessidade da profissionalização de um grupo de soldados da paz.
Segundo a mesma fonte, o Corpo dos Bombeiros Voluntários do Porto Novo dispõe de dois carros de combate a incêndios e uma ambulância, mas ainda precisa de uma viatura para o transporte do pessoal e, se possível, de uma viatura auto-tanque para reforçar a sua capacidade de intervenção.
O comandante dos Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande, Manuel dos Anjos, defendeu a necessidade de melhorar as condições de trabalho da corporação, desde logo, com a profissionalização do efectivo, mas esta ideia não tem encontrado eco junto dos responsáveis municipais.
“Sempre que falamos na profissionalização dos bombeiros, com o presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, ele nos dá a esperança de que tem vindo a trabalhar para nos profissionalizar, mas ainda não há nada neste sentido”, disse.
Mesmo aguardando, Manuel dos Anjos pontuou que a sua corporação “sempre dá o máximo” em todas as situações e com prontidão, mesmo não tendo todos os equipamentos.
“Fazemos a gestão dos equipamentos que nos são disponibilizados, temos a consciência de que há custos elevados em adquiri-los. Por exemplo, precisamos de uma auto-escada, entre outros equipamentos, mas sabemos que tem custo elevado”, pontuou.
As câmaras municipais dos três concelhos da ilha de Santo Antão são unânimes em reconhecer o “trabalho abnegado” desenvolvido pelos bombeiros, “mesmo em regime de voluntariado”, mas não se mostram disponíveis para, no curto prazo, avançar para a profissionalização dos bombeiros, atualmente, voluntários.
O presidente da Câmara Municipal do Porto Novo, Aníbal Fonseca, admitiu a existência de muitas dificuldades para um bom funcionamento da corporação local, mas garantiu que a edilidade está a envidar esforços para ‘criar as condições’ para que os bombeiros continuem a fazer o seu trabalho de forma eficiente, mas afastou, pelo menos para este ano, a profissionalização parcial do efetivo.
Entretanto, para este ano, a autarquia porto-novense pretende investir mais de um milhão de escudos na melhoria da capacidade técnica e institucional dos bombeiros voluntários.
Também no Paul, os bombeiros voluntários gozam da confiança da câmara municipal local, cujo presidente, António Aleixo Martins, disse reconhecer “a importância da classe” e anunciou a “pretensão de profissionalizar os BV”, embora defenda que “há que dar tempo na medida em que as câmaras municipais precisam de sustentabilidade financeira para o efeito”.
Segundo António Aleixo Martins, a Câmara Municipal do Paul não tem tido problemas de maior com a classe dos bombeiros voluntários na medida em que, de uma forma geral, “o grosso dos efectivos são funcionários do município ou dos serviços desconcentrados” e, além dos direitos dos funcionários da CMP, “sempre que há atividades são compensados através de subsídios pontuais”.
“O processo de enquadramento é um grande desafio, mas que depende de meios financeiros das autarquias, o que poucos ainda conseguem fazer”, admitiu António Aleixo, no que é secundado pelo vereador da Proteção Civil da Câmara Municipal da Ribeira Grande, Paulo Rodrigues, que apontou a necessidade de “recursos” devidamente inscritos no orçamento municipal para o efeito.
“Primeiro temos de nos adaptarmos financeiramente e, no orçamento, ainda não temos contemplado a profissionalização dos bombeiros”, disse Paulo Rodrigues que aponta esse objetivo para o “médio/longo prazo”.
Paulo Rodrigues sublinhou que a câmara municipal tem vindo a dar “saltos qualitativos” na melhoria das condições da corporação dos bombeiros voluntários e exemplificou que já há dois bombeiros voluntários a trabalharem no comando.
Segundo o autarca, o concelho da Ribeira Grande tem 144 bombeiros voluntários formados, dos quais apenas 30 estão no ativo.
Conforme explicou Paulo Rodrigues, muitos fazem a formação, mas depois não “dão a mão” ao verdadeiro sentido do voluntariado e acabam por não atuar na corporação.
“Temos 30 bombeiros voluntários e esses irão ser segurados”, anunciou Paulo Rodrigues, que prometeu garantir mais equipamentos nos próximos tempos e alargar a parceria com outras instituições para ter mais formações, principalmente no que tange ao salvamento aquático.
A Corporação dos Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande foi criada há 24 anos e tem planos de emergência para a época das chuvas e para os incêndios florestais.
Quanto às formações, a última reciclagem foi feita em 2019, todavia com o advento da pandemia da covid-19 não foi possível continuar com as parcerias internacionais para ministrar formações, mas a edilidade já tem em carteira um leque de formações para os próximos meses, devido à necessidade de adaptar as capacidades dos bombeiros voluntários aos “novos tempos”.
Inforpress