Crónica sem título

Na busca pelo tema da crónica deste mês revisitei várias frases que nos últimos meses tenho anotado no meu caderninho de anotações diárias, e deparei-me com algumas que gostaria de aprofundar e fiquei bastante indecisa sobre qual escolher.

E pensei para comigo, porque não escolher duas ou três frases e a crónica versar sobre elas ao invés de me cingir a apenas uma, como venho fazendo. Pensado e decidido (vantagens , aqui vão as três frases escolhidas: 1) Ser importante é conseguir fazer para mais pessoas; 2) Dê o seu melhor hoje; e 3) Ninguém tropeça na montanha, mas sim nas pedrinhas do caminho.

“Ser importante é conseguir fazer para mais pessoas”: esta frase teve o condão de me pôr em silêncio por longos minutos quando a ouvi pela primeira vez e o mesmo aconteceu agora quando após a ter escolhido comecei a organizar as minhas ideias para as pôr por escrito.

Acredito que tal seja motivado pelo fato de que muitas vezes sabemos as coisas mas não paramos para pensar no que elas realmente significam. A importância de algo está ligada ao seu efeito positivo na vida dos outros. Falando de pessoas, alguém é importante pelo efeito que a sua conduta e feitos têm no outro e na realidade à sua volta. O que vem reforçar algo que tenho vindo a constatar com maior clareza: devemos viver para o outro.

Não no sentido de nos pormos à mercê do outro, de nos validarmos pela sua aceitação, mas sim que a nossa vida não seja apenas centrada exclusivamente em nos satisfazermos, voltada para o nosso umbigo. Temos sim a obrigação de contribuirmos positivamente para a realidade à nossa volta começando por amarmos o outro, não como um meio para um fim mas como o fim em si. Querendo o bem do outro e manifestando esse amor em influências positivas e construtivas. Daí a necessidade imperiosa de nos irmos aperfeiçoando como seres humanos e partilhando com os que nos rodeiam a nossa evolução e as nossas conquistas.

Que desperdício será vivermos 70/80 anos e no final só nos podermos vangloriar que a única coisa alcançada foi a nossa satisfação pessoal.

“Dê o seu melhor hoje”: esta frase me faz sorrir pois tem o condão de me retirar dos ombros a pressão do futuro. Isso porque dilui o foco no longo prazo e o coloca no período que realmente existe: o hoje. Não há como viver sem planos para o futuro pois o ser humano foi criado para se reproduzir e perpetuar no tempo, o que pressupõe por si só pensar e planear o futuro. No entanto o planeamento do futuro pode criar uma ansiedade grande em nós e o stress daí adveniente é contraproducente, tornando mais difícil o nosso percurso. Ao nos focarmos somente nas 24 horas que temos pela frente conseguimos respirar e ir avançando, passo a passo.

Esta frase acompanha-me há já vários anos e tem sido esta a mensagem que passo à minha filha mais velha: interessa fazeres o teu melhor em tudo o que fazes, sempre.

Sei que não é possível estarmos 100% presentes em tudo o que vamos fazendo, muitas atividades só são possíveis de serem feitas por estarem em piloto automático, mas é necessário que nas coisas mais relevantes estarmos de corpo e alma e isso reflete-se com o darmos o nosso melhor. A cada situação devemos avaliar se a nossa prestação foi a melhor e caso não a seja, nos questionarmos do porquê. E é preciso muito cuidado para que essa vontade de dar o nosso melhor não venha a constituir um novo foco de ansiedade. A caminhada faz-se com cada passo e a cada “hoje” vamos construindo o nosso futuro.

“Ninguém tropeça na montanha, mas sim nas pedrinhas do caminho”: quando ouvi esta frase confesso que não pude conter o riso. Veio-me à cabeça a imagem de alguém a tropeçar numa montanha e foi caricato (deem-se um desconto). Verdade verdadeira esta frase, permitam-me o atrevimento. São efetivamente as pedrinhas no nosso caminho que têm a capacidade de nos fazer tropeçar. A montanha pelo seu tamanho não nos passa desapercebida e em consequência vamos nos preparando para ela e a conseguimos ultrapassar, com maior ou menor dificuldade conforme a nossa preparação. E quantas vezes após a ultrapassarmos damos conta de que a dificuldade era menor do que àquela que antecipamos?

Quanto às pedrinhas do caminho podemos não as ver, podem nos confundir quanto à sua real dimensão, podendo nos fazer cair e atrasar a nossa caminhada. Não entendam o atraso como perda de tempo, pois já vimos que nada do que acontece é por acaso e em vão, tem sempre um propósito, nós é que muitas vezes falhamos no seu entendimento em tempo oportuno.

Muitas vezes o que nos faz diminuir o passo, nos faz dar voltas e mais voltas sem sair do mesmo lugar e parar são coisas que não demos a devida atenção e importância pela pequenez que lhes atribuímos. Quem já sentiu o desconforto causado por ter uma pedrinha no sapato (literalmente falando) sabe do que falo. Não subestimemos as “pequenas” coisas que nos vão acontecendo. Devemos analisá-las com maior senso crítico de forma a que possamos dar a tudo a sua devida importância, nunca esquecendo que tudo o que é grande hoje começou pequeno. Estejamos atentos e vigilantes, pois o crescimento a isso obriga.

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Adénis Carvalho Silva

Adénis Carvalho Silva

"Filha, mãe, esposa, advogada. Amiga dos seus amigos. Leal, honesta e direta. Uma apaixonada por música, livros e pela escrita. Amante de uma boa conversa e de aprender coisas novas. Em permanente busca de novos desafios."

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