Férias à vista e começa a odisseia dos pedidos de visto

Vem aí o verão e começam, ou já começaram, as corridas para os vistos de turismo de curta duração, para visitarem os familiares e ou só para passear. Após um ano de trabalho, todos merecem o devido descanso. Nessa época começa uma autêntica odisseia para quem resolve entrar neste peditório de visto.

Todos os anos a mesma coisa, uma burocracia interminável para sairmos da nossa terra. Enquanto, que para entrar no nosso país é muito mais tranquilo. Somos um país de Morabeza, ainda bem, mas e porquê que os nossos quando querem sair só encontram entraves? Qual é o propósito de vários acordos entre países irmãos, se mesmo assim continua tudo complicado para algumas pessoas?

O visto parece ser uma lotaria, uma vez ganha-se o direito para sair de férias, outras nem por isso, e dá uma trabalheira que só! Lembro-me que há dois anos os meus pais pediram visto para virem visitar a mim e aos meus irmãos que estão cá na Europa. Lá consegui convencer o meu pai, ele só de pensar no trabalho que se tem para pedir o visto fica logo desanimado, mas pediram e obtiveram o visto. Acabaram por não vir porque a pandemia atropelou-nos pelo caminho, e todo o trabalho e o dinheiro gasto ficou em águas de bacalhau, no caso de Cabo Verde a expressão deve ser em águas de cavala! Ou seja, ficou sem efeito!

Qual é o propósito de vários acordos entre países irmãos, se mesmo assim continua tudo complicado para algumas pessoas?

Este ano ando a tentar convencê-los a virem visitar as netas e o neto, nem digo os filhos, mas até agora sem sucesso. Principalmente agora que não temos mais como pedir visto em São Vicente, tudo é tratado na Praia. Really?

Ainda no outro dia estava a conversar com um emigrante e ficamos os dois a pensar: como é que uma pessoa para vir de férias tem que ir para a cidade da Praia, pagar uma passagem interilhas que não é barata, venhamos e convenhamos, pagar o visto e pagar a estadia se não tiver uma pessoa conhecida para ficar. Depois disso tudo, caso tenha o visto, comprar o bilhete para Portugal que custa os olhos da cara e ter que provar que tem rios de dinheiro no banco para se manter cá. Se o visto for recusado, mesmo fazendo todas as provas solicitadas, fica tudo perdido, o tempo, o dinheiro e claro só resta a desilusão de não se poder concretizar os planos!

É uma desilusão que ultrapassa o Oceano Atlântico, porque nós que estamos deste lado à espera dos familiares e de amigos ficamos tristes também. Aqui também temos que tratar de documentos e gastar dinheiro para pedir os mesmos. Nada é gratuito.

Por falar em documentos há pouco tempo um emigrante disse-me que pagou 50€ para pedir um documento que comprova a sua residência naquela junta. Eu até hoje fico a perguntar se não houve um erro, sempre paguei entre 2€ a 3€, não sei precisar o valor, mas não foram 50 paus.

Deslocar-se à cidade da Praia não pode ser a única solução

Voltando a situação dos pedidos de vistos serem agora na Praia. Sempre que entro no Facebook do Centro Comum de Vistos, a pergunta que não se quer calar é: E São Vicente para quando a deslocação? Porquê é que não há mais deslocações para as outras ilhas? Só que são perguntas que ficam sem respostas, pois ninguém até hoje, 31/05, do CCV respondeu aos utilizadores que precisam saber a situação dos vistos.

Acredito que deslocar uma equipa para atenderem as pessoas em São Vicente e nas outras ilhas seria o mais apropriado e correto a se fazer. É que somos 10 ilhas, bom uma desabitada, imaginem todas as pessoas que querem sair de férias terem que obrigatoriamente deslocarem-se à ilha da Praia, com todos os gastos apontados acima. Não há uma solução mais viável do que a que está em vigor atualmente?

Parece que as pessoas que pedem vistos estão a mendigar o serviço que é pago por elas

Agora pergunto eu: Para quando uma equipa vai voltar a deslocar-se para as outras ilhas? Todos sabemos que com a pandemia foi preciso ajustar algumas coisas, mas já está quase tudo a voltar ao normal e ainda as pessoas estão na mesma a terem que viajar para a Praia.

Antes era tudo mais fácil para dar entrada nos pedidos de vistos, a burocracia era a mesma, mas só o fato de em São Vicente termos um consulado onde podíamos pedir o visto já facilitava a vida de muita gente.

É preciso sim uma solução para as pessoas das outras ilhas, que não seja viajar até à Praia. Cá fora somos uma comunidade bastante grande e queremos poder receber os nossos familiares e amigos na nossa casa, com toda a nossa Morabeza! É preciso um pouco de empatia para com as pessoas que pedem o visto! Parece que as pessoas que pedem vistos estão a mendigar o serviço que é pago por elas. Quem é de direito deveria tentar resolver esta situação e assim facilitar a vida do povo das outras ilhas!

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Ziza Almeida

Ziza Almeida

"Nascida e criada na ilha do Monte Cara, ganhou asas para o mundo. É Jornalista de formação pela UERJ, Brasil. Adora viajar, ler, ir ao cinema, ao teatro e estar com as pessoas que ama. Atualmente vive em Lisboa, é colunista na Revista Brasileira "Coluna de Terça''e é mãe de duas princesas Luso-Caboverdianas."

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