
Domingo, 24 de Setembro, 2023
Rize (2005)
David LaChapelle
Um documentário primoroso que resulta de uma incursão pelos guettos de L.A para nos contar o que está por detrás da vitalidade embrionária da dança de rua Krump.
A gangorra de imagens com ar de “não manipuladas” é ganha pelo à vontade dos participantes, mesmo que percamos a continuidade de alguns factos, muito à conta dos cortes bruscos na edição e da sua aparência jornalística consternada, o todo faz touché, e deve concorrer, para mim, aos top 3 dos melhores documentários de dança que já vi.
13 Sins (2014)
Danil Stamm
Há sadismo, há carnificina: há um personagem-jogador que se vê a braços dados com um quebra-cabeças, e acaba por se colocar numa série de situações limítrofes. Existe, em certa medida, uma veracidade incómoda no (sub)texto deste thriller sanguinário, que já foi matéria bruta de muitos outras tramas (talvez em alta na saga Saw), mas que consegue ainda assim dar um nó na barriga, por baixar as calças da humanidade e nos fazer pensar que, na mais terrível das hipóteses, que somos todos monstros em potencial. Não é brilhante, e no txan-txaram, vai de cabeça para uma final-ratoeira, que custa a tragar.
Boxtrolls (2014)
Graham Annable
Anthony Stacchi
O visual cartunesco à horror movie, feito em técnica stop motion, é absolutamente bestial.
Uma divertida alegoria política, com monstrinhos tremendamente fofos, e um antagonista e seus capachos vilanescos cheio de charme e comicidade, são o garante de uma cinema de animação de alta gama, que merece perdão por qualquer coisinha não bem resolvida.
Rebelados no Fim dos Tempos,
Jorge Murteira
A nota introdutória que antecede as filmagens faz-nos logo-logo um apanhado geral deste documentário: “É sobretudo a partir da segunda metade do século XX que os Rebelados surgiram na ilha de Santiago, em Cabo Verde. Não aceitaram a autoridade religiosa dos Padres Espiritanos, vindos de Portugal. Anos mais tarde, em conflito com as autoridades coloniais, recusaram a desinfestação das casas com DDT, tendo alguns dos seus líderes sido deportados para várias ilhas do arquipélago”.
A entrada do Milénio, os mitos e temores cataclistas foram pontos de partidas de um um relance à comunidade de Rabelados da Ilha de Santiago. Mas não há fantasias: ouvimos e vemos testemunhos reais de um grupo de caboverdianos que se erradicou e vive numa realidade própria, mantendo um estilo de vida quase primitivo, porém com um sentido acurado de auto-subsistência.
É um filme bem etnográfico, que intercala essa tensão das superstições e tradições litúrgicas, com registos culturais, actividades profissionais e comerciais, com hábitos rotineiro e de lazer e ainda com espaço para exploração da geografia árida santiaguense. Valioso pela marca histórica na filmografia cabo-verdiana.
Sonhos em Movimento
Anne Linsel, Rainer Hoffmann
Diferente de Pina, de Wim Wenders, Tanzträume não é um documentário poético como o primeiro, mas faz delícias nos bastidores da remontagem da peça “Kontakthof”, criada pela coreógrafa alemã em 1978. Para quem já conhece religiosamente a obra bauschiana esta é uma revisitação recomendada. Para os que não, é um bom primeiro mergulho.
American Sniper
Clint Eastwood
Manter-se nos trilhos do academismo tem o seu preço, e American Sniper paga-os bem. Isto falando de um filme com um look ordinário e com cara chapada de outros filmes que já vimos (bem melhores por sinal). Hollyhood kind of movie.
A história cinebiográfica de Chris Khayle de “eu era cowboy e vi um anúncio na tv e resolvi ser da SEAL e matei 150 homens à snipada” é um pouco manchante para Clint Eastwood e a sua tentativa de tornar a América a menina mais bem comportada da sala.
A turma do bem e do mal da guerra ainda é sempre muito tendenciosa, principalmente na lógica discursiva americana, que justifica a sua avalanche bélica em nome de um patriotismo extremista sociopata que condecora, com moralismo corrupto, os shots que anda a dar aí pelo mundo afora.
Art-(v)-ista cabo-verdiano e produtor cultural multidisciplinar. Dissidente. Criador de Futuros.
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