
Devemos aproveitar para lembrar uma das classes trabalhadoras que é menos valorizada, as mães. Lembrar que elas cuidam de tudo e de todos e, muitas vezes, por trabalhar em casa a tempo inteiro não têm o devido reconhecimento.
A sociedade impinge que a mãe e a mulher só têm o seu valor reconhecido se trabalharem dentro e fora de casa. Muitas vezes, esquecemos que o facto de a mãe estar em casa, por opção ou não, já é um trabalho a tempo inteiro e não remunerado.
não podemos pensar que a mãe por estar em casa é menos que uma que trabalha fora de casa. Todas têm o seu valor.
É preciso lembrar que as tarefas são imensas e a carga horária de uma mãe é muito pesada, principalmente se ela também trabalha fora de casa. Ainda bem que temos esse direito conquistado e a mulher, mãe ou não, pode escolher o que quer fazer da sua vida, e ninguém tem nada a ver com isso. Então, não podemos pensar que a mãe por estar em casa é menos que uma que trabalha fora de casa. Todas têm o seu valor.
Enquanto, estou a escrever veio-me à cabeça às inúmeras mães cabo-verdianas que vivem no estrangeiro e lutam por um futuro melhor pelos seus filhos. Muitas vezes tendo que deixar os seus pequenos com os irmãos, ou algum conhecido, para ir trabalhar de madrugada. Sacrificando-se para ter o seu final do mês na mão e pagar as suas contas.
Durante a semana é mais tranquila porque existem as creches, as escolas e as crianças ficam com as professoras, só no fim de semana, caso a mãe não tiver com quem deixar a criança para ir trabalhar, é preciso recorrer a uma rede de apoio que pode ser familiar ou amigos. Eu muitas vezes já fui rede de apoio para amigos meus que precisavam trabalhar aos fins de semanas e está tudo bem, se puder ajudar, cá estou. As mães precisam saber que podem contar com o apoio de pessoas chegadas para poderem ir trabalhar, principalmente se for mãe solo e o pai for ausente. Outras vezes, é porque tanto a mãe, como o pai trabalham aos fins de semana, assim fica complicado, mas é preciso ter uma solução.
Quando estamos fora do nosso país, muitas vezes os nossos pais ficaram em Cabo Verde, que é o meu caso, por exemplo, e sinto tanto a falta dessa rede de apoio. Em Cabo Verde podemos contar com uma rede de vizinhos, família, amigos e todos se conhecem, praticamente. Eu lembro-me que quando era criança brincávamos tranquilamente na rua e tinha sempre uma vizinha que nos conhecia e se alguma coisa acontecesse avisavam os pais. Aqui, eu conheço alguma vizinhança, mas não ao ponto de deixar as pequenas na casa delas e ou a brincar na rua sem vigilância. Claro que há bairros onde as crianças vivem mais tempo na rua e dá a sensação que estamos em Cabo Verde.
Não fugi do assunto, foi só um à parte para mostrar o quão é difícil a vida de uma mãe no estrangeiro, e não quero dizer que não seja difícil em qualquer lugar. Aqui é um corre-corre entre transportes públicos e o trânsito que chega à noite e nem tem forças para as outras tarefas que estiveram à espera dela sem se mexer. Muitas vezes as mães têm mais do que um trabalho porque o salário não é suficiente. Deveria existir uma varinha mágica para as mães, ou uma fada-madrinha que ajudasse a resolver todos os pepinos do dia-a-dia e ela pudesse dar atenção aos seus pequenotes tranquilamente. Sem esquecer que ela também precisa relaxar um pouco e repor as energias.
quero desejar muita força a todas às mães que lutam diariamente tanto em casa como fora de casa para cuidar de tudo, de todos e batalhar nesta selva que é o mercado de trabalho
Conheço algumas pessoas amigas que têm mais do que um trabalho para poder ter um salário razoável no final do mês e ainda chegam em casa têm que fazer as tarefas domésticas. Quem não conhece alguém nessas condições que levante a mão! Por isso, sim este Dia do Trabalhador e Dia das Mães quero desejar muita força a todas às mães que lutam diariamente tanto em casa como fora de casa para cuidar de tudo, de todos e batalhar nesta selva que é o mercado de trabalho. Mercado este que não valoriza as mães e nem as mulheres em geral.
Ainda precisamos batalhar muito para conquistar mais espaços e mais direitos, mas sem esquecer de agradecer às lutas conquistadas até agora. Outro ponto importante é lembramos que a mãe cuida de todos, mas precisa também de cuidados, por isso tenta criticar menos e ajudar mais, no que poder. Vamos usar a tal de empatia e colocarmos no lugar do outro.
Chega de querer carregar o mundo nas costas sozinhas
No outro dia um amigo meu escreveu um texto onde dizia que o cuidador também precisa de cuidados, senti-me refletida nessa parte. E a coincidência é que eu queria mesmo falar desse tema na minha coluna, no tocante às mães. Nós cuidamos de todos, mas também precisamos de cuidados e de descansar. Chega de querer carregar o mundo nas costas sozinhas. Ajudar uns aos outros e ter uma rede de apoio é preciso tanto cá em Lisboa, como em qualquer lugar do planeta.
"Nascida e criada na ilha do Monte Cara, ganhou asas para o mundo. É Jornalista de formação pela UERJ, Brasil. Adora viajar, ler, ir ao cinema, ao teatro e estar com as pessoas que ama. Atualmente vive em Lisboa, é colunista na Revista Brasileira "Coluna de Terça''e é mãe de duas princesas Luso-Caboverdianas."
Site agregador de notícias e conteúdos próprios e de parceiros, com enfoque em Cabo Verde e na Diáspora, que quer contribuir para uma maior proximidade entre os cabo-verdianos.
+238 357 69 35
geral@balai.cv / comercial@balai.cv / editorial@balai.cv