Conhecidos os cinco investigadores cabo-verdianos vencedores da II edição dos Prémios Científicos

O ato de entrega dos diplomas no âmbito da II edição dos Prémios Científicos decorreu na manhã desta segunda-feira, dia 13, na Assembleia Nacional e foi presidido pela Secretária de Estado do Ensino Superior, Eurídice Monteiro.

O Prémio Científico é uma iniciativa do Governo através do Ministério da Educação que tem como objetivo principal promover ações que fomentem a cultura da investigação científica e tecnológica incentivando os jovens a investigarem e a criarem conteúdos das suas autorias .

Na manhã de hoje foram atribuídos prémios a cinco investigadores cabo-verdianos em diferentes categorias, sendo que o valor total dos Prémios Científicos ascende a mil e quinhentos contos.

O prémio Cabo Verde Prize for Young Scientists foi atribuído a Hélio Rocha, administrador do Instituto Nacional de Saúde Pública, INSP, autor da tese em Doenças Tropicais e Saúde Global. O galardoado aproveitou a cerimónia para incentivar os jovens a investigar e a apostar nos recursos que Cabo Verde possui que nem sempre são aproveitados da melhor forma.

“As minhas primeiras palavras de incentivo irão para os dirigentes políticos que resumo sempre em uma frase que é: a ciência é o motor da prosperidade. Não existe um país no mundo e nenhuma nação que se conseguiu desenvolver-se sem a ciência.”

Rocha deixou o apelo para que os governantes apostem na ciência em Cabo Verde no sentido de dar aos jovens oportunidades e condições para que possam desenvolver uma pesquisa científica.

Na mesma categoria foi distinguida Anyse Pereira, residente na Bélgica, que recebeu o prémio pela sua investigação sobre a flora de Cabo Verde e os seus benefícios em face das mudanças climáticas com a sua tese de doutoramento em Saber Tropical e Gestão.

Para Anyse Pereira este prémio é um ato de afeto, “um abraço de Cabo Verde”, o país que apostou na sua educação. “Já recebi vários prémios mas o “prémio da casa” não tem comparação, é um prémio que carrega vários sentimentos.”

Segundo a investigadora, este projeto serve para fazer com que todos valorizem a flora cabo-verdiana e vejam que realmente o saber tradicional de Cabo Verde é algo que deve ser valorizado e reconhecido pelos jovens.

“O meu trabalho vai nesta linha de comprovar que todos os chás que os nossos avós e entes queridos faziam que, por vezes, nem sequer sabíamos da sua origem, mas sempre resultam e curam aquilo que sentimos.”

O prémio Cabo Verde Global Scientific Prize foi concedido a José Joaquim Santos, pelo projeto “Simulação, Análise e Avaliação Termoeconômica de Sistemas Térmicos”, realizado no Centro Tecnológico da Universidade Federal do Espírito Santo, no Brasil.

“Já estou há 27 anos no Brasil e o meu projeto foi desenvolvido lá porque na época não havia ensino superior em Cabo Verde mas agora já temos. Considero que o meu projeto será bastante útil para quem souber usufruir. É um projeto que tem todo o alinhamento visto que fala sobre a transição energética que é um tema universal e explicativo .”

Apesar de reconhecer que Cabo Verde tem um certo atraso devido à sua história, o investigador mostrou-se bastante satisfeito com o nível que o país se encontra atualmente.”Estamos no caminho certo,” afirma.

Já Ava Cardoso recebeu a distinção na categoria Cabo Verde Prize for Girls and Women in ICT (PGW), com o trabalho intitulado “Enapor’s logitics of small packages delivery: Evaluation of Porto Grande’s Warehousing system” (Sistema de Entrega de Pequenas Encomendas da Enapor: Avaliação do Sistema de Armazenamento do Porto Grande), para a obtenção do grau de Mestre em Informática e Sistemas.

Ava Cardoso aproveitou o momento para incentivar os mais jovens a apostarem na investigação. “Convido os jovens a apostarem na investigação, pois ao haver uma investigação detalhada com resultados satisfatórios incentivamos uns aos outros a fazer o mesmo e desta forma conseguimos ter respostas de muitas coisas auxiliando assim a comunidade académica do nosso país.”

O Prémio de Ficção Científica João Vário para Jovens Pré‑universitários, destinado aos textos inéditos de ficção científica de jovens pré-universitários, foi para o trabalho intitulado Distantes, uma narrativa ficcional sobre o ano de 2024, do jovem Nelmer Gonçalves, que faz uma alerta à humanidade para a crise ambiental que pode provocar a extinção da vida na terra.

Gonçalves apelou para que todos leiam a narrativa criada a fim de conhecer as suas preocupações ambientais transmitidas no texto e analisarem o que cada um faz de errado no que diz respeito ao ambiente.

“É uma narrativa bastante interessante e ao mesmo tempo real, eu mesmo fiquei surpreendido com aquilo que fiz. Convido a todos para que conheçam e tentem fazer melhor aquilo que está a ser feito de forma errada a fim de preservarmos o nosso ambiente.”

Fundação para a Ciência, Inovação e Tecnologia

Para finalizar, a Secretária de Estado do Ensino Superior, Eurídice Monteiro afirmou que o Governo “está a trabalhar para criar uma Fundação para a Ciência, Inovação e Tecnologia”, realçando que esta fundação vai articular todo trabalho a nível nacional e internacional para produção científica.

“Se nós não tivermos uma estrutura e mecanismo nacional próprio, nós não teremos formas de articular com outras instituições estrangeiras nem teremos uma base nacional estruturada para poder gerir a carreira acadêmica e científica.”

A governante destacou a importância de se apostar na ciência a fim de ajudar o país na qualificação do sistema de ensino superior. “Não existe qualidade no ensino superior e na educação, no geral, sem uma aposta assertiva no conhecimento. É um apelo que estamos a fazer porque muitas vezes as pessoas acham que investir na ciência não é prioritário.”

De salientar que o valor global de cada um dos prémios é de um milhão e quinhentos mil escudos, sendo que o rendimento de propriedade intelectual é de quinhentos mil escudos, igual ao valor para a promoção e divulgação dos resultados do projeto em Cabo Verde, e a terceira parcela de quinhentos mil escudos será reservada para a internacionalização do trabalho premiado.

O concurso para a edição de 2024 dos Prémios Científicos começa no próximo dia 1 de dezembro e vai até 31 de março de 2024.

Leinira Furtado/ Estagiária